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Polícia "não pode entrar batendo", diz Lula
Presidente lembrou passado com ratos e baratas e afirmou que não roubou maçã para não envergonhar mãe
LUIZ FERNANDO VIANNA
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
O presidente Lula criticou a
truculência policial nas invasões de favelas e buscou ressaltar sua identificação com os
moradores das comunidades
durante as solenidades que
marcaram o início das obras do
PAC no Alemão, em Manguinhos e na Rocinha.
Ao lado do governador Sérgio
Cabral (PMDB) -em cujo governo o número de mortes cometidas por policiais aumentou 27,3% de 2006 para 2007-
Lula defendeu "uma intervenção muito pesada do governo,
mas não uma intervenção com
a polícia, não uma intervenção
para fazer guerra, além das
guerras que as pessoas já têm".
"[A polícia] não pode entrar
batendo em todo mundo. Senão, nós partimos do pressuposto de que todo mundo é
bandido até prova em contrário, quando, na verdade, todo
mundo é inocente até prova em
contrário", afirmou na Rocinha. "Bandido não é para ser
tratado com pétalas de rosa,
mas a polícia precisa saber que,
além de bandidos, têm homens,
mulheres e crianças que só
querem viver condignamente",
disse no Alemão.
Nos discursos, ele buscou reforçar a identificação entre ele
e os ouvintes. "Eu sou filho de
uma mulher que nasceu e morreu analfabeta, sou filho de
uma mulher que morou em lugar que dava enchente de 1,5m
dentro de casa. Acordava à
meia-noite com rato, barata, fezes dentro do quarto", discursou Lula em Manguinhos.
Lula foi muito aplaudido pelos moradores nas três ocasiões
em que abordou a violência policial. Perto dos locais das cerimônias, faixas pediam paz.
Aos jovens Lula disse que o
desemprego não é razão para
trabalhar para a bandidagem.
Disse que, na infância, teve
vontade de roubar uma maçã
para comer, mas resistiu para
não envergonhar a mãe.
Na Rocinha, o presidente da
União Pró-Melhoramentos da
favela, Luiz Cláudio Oliveira,
pediu um minuto de silêncio
em homenagem a Ágata Marques dos Santos, 11, morta no
dia 15 -segundo os pais, pela
polícia, que nega. Todas as autoridades ficaram de pé. Lula
soltou uma pomba branca.
No Alemão, bandeiras e balões brancos simbolizavam o
que desejam os moradores, ainda abaladas pelo ocorrido em
27 de junho, quando 19 pessoas,
parte delas sem ligação com o
tráfico, morreram numa operação com 1.350 policiais.
"Fiquei com 37 crianças dentro de uma casa sem poder sair,
das 9h30 às 17h. E elas desenham coisas terríveis, têm muito medo do Caveirão [o blindado da polícia]. Eu espero que o
PAC sirva para elas aprenderem que é possível ter esperança", disse Heloísa Ribeiro, que
dá aulas em uma ONG.
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