São Paulo, quinta-feira, 08 de março de 2007

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Lula cita igreja para criticar hipocrisia

No Rio, presidente diz que sexo tem de deixar de ser tabu para que se possa combater Aids e gravidez precoce; CNBB não se pronuncia

Petista defende distribuição de preservativos e afirma que alguns temas deixam de ser debatidos de forma verdadeira por preconceito


SÉRGIO RANGEL
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem, no Rio, que o sexo precisa deixar de ser tabu em casa e nas escolas do país para que se possa combater com sucesso a Aids e a gravidez precoce.
O presidente defendeu o fim "da hipocrisia neste país" e fez crítica velada ao posicionamento da igreja sobre sexo.
""Preservativo tem que ser doado e ensinado como usar. Sexo tem que ser feito e ensinado como fazer. Somente assim nós seremos um país livre da Aids e de outras doenças infecciosas", disse ele, no lançamento da campanha do governo federal para a proteção da mulher contra a Aids.
O presidente citou diretamente a igreja ao se dirigir à ministra Nilcéia Freire (Políticas para as Mulheres). "No próximo Dia Internacional da Mulher, [vamos] fazer o dia da hipocrisia. (...) Hipocrisia porque muitas vezes deixamos de debater os temas da forma verdadeira, como tem que ser debatido, por puro preconceito. Minha mãe não gosta, meu pai não gosta, a igreja não gosta, não sei quem não gosta", afirmou.
A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) não quis se pronunciar ontem sobre as declarações.
Ao comentar o crescimento de casos de Aids entre mulheres, o presidente disse que a doença deixou de ser ""frescura". ""Acabaram o tabu e a frescura de ficar transferindo responsabilidade. A Aids é uma doença de todos nós."
O presidente disse ainda que as pessoas costumam ser modernas no discurso, mas não têm coragem de conversar com os filhos sobre sexo, "uma coisa que quase todo mundo gosta".
"[Sexo] é uma necessidade orgânica, uma necessidade da espécie humana e da espécie animal. Como não temos controle disso, o que precisamos é educar no momento certo."
No evento, o presidente defendeu a igualdade entre os sexos. ""É preciso que haja uma evolução na qualidade da massa encefálica que temos dentro do cérebro para compreender a importância da convivência entre homens e mulheres", disse.

Terceira jornada
À tarde, acompanhado do governador Sérgio Cabral Filho (PMDB), o presidente participou do lançamento da ONG Rio Solidário e da Casa do Abrigo, que combatem a violência contra a mulher.
Lula disse que o problema está em todas as classes. "Tem mulher rica apanhando de marido rico, tem mulher de classe média apanhando de marido de classe média e tem pobre apanhando de pobre", afirmou.
"No meio dos pobres, a mulher fica dependente do marido. Às vezes, ela tem dois, três, quatro filhos, às vezes ela não trabalha, às vezes é uma mulher pobre que veio de outro Estado, às vezes trabalha de empregada doméstica. Quando chega em casa, além da dupla jornada, ainda tem a terceira jornada, que é apanhar do marido", afirmou.


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