São Paulo, quinta-feira, 08 de abril de 2010

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PF prende "aloprado" por suspeita de desvio

Operação apura atuação de Valdebran Padilha em esquema que causou rombo de R$ 200 mi em Funasa, FNS e Ministério das Cidades

Defesa de Padilha diz que a prisão é "ilegal"; a Justiça expediu 35 mandados de prisão temporária e 76 de busca e apreensão


RODRIGO VARGAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CUIABÁ

Uma operação deflagrada pela Polícia Federal prendeu ontem o "aloprado" Valdebran Padilha e seu irmão Waldemir Padilha por suspeita de envolvimento em um esquema que desviou ao menos R$ 51 milhões, segundo auditorias da CGU (Controladoria-Geral da União). Segundo a PF, o rombo é estimado em R$ 200 milhões.
Os recursos foram desviados, de acordo com a investigação, da Funasa (Fundação Nacional de Saúde), do FNS (Fundo Nacional de Saúde) e do Ministério das Cidades.
Valdebran foi um dos presos em flagrante no episódio da frustrada negociação de um dossiê contra políticos do PSDB pouco antes do primeiro turno da eleição presidencial de 2006. Na ocasião, o presidente Lula chamou os envolvidos de "aloprados".
A prisão de ontem está relacionada a uma investigação que começou em 2007 e apurou crimes de formação de quadrilha, estelionato, fraude em licitações, lavagem, corrupção ativa e passiva e peculato.
Foram expedidos pela Justiça Federal 76 mandados de busca e apreensão e 35 de prisão temporária. Até a conclusão desta edição, 31 pessoas haviam sido presas em Mato Grosso, Rondônia, Goiás, Minas Gerais e Distrito Federal.
Entre elas, estão o coordenador regional da Funasa-MT, Marco Antônio Stangherlin, o ex-prefeito de Santo Antônio do Leverger (MT) Faustino Dias (DEM), o secretário-geral do PMDB-MT, Rafael Bastos, e o tesoureiro do PMDB-MT, Carlos Roberto de Miranda.
Também foi preso José Luiz Bezerra, sobrinho do deputado federal Carlos Bezerra, presidente regional do PMDB.
Roger Fernandes, advogado de Valdebran e Waldemir Padilha, ambos empreiteiros em Mato Grosso, disse que a prisão é "ilegal e desnecessária".
Todos fariam, segundo a PF, parte de um esquema organizado em três núcleos para fraudar licitações e a execução de obras e contratos de prestação de serviço. "Além de direcionamento das licitações, constatamos que havia simulação na prestação de serviços", afirmou a delegada Helena Albuquerque, que chefiou o inquérito.
Um dos núcleos funcionava dentro da Funasa e determinava, segundo a PF, a contratação irregular e geralmente superfaturada de serviços como táxi-aéreo e locação de veículos.
Outro grupo atuava para direcionar a execução de obras municipais financiadas com recursos da pasta das Cidades.
O terceiro braço do esquema desviava, por meio de ONGs ligadas à suposta quadrilha, dinheiro de programas como os de Saúde Indígena, Saúde da Família, Samu e Unidades Municipais de Saúde.
A PF não confirmou os nomes dos presos nem deu detalhes sobre os contratos investigados por suspeita de fraude. E não informou o motivo da prisão de parte da direção do PMDB no Estado.
"O que a gente pode dizer é que havia um núcleo de agentes políticos que era responsável pela intermediação das contratações", afirmou a delegada.
A Folha apurou que ao menos dois contratos sob investigação se referem a obras de saneamento realizadas por empresas dos irmãos Valdebran e Waldemir Padilha no município de Santo Antônio do Leverger. Uma delas, orçada em R$ 1.478.123,42, se destinava a ampliar o sistema de abastecimento de água do município.


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