São Paulo, sábado, 08 de março de 2008

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Paulinho critica reportagem sobre convênios do Trabalho

Leia a carta do deputado e a resposta do jornalista

DA REDAÇÃO

Leia a seguir a carta endereçada à Folha pelo deputado federal e presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, e a resposta do jornalista Fernando Canzian:

 
"Eu leio a Folha de S.Paulo todos os dias, juntamente com outros jornais, para me informar. Posso assegurar que até outro dia eu tinha a Folha como um veículo pautado pelo bom senso e pelo bom jornalismo. No momento, sinto-me inseguro como fonte e como leitor: como acreditar num jornal que tem em seus quadros pelo menos um jornalista, Fernando Canzian, que quase todos os dias insiste em publicar erros e insinuações malévolas a meu respeito e à entidade que presido?
Sei que não cabe a mim avaliar a capacidade profissional dos profissionais que uma empresa contrata. Mas eu mandaria um bom profissional do ramo fazer um "checking" nas reportagens que este senhor assina. Aproveito para informar que estou enviando cópia desta carta para o ombudsman. Os leitores precisam saber que tipo de "informação" estão consumindo.
Muitos jornalistas desta casa sabem com que carinho e respeito eu sempre os atendi, pessoalmente e por telefone. Agora, no entanto, não posso me calar diante da insidiosa campanha movida por este jornalista, que se baseia em "denúncias" e "informações" de fontes ocultas, mas que eu conheço bem. Sei muito bem o que fiz e faço, e o que faz a entidade que presido.
Durante toda a minha vida pública, de dirigente de entidades ligadas aos trabalhadores, mantive uma amizade baseada na cordialidade, no respeito e no fraternal diálogo com o saudoso sr. Octavio Frias. Homem democrático, generoso, tolerante, de espírito voltado para o bem público, o sr. Frias inclusive era meu conselheiro. Quantas vezes ele me alertou para erros que eu poderia cometer. Aprendi com o sr. Frias a ser sensato e ponderado. Sou grato pelo carinho com que me orientou. Ele não temia dialogar com os movimentos sociais, pois via neles um pilar importante para a democracia.
Muitas vezes fui duramente criticado pela Folha de S.Paulo por determinadas posições políticas. Aceitei as críticas por acreditar que o debate de idéias e o contraditório estão na base da democracia. Mas como aceitar as mentiras e os erros propagados por este repórter? Ele insiste em repetir, como uma espécie de Goebbels, as mesmas mentiras que tenta transformar em verdade: que a Força Sindical é "ligada" a ONGs que estariam "ligadas" também a meu partido, o PDT, ONGs estas que fazem convênios com o Ministério do Trabalho, cujo ministro, Carlos Lupi, é também do PDT.
Reafirmei através de minha assessoria e em carta enviada à Folha que a Força Sindical não tem nenhum convênio com o ministério nem "ligação" com qualquer ONG. Um dos institutos educacionais que conveniou com o ministério aluga instalações em sindicatos de qualquer central sindical aos quais presta serviços. Um desses é o dos Metalúrgicos de São Paulo, proprietário do Palácio do Trabalhador, na rua Galvão Bueno, 782, em São Paulo. A Força Sindical aluga, neste prédio, um andar inteiro (o 9º). O tal instituto -que, sim, no passado prestou serviços à Força- legalmente aluga três andares. O que a Força Sindical tem a ver com isso?
O mesmo repórter insiste em repetir sempre que a Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos, CNTM, filiada, sim, à Força Sindical, apresentou ao MTE proposta adequada, aliás, de assumir totalmente a gestão de duas unidades de atendimento ao trabalhador hoje geridas, APENAS FINANCEIRAMENTE, pela Prefeitura de São Paulo e, NA PRÁTICA, pela Força Sindical, com a qual esta prefeitura tem um "termo de cooperação" assinado pelo então prefeito José Serra e por mim, e em pleno vigor, até 2009. Um erro no estudo preliminar em que se baseou o pedido levou a Folha a concluir, insensatamente, que a proposta contém um valor "superfaturado" (expressão da Folha) para os serviços hoje prestados (parcialmente) pela prefeitura. Tanto a CNTM quanto o Ministério do Trabalho já esclareceram o assunto, mas a Folha insiste em repetir que o valor é "superfaturado". Pior: vários jornais copiaram a Folha e repetiram o erro brutal!
Chega-se ao exagero de publicar um infográfico no jornal de domingo (3 de março) com o título "O caminho do dinheiro". Vejam só o absurdo: o infográfico apresenta claramente o Ministério do Trabalho como início da fonte do dinheiro, em seguida os nomes das entidades executoras dos convênios e, finalmente (com destaque de cor), o símbolo da Força Sindical. Tudo induz o leitor a pensar que o dinheiro chega à Força Sindical. Sejamos razoáveis: é a mais completa mentira!
Como não ver tais atitudes como implacável perseguição política? A quem eu poderia recorrer, senão à Justiça, para tentar reparar esses erros que a Folha autoritariamente se recusa a admitir? Se eu, diante do sr. Frias, admitia meus erros, por que não pode a Folha, diante de fatos e argumentos, também admitir os seus?
No editorial de hoje (7 de março), finalmente, a Folha afirma que não estou "interessado em participar de um debate a respeito do assunto". Aceito, sim, o debate, mas de forma transparente e desarmada, ao contrário do que está fazendo o repórter Fernando Canzian.
Todo mundo sabe o quanto é difícil, para uma personalidade pública, entrar com ações judiciais contra órgãos de imprensa. Ficam marcadas para o resto da vida. Apesar disso, estou, sim, buscando reparações judiciais para evitar o linchamento público de minha pessoa e da entidade que presido, assim como dos mais de mil sindicatos filiados.
Não me recuso, jamais, a dialogar com a Folha ou qualquer outro jornal. Para dialogar com a Folha eu preciso, no mínimo, que o jornal, num esforço de bom jornalismo, admita os erros de seu repórter. Não porque estou afirmando que ele errou, mas determinando que um profissional isento verifique os fatos. A verdade, até onde eu sei, é uma só.
Cordialmente (de verdade),
Paulo Pereira da Silva
Presidente da Força Sindical

Resposta do jornalista Fernando Canzian - Nenhuma reportagem sobre o caso afirmou que a Força Sindical fez convênios diretos com o MTE. Apenas foram evidenciadas as relações entre as entidades e a Força. A central avalizou pelo menos três delas -duas operam no mesmo endereço da Força. Três dos convênios com o MTE acabaram sendo cancelados após reportagem.
Sobre a CNTM, filiada à Força e que faria parte do trabalho no endereço da central, a primeira proposta previa um custo 97% maior do que o Estado de São Paulo gasta com o mesmo trabalho. A proposta foi apresentada à Folha pela própria Força Sindical durante entrevista com assessores da central. Revelada a discrepância em reportagem, houve corte de 31% nos custos inicialmente previstos. Mesmo assim, Estado e Prefeitura de São Paulo são contra o convênio com a CNTM. A decisão cabe agora ao MTE.
Convênios desse tipo estavam suspensos desde 2003 em razão de acórdão do TCU. Havia suspeitas de irregularidades que envolviam a própria Força.
Eles só retornaram após a Resolução 560, do Codefat, órgão do MTE. A 560 foi assinada em novembro pelo recém-empossado presidente do Codefat, Luiz Fernando Emediato. Ele representa a Força no órgão.
Embora procurado diversas vezes nas três últimas semanas, o missivista nunca quis responder diretamente à reportagem.


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