Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO MENSALÃO/ O RELATÓRIO
Senador afirma que irá se defender para ficar no partido e promete livro sobre CPI
Terão de me "sangrar" para me tirar do PT, diz Delcídio
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois do desgaste sofrido por
ter mantido no relatório final da
CPI dos Correios a afirmação de
que existiu o mensalão, o senador
Delcídio Amaral (PT-MS) disse
que vai lutar até o final se alguém
no partido propuser a sua expulsão. "Terão de me sangrar até a
morte", afirmou o petista.
Se perder a legenda, ficará impossibilitado de disputar o governo do Mato Grosso do Sul. "Nesse
caso, vou para a Alemanha assistir à Copa do Mundo."
Delcício se disse tranqüilo
quanto às pressões e reações de
integrantes do PT insatisfeitos
com o resultado do relatório. Para
ele, o partido errou de estratégia
ao apresentar um documento paralelo ao do relator Osmar Serraglio (PMDB-PR).
Para registrar tudo aquilo que
viu e ouviu nos nove meses em
que conduziu as investigações na
CPI, o senador planeja escrever
um livro. Disse ter feito registro
das conversas que teve com parlamentares, executivos, empresários e integrantes do governo, inclusive com gravações. Leia os
principais trechos da entrevista:
Folha - Como foram esses nove
meses de CPI?
Delcídio Amaral - Foram de um
trabalho intenso, de uma tensão
enorme. Conheci verdadeiramente muitas pessoas, suas virtudes e defeitos. Foi uma aula de sociologia que eu tive nesses nove
meses. Senti claramente o que é
assumir uma atitude de isenção,
de equilíbrio, resistindo a pressões de todos os lados. Vou escrever um livro sobre tudo aquilo a
que assisti, tudo aquilo que vi e
ouvi, em muitas conversas.
Folha - As pressões vieram de
dentro do partido, de fora, do governo?
Delcídio - As pressões que nós
sofremos ao longo desse período
são pressões que fazem parte do
processo. Não é só pressão de partido político mas também de empresas, de dirigentes de empresas.
Folha - Como o sr. tem lidado com
as críticas do PT?
Delcídio - Com absoluta tranqüilidade, até porque eu segui ipsis litteris o regimento do Senado.
Mas às vezes não compreendo determinadas reações mais agressivas. Às vezes essa insegurança e
essa instabilidade me levam até a
entender que poderiam existir
outras razões que não as de regimentos para esse destempero.
Folha - O sr. se refere ao deputado Jorge Bittar (PT-RJ, que xingou
Delcídio na votação do relatório)?
Delcídio - Eu não quero personalizar, mas talvez o Bittar tenha
representado de uma maneira
mais enfática essa reação.
Folha - O sr. teme ser expulso do
partido?
Delcídio - Acho essa hipótese remota, mas, se for isso, vou me defender. Não tenho nenhuma
preocupação porque não devo
nada. Procurei fazer tudo com
transparência. Se alguém questionar esse comportamento, eu vou
às últimas instâncias. Vão ter que
me sangrar até a morte.
Folha - O livro trará informações
que a CPI não divulgou?
Delcídio - Essa é uma avaliação
que eu ainda vou fazer, até porque
eu gravei todos os dias, todos os
contatos, tudo aquilo que vi.
Folha - As conversas, inclusive?
Delcídio - Das conversas que tive, as conversas... Será um relato
fiel, muito sincero de tudo aquilo
que aconteceu. Se vai existir alguma novidade ou não, isso só na
hora de abrir o livro.
Folha - O leitor vai se surpreender
com referências a certas pessoas?
Delcídio - Eu acho que sim, porque meu nível de informação sobre tudo o que aconteceu é maior
do que o dos demais.
Folha - O sr. se refere também a
membros do governo?
Delcídio - De um caráter geral,
porque eu registrei tudo, incluindo parlamentares, executivos,
empresários e pessoas do governo. Será um documento histórico.
Folha - E a lista com novos parlamentares supostamente relacionados ao "valerioduto", por que não
foi incluída no relatório final?
Delcídio - Primeiro porque não
era atribuição da CPI dos Correios. A CPI do Mensalão era que
precisava fazer esse trabalho, mas
não fez. De qualquer maneira, nós
fizemos alguns cruzamentos, mas
já na reta final. Como não havia
tempo de fazer uma investigação
mais detalhada, nós entendemos
que seria melhor encaminhar a
lista ao Ministério Público para
que conclua a análise.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Memória: Quando necessário, presidente atropela os interesses do PT Índice
|