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Lula cita igreja para criticar hipocrisia
No Rio, presidente diz que sexo tem de deixar de ser tabu para que se possa combater Aids e gravidez precoce; CNBB não se pronuncia
Petista defende distribuição de preservativos e afirma que alguns temas deixam de ser debatidos de forma verdadeira por preconceito
SÉRGIO RANGEL
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem, no
Rio, que o sexo precisa deixar
de ser tabu em casa e nas escolas do país para que se possa
combater com sucesso a Aids e
a gravidez precoce.
O presidente defendeu o fim
"da hipocrisia neste país" e fez
crítica velada ao posicionamento da igreja sobre sexo.
""Preservativo tem que ser
doado e ensinado como usar.
Sexo tem que ser feito e ensinado como fazer. Somente assim
nós seremos um país livre da
Aids e de outras doenças infecciosas", disse ele, no lançamento da campanha do governo federal para a proteção da mulher contra a Aids.
O presidente citou diretamente a igreja ao se dirigir à ministra Nilcéia Freire (Políticas
para as Mulheres). "No próximo Dia Internacional da Mulher, [vamos] fazer o dia da hipocrisia. (...) Hipocrisia porque
muitas vezes deixamos de debater os temas da forma verdadeira, como tem que ser debatido, por puro preconceito. Minha mãe não gosta, meu pai não
gosta, a igreja não gosta, não sei
quem não gosta", afirmou.
A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) não
quis se pronunciar ontem sobre as declarações.
Ao comentar o crescimento
de casos de Aids entre mulheres, o presidente disse que a
doença deixou de ser ""frescura". ""Acabaram o tabu e a frescura de ficar transferindo responsabilidade. A Aids é uma
doença de todos nós."
O presidente disse ainda que
as pessoas costumam ser modernas no discurso, mas não
têm coragem de conversar com
os filhos sobre sexo, "uma coisa
que quase todo mundo gosta".
"[Sexo] é uma necessidade
orgânica, uma necessidade da
espécie humana e da espécie
animal. Como não temos controle disso, o que precisamos é
educar no momento certo."
No evento, o presidente defendeu a igualdade entre os sexos. ""É preciso que haja uma
evolução na qualidade da massa encefálica que temos dentro
do cérebro para compreender a
importância da convivência entre homens e mulheres", disse.
Terceira jornada
À tarde, acompanhado do governador Sérgio Cabral Filho
(PMDB), o presidente participou do lançamento da ONG Rio
Solidário e da Casa do Abrigo,
que combatem a violência contra a mulher.
Lula disse que o problema está em todas as classes. "Tem
mulher rica apanhando de marido rico, tem mulher de classe
média apanhando de marido de
classe média e tem pobre apanhando de pobre", afirmou.
"No meio dos pobres, a mulher fica dependente do marido. Às vezes, ela tem dois, três,
quatro filhos, às vezes ela não
trabalha, às vezes é uma mulher pobre que veio de outro
Estado, às vezes trabalha de
empregada doméstica. Quando
chega em casa, além da dupla
jornada, ainda tem a terceira
jornada, que é apanhar do marido", afirmou.
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