São Paulo, segunda-feira, 08 de março de 2010

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Planalto paga pesquisa sobre trunfos eleitorais de Dilma

Estudos de R$ 2 mi medem popularidade de programas associados à ministra, como PAC

Relatórios apontam que população desconhece vitrines; PAC tem caráter abstrato e não foi alvo de publicidade, diz Secom

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Palácio do Planalto pagou R$ 2 milhões por pesquisas que aferem a popularidade de programas de governo e, em especial, de ações às quais a imagem da pré-candidata petista, Dilma Rousseff, está mais associada. Relatórios traçados por um especialista em comportamento eleitoral indicam "patamares elevados de desconhecimento" de vitrines do governo, como o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e o pré-sal.
Os estudos foram iniciados em 2009, sob encomenda da Secretaria de Comunicação da Presidência. Os resultados são estratégicos para delinear a plataforma eleitoral da ministra da Casa Civil. A Folha teve acesso aos questionários e relatórios das pesquisas após reclamar formalmente o direito de acesso a dados públicos.
"Eu diria que sempre é um subsídio, é claro", afirmou o diretor-presidente do Instituto Meta, Flávio Eduardo Silveira, sobre a contribuição das pesquisas para a tática de Dilma.
O sociólogo avalia que falta ao PAC uma identidade mais próxima da população, como ocorre no caso do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, por exemplo, também objeto das pesquisas. "Fica algo muito abstrato", disse.
Essa palavra é a mesma usada pelo secretário-executivo da Secom, Ottoni Fernandes Júnior, ao tentar justificar o desconhecimento do PAC: "É um programa que tem caráter abstrato e não estava no centro da publicidade institucional".
A lembrança da propaganda oficial do PAC foi considerada "escassa" em relatório de pesquisa qualitativa de maio, que recorreu a entrevistas mais aprofundadas. Essa pesquisa detectou "forte desconfiança", principalmente entre os mais ricos, em relação ao programa.

Programa eleitoreiro
Alguns participantes sugeriram que o PAC era eleitoreiro. "De certa forma, ele está usando o PAC para eleger a Dilma", relata o Instituto Meta, na única vez em que o nome da pré-candidata aparece nos questionários ou relatórios de análise.
O relatório de novembro diz que, entre os que já tinham ouvido falar do programa (menos de metade dos entrevistados), mais de 70% não conhecem suas obras. O dado "indicou a manutenção de patamares elevados de desconhecimento".
Percentual semelhante da população manifestou conhecer o programa que pretende financiar um milhão de moradias até o fim do ano para famílias com renda de até R$ 4.900.
O mais recente relatório diz que a avaliação positiva do governo se concentra nas famílias com renda de até dois salários mínimos e nas regiões Norte e Nordeste. A avaliação tanto de Lula como do governo cai à medida em que aumenta a renda.
O motivo que mais pesou na avaliação negativa foi a corrupção. O relatório de novembro atribuiu o fato à crise no Senado, "em função do apoio público do presidente Lula a Sarney, principal alvo das denúncias".
O responsável pelo levantamento arrisca palpites sobre a candidatura Dilma e diz crer em uma disputa acirrada. "Não se sabe ao certo o teto do crescimento [de Dilma] e isso vai depender de vários fatores, como a transferência de votos de Lula", disse Flávio Silveira.


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