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Em busca de apoio, Lula cria 35 embaixadas desde 2003
Objetivo é conquistar votos em disputas por representação em organismos internacionais
Discurso oficial, porém, é o de que mais embaixadas facilitam uma atmosfera dinâmica que propicia a negociação e o comércio
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com a retórica da busca por
maior visibilidade nas relações
internacionais, o governo do
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva criou 35 embaixadas desde 2003, a maioria na África.
Segundo o Itamaraty, a forte
presença no exterior sinaliza o
desejo do país de "jogar um jogo
mais graúdo" no comércio e
nos organismos internacionais.
Como comparação, cita a
Rússia, que tem população e
PIB (Produto Interno Bruto)
menores do que os do Brasil,
mas tem 145 embaixadas, 101
consulados e 14 missões em organismos internacionais. O
problema dessa comparação é
que a estrutura russa é, em boa
parte, herança dos tempos do
expansionismo soviético. De
todo modo, o Brasil tem 203 representações no exterior, aí incluídas 111 embaixadas. O número de diplomatas também
tem crescido. Eram cerca de
mil diplomatas em 1995 e, hoje,
são 1.401, 734 deles servindo no
Brasil e 667 no exterior.
À Folha o ministro Celso
Amorim (Relações Exteriores)
disse que "a criação de embaixadas, ou representações, cria
uma atmosfera dinâmica que
propicia negociação e comércio", mas reconheceu que há
outros aspectos envolvidos.
Um é o político, pela maior inserção brasileira e conquista de
votos em organismos internacionais. Outro é o de segurança,
já que a presença de países
mais desenvolvidos serviria como fator inibidor, por exemplo,
da expansão do narcotráfico
em países da América Central e
do Caribe.
De fato, as trocas comerciais
em parte dos países que receberam embaixadores brasileiros nos últimos seis anos aumentaram, em comparação
com 2008, principalmente na
África. Em São Tomé e Príncipe, por exemplo, a corrente de
comércio saltou de US$ 388
mil em 2003 a US$ 1,2 milhão.
Mas nem todos os países
confirmam a lógica exposta pelo Itamaraty. Das 35 nações
que receberam embaixadas,
não há, por exemplo, corrente
de comércio em duas delas. Em
outros nove países, as trocas
comerciais diminuíram em
2008, comparado com o ano de
criação das embaixadas.
Em fevereiro, Lula anunciou
a criação de cinco postos, dos
quais quatro no Caribe, todos
ilhas de pequeno porte que,
juntas, somam menos de 350
mil habitantes e que tiveram
comércio de US$ 13,6 milhões
com o Brasil no ano passado.
Para estar presente nas quatro
nações do Caribe, o Itamaraty
diz que o Brasil desembolsará
US$ 1,8 milhão em 2009, excluindo salário dos diplomatas.
O Brasil diz que a região é estratégica, por dispor de acordos
de livre-comércio com os EUA.
Especialistas em comércio exterior são menos generosos.
Dizem que estas vantagens podem ser obtidas em nações da
América Central, onde o Brasil
já conta com representação.
Apesar do argumento do comércio, o governo Lula não esconde que a expansão de seu
corpo diplomático pelo exterior obedece a uma lógica política, que tem na ambição por
uma vaga de membro permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas um de
seus principais sustentáculos.
O Brasil, nos últimos anos,
tentou emplacar representantes em organizações mundiais,
e obteve ao menos duas derrotas expressivas: no caso da disputa para a direção geral da Organização Mundial do Comércio, onde o candidato era o embaixador Seixas Correia, e no
da presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento, com o ex-ministro João
Sayad como candidato.
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