São Paulo, sábado, 08 de abril de 2006

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ESCÂNDALO DO MENSALÃO/ O RELATÓRIO

Senador afirma que irá se defender para ficar no partido e promete livro sobre CPI

Terão de me "sangrar" para me tirar do PT, diz Delcídio

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois do desgaste sofrido por ter mantido no relatório final da CPI dos Correios a afirmação de que existiu o mensalão, o senador Delcídio Amaral (PT-MS) disse que vai lutar até o final se alguém no partido propuser a sua expulsão. "Terão de me sangrar até a morte", afirmou o petista.
Se perder a legenda, ficará impossibilitado de disputar o governo do Mato Grosso do Sul. "Nesse caso, vou para a Alemanha assistir à Copa do Mundo."
Delcício se disse tranqüilo quanto às pressões e reações de integrantes do PT insatisfeitos com o resultado do relatório. Para ele, o partido errou de estratégia ao apresentar um documento paralelo ao do relator Osmar Serraglio (PMDB-PR).
Para registrar tudo aquilo que viu e ouviu nos nove meses em que conduziu as investigações na CPI, o senador planeja escrever um livro. Disse ter feito registro das conversas que teve com parlamentares, executivos, empresários e integrantes do governo, inclusive com gravações. Leia os principais trechos da entrevista:
 

Folha - Como foram esses nove meses de CPI?
Delcídio Amaral
- Foram de um trabalho intenso, de uma tensão enorme. Conheci verdadeiramente muitas pessoas, suas virtudes e defeitos. Foi uma aula de sociologia que eu tive nesses nove meses. Senti claramente o que é assumir uma atitude de isenção, de equilíbrio, resistindo a pressões de todos os lados. Vou escrever um livro sobre tudo aquilo a que assisti, tudo aquilo que vi e ouvi, em muitas conversas.

Folha - As pressões vieram de dentro do partido, de fora, do governo?
Delcídio
- As pressões que nós sofremos ao longo desse período são pressões que fazem parte do processo. Não é só pressão de partido político mas também de empresas, de dirigentes de empresas.

Folha - Como o sr. tem lidado com as críticas do PT?
Delcídio
- Com absoluta tranqüilidade, até porque eu segui ipsis litteris o regimento do Senado. Mas às vezes não compreendo determinadas reações mais agressivas. Às vezes essa insegurança e essa instabilidade me levam até a entender que poderiam existir outras razões que não as de regimentos para esse destempero.

Folha - O sr. se refere ao deputado Jorge Bittar (PT-RJ, que xingou Delcídio na votação do relatório)?
Delcídio
- Eu não quero personalizar, mas talvez o Bittar tenha representado de uma maneira mais enfática essa reação.

Folha - O sr. teme ser expulso do partido?
Delcídio
- Acho essa hipótese remota, mas, se for isso, vou me defender. Não tenho nenhuma preocupação porque não devo nada. Procurei fazer tudo com transparência. Se alguém questionar esse comportamento, eu vou às últimas instâncias. Vão ter que me sangrar até a morte.

Folha - O livro trará informações que a CPI não divulgou?
Delcídio
- Essa é uma avaliação que eu ainda vou fazer, até porque eu gravei todos os dias, todos os contatos, tudo aquilo que vi.

Folha - As conversas, inclusive?
Delcídio
- Das conversas que tive, as conversas... Será um relato fiel, muito sincero de tudo aquilo que aconteceu. Se vai existir alguma novidade ou não, isso só na hora de abrir o livro.

Folha - O leitor vai se surpreender com referências a certas pessoas?
Delcídio
- Eu acho que sim, porque meu nível de informação sobre tudo o que aconteceu é maior do que o dos demais.

Folha - O sr. se refere também a membros do governo?
Delcídio
- De um caráter geral, porque eu registrei tudo, incluindo parlamentares, executivos, empresários e pessoas do governo. Será um documento histórico.

Folha - E a lista com novos parlamentares supostamente relacionados ao "valerioduto", por que não foi incluída no relatório final?
Delcídio
- Primeiro porque não era atribuição da CPI dos Correios. A CPI do Mensalão era que precisava fazer esse trabalho, mas não fez. De qualquer maneira, nós fizemos alguns cruzamentos, mas já na reta final. Como não havia tempo de fazer uma investigação mais detalhada, nós entendemos que seria melhor encaminhar a lista ao Ministério Público para que conclua a análise.


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