São Paulo, domingo, 08 de fevereiro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Italiano relata proximidade com seu algoz

DA REPORTAGEM LOCAL

Em seu livro "Minha Fuga Sem Fim", Cesare Battisti faz mais do que dar a sua versão sobre os crimes de que é acusado. Revela que manteve no passado relação de caráter sexual com seu principal algoz: Pietro Mutti. Battisti relata que conheceu Mutti ao se filiar ao PAC (Proletários Armados pelo Comunismo).
"Sempre que nos encontrávamos, ficava algo no ar. Como entre a garota e o garoto que sabem que vão acabar juntos, mas adiam ao máximo o momento", diz. Battisti rejeita alusões à homossexualidade. "Não encontro comparação mais ilustrativa para explicar esse embaraço." A tensão durou até o dia em que saíram para beber, para discutir como levantar fundos para o movimento.
"Naquela noite, fomos a um restaurante e depois passamos um bom tempo num bar de vinhos. Pietro Mutti era bom de copo, eu fazia o possível. Falamos de tudo, menos de dinheiro. No dia seguinte, acordei na cama dele. Ele tinha saído para trabalhar, os lençóis estavam com cheiro de uma mulher."
Battisti conta que, depois de algum tempo, passaram a partilhar as noitadas no bar e, às vezes, "a mesma cama e a mesma garota". "O vinho abolia as minhas reticências e a cama era suficientemente grande para três", afirma. A mulher, segundo o escritor, era a esposa de Mutti.
"Estavam casados havia dois anos. Ele queria um filho, mas ela não. Era determinada, na voz como na cama. Exatamente o contrário do marido." Battisti apresenta Mutti de forma contraditória. A relação de ambos foi intensa e acabou com uma forte briga quando Battisti lhe disse que deixaria o PAC.
Mutti foi preso, mas conseguiu reduzir a pena com delação premiada. Hoje está livre e acusa Battisti de participação em quatro assassinatos. O italiano, que ganhou status de refugiado no Brasil, acusa o ex-companheiro de mentir em juízo e se diz alvo de um ódio injustificado.
"Antes de chegar à cama da mulher dele, foi preciso que nos encarássemos, olhos nos olhos, até explodir. Foi preciso eu abrir para ele até minha última gaveta, para que ele pudesse explorar, uma a uma, todas aquelas caras de squatters que eu guardava na alma. Eu não sabia como dizer que, para mim, e até nos olhos dele, ainda era aquilo mesmo, os PAC, e ele que fosse se danar com aquela conversa sobre violência."


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Jânio de Freitas: Com toda a liberdade
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.