São Paulo, domingo, 08 de abril de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Aumenta apoio à pena de morte entre os brasileiros

55% são favoráveis à punição, aponta Datafolha; índice iguala recorde registrado em 93

Outros 40% são contra mudança na lei; na pesquisa anterior, feita em agosto do ano passado, 51% apoiavam a instituição da pena capital


RODRIGO RÖTZSCH
DA REDAÇÃO

Pesquisa Datafolha mostra que voltou ao maior índice histórico o apoio da população à adoção da pena de morte no Brasil. Entre os entrevistados, 55% se disseram favoráveis à pena de morte, enquanto 40% são contra a prática.
O levantamento foi feito nos dias 19 e 20 de março. Na pesquisa anterior, feita em agosto do ano passado, 51% eram favoráveis à adoção da pena de morte, e 42%, contrários.
O índice de apoio à punição registrado agora iguala o de fevereiro de 1993 como maior desde que o Datafolha começou sua série de pesquisas sobre o tema, em 1991.
O Datafolha havia mostrado há duas semanas que a violência, com 31% das menções, superou o desemprego como maior problema do país na opinião dos entrevistados.
Para o diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, os dois números não estão necessariamente interligados. "Esse apoio majoritário à pena de morte já é histórico. Neste momento cresceu um pouco, mas não apenas porque cresceu a percepção de violência. Entre os que apontam a violência como principal problema, a taxa de apoio à pena de morte é exatamente a mesma da média."
Desde 91, o Datafolha fez dez pesquisas sondando a opinião dos brasileiros sobre a pena de morte. Em nenhuma delas, o apoio à punição foi inferior a 48%, e sempre houve mais favoráveis do que contrários.
Para a pesquisadora Viviane de Oliveira Cubas, do Núcleo de Estudos da Violência da USP, porém, "o momento é muito significativo para o resultado".
Desde o assassinato do menino João Hélio Fernandes, em fevereiro, aumentou a mobilização popular e a repercussão na mídia do tema insegurança pública. O Congresso pôs em pauta um pacote de projetos de alteração na legislação penal.
"Não só a agenda da mídia está dando mais atenção ao tema mas também há a sensação de insegurança das pessoas, que têm contato com outras pessoas que sofreram violência. Normalmente quando você faz pesquisas em um momento de crise, os resultados despontam", afirma Cubas.
O professor de filosofia Renato Janine Ribeiro, da USP, que escreveu polêmico artigo para a Folha em que dizia que o caso João Hélio o fazia repensar a punição a assassinos, não quis comentar o resultado da pesquisa. "Tenho razões suficientes para ser contra a pena de morte", limitou-se a dizer.

Divisão por renda
Um dado que chama atenção é que o apoio à pena de morte é maior entre os entrevistados com renda familiar superior a dez salários mínimos mensais: 64%, 13 pontos a mais que em agosto. O menor índice está entre os que ganham até dois salários mínimos: 52%.
Para o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), para quem "a deterioração da segurança pública" explica o apoio maciço à pena de morte, a diferença pode ser explicada pelo fato de os mais ricos temerem mais a violência, enquanto outra parte da população "pode se sentir mais ameaçada por erros jurídicos".
A pesquisa mostra também o crescimento ao ap oio à pena de morte no Rio de Janeiro. Em maio de 2006, eram 38% os favoráveis à punição no Estado. O índice subiu para 45% em agosto e chegou a 51% agora. É igual ao de Minas Gerais, mas menor que os 57% de São Paulo.
Por região, o Sul tem o maior índice pró-adoção da pena: 66% são favoráveis, contra 57% no Norte e Centro-Oeste, 54% no Sudeste e 48% no Nordeste.
O Datafolha ouviu 5.700 pessoas em 25 Unidades da Federação. A margem de erro é de dois pontos percentuais.


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Eutanásia é reprovada por 57% da população, aponta pesquisa
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.