São Paulo, quarta, 8 de abril de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

REFORMA MINISTERIAL
Exigência de notório saber jurídico é corporativista, diz ministro
Calheiros justifica apoio a Collor e diz que une PMDB

Lula Marques/Folha Imagem
Renan Calheiros recebe os cumprimentos do empresário Luiz Estevão, grande amigo do ex-presidente Collor


LUCIO VAZ
LUIZA DAMÉ
da Sucursal de Brasília


O ministro Renan Calheiros (Justiça) assumiu o cargo ontem com duas preocupações básicas: justificar sua participação no governo Collor (1990-92) e promover a unidade do PMDB para garantir o apoio do partido à tentativa de reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso.
"Um dos motivos da minha escolha para o cargo é o fato de eu ter bom trânsito em todas as correntes do partido, incluindo o senador José Sarney (AP) e o presidente Paes de Andrade (CE)", disse Calheiros. Os dois foram derrotados na convenção que rejeitou a tese da candidatura própria.
Calheiros justificou sua atuação como líder do governo Collor. "Fui líder do governo enquanto acreditei. Oito meses depois do governo instalado, eu saí. Divergi e saí. Fui para a oposição. Paguei um preço enorme por isso."

Coerência
O ministro afirmou que a imprensa não trata a questão de forma coerente: "Quantas pessoas ficaram, apagaram as luzes, e a imprensa não se refere a isso? Não elaborei o Plano Collor. Fui o seu operador no Congresso. Quem elaborou o plano está aí e pode falar sobre ele".
Calheiros não quis citar nomes, mas um dos criadores do Plano Collor foi Antonio Kandir, ex-ministro do Planejamento do governo FHC.
Já o atual líder do governo na Câmara, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), defendeu Collor na tribuna no dia em que foi aprovada a abertura do processo de impeachment (29 de setembro de 92).
Calheiros também respondeu às críticas que tem recebido por não ser jurista. "O ministro da Justiça não tem que ser um jurista de livro publicado. Essa crítica é corporativista. Eu sou político. Não tenho títulos, não estou preocupado com títulos", afirmou.
Calheiros afirmou que dentro das suas prioridades estarão "a proteção e a defesa dos direitos humanos e da cidadania".
"Legítima, por exemplo, é a causa dos trabalhadores sem terra. Mas a legitimidade da causa não justifica o sacrifício do império da lei. Não podemos nem iremos condescender com o desrespeito à ordem e à lei", afirmou.
Em seguida, acrescentou: "Este governo não permitirá, em hipótese alguma, a formação do milícias armadas". O ministro estará hoje em Marabá, para acompanhar as buscas dos assassinos dos dois sem-terra mortos na região.
Cerimônia
A cerimônia de transmissão de cargo ao ministro Renan Calheiros foi eclética. Reuniu o presidente do PMDB, Paes de Andrade, defensor da candidatura própria do partido à Presidência, os peemedebistas aliados do Planalto, o governador do Distrito Federal, Cristovam Buarque (PT), e o avalista da "Operação Uruguai", deputado distrital Luiz Estevão (PMDB).
A "Operação Uruguai", um empréstimo de US$ 5 milhões, foi usada pelo ex-presidente Fernando Collor de Mello para justificar os depósitos dos "fantasmas" de Paulo César Farias nas suas contas bancárias.
Houve constrangimento na formação da mesa. Não havia cadeira para o presidente nacional do PMDB, deputado Paes de Andrade (CE), que é contra o apoio do partido ao presidente Fernando Henrique Cardoso.
Paes disse que foi à solenidade por ser amigo pessoal de Calheiros e que a nomeação do peemedebista não vai modificar sua posição política.
Um funcionário do ministério conseguiu uma cadeira às pressas e colocou Paes na primeira fila da mesa. Os líderes do partido na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA), e no Senado, Jader Barbalho (PA), ficaram na segunda fila.
O governador Manoel Gomes de Barros (PTB-AL) e representantes da bancada alagoana, como o deputado Augusto Farias (PFL), irmão de PC Farias, também foram cumprimentar o novo ministro.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.