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ELIO GASPARI
A guerra de dossiês
é uma ótima idéia
Quem avisava amigo era: o
melhor que se podia fazer
para lavar a roupa suja da privataria era a convocação de
uma CPI e o pior que poderia
acontecer ao governo seria uma
faxina paralela à campanha
eleitoral. Deu-se o pior. Nesse cenário de nenhum valor, o tucanato desliza suavemente para a
arrogância dos poderosos que
perderam o senso da medida. Só
isso explica a seguinte frase do
deputado José Aníbal, presidente nacional do PSDB:
"Se quiserem uma guerra de
dossiês, vamos ter uma guerra
de dossiês"."
A choldra que paga o salário
do deputado e desembolsa o ervanário que recheia esses dossiês não quer outra coisa.
Na primeira metade de 1998,
FFHH sabia, com detalhes, que
o empresário Benjamin Steinbruch queixava-se de estar sendo achacado por Ricardo Sérgio
de Oliveira, diretor do Banco do
Brasil que o ajudara a comprar
a Vale do Rio Doce. Uma CPI
poderá esclarecer se Ricardo
Sérgio estava chantageando
Steinbruch ou se Steinbruch estava chantageando o governo.
Importa registrar que em 1998 o
então "barão do aço", símbolo
da renovação empresarial do
tucanato, estava metido numa
briga de acionistas e precisava
do apoio dos fundos de pensão
das estatais para preservar sua
posição na Vale do Rio Doce.
Nessa briga, há claros sinais
de que Steinbruch tenha conseguido evitar a canibalização da
Vale, expressamente defendida
pelo presidente de um de seus
sócios, o Nations Bank. Mais: o
Bradesco tornou-se sócio secreto
do consórcio de Steinbruch contornando a norma legal. Pior:
quem colou o Bradesco no consórcio foi o governo, por meio de
dois pedidos explícitos, daqueles
que banqueiro nacional não
deixa de atender.
A privataria que canibalizou
o Estado brasileiro (para pagar
juros à banca global) teve lances
de ação entre amigos. Steinbruch, herdeiro de uma empresa têxtil sólida, porém média,
comprou a Companhia Siderúrgica Nacional durante o governo Itamar Franco. No reinado
tucano, com a ajuda do Planalto, juntou-se a um grupo de sócios e arrematou a Vale do Rio
Doce. A certa altura, alguns dos
seus parceiros na Vale arremataram milagrosamente a a rede
de 16 operadoras de telefonia
que ia do Rio de Janeiro à fronteira com a Venezuela. O então
ministro das Comunicações,
Luiz Carlos Mendonça de Barros, chamou parte desse consórcio (ou, quem sabe, todo) de "rataiada". O mercado apelidou-os
"telegangue".
FFHH soube, e as fitas do
BNDES mostram isso, que a
Previ estava alavancando o
consórcio da Telemar. Vale lembrar seu diálogo com André Lara Resende, então presidente do
banco. Lara Resende tentava
cortar a aliança da Previ com o
grupo que formara a Telemar:
"André Lara Resende - Então,
o que nós precisaríamos é o seguinte: com o grupo do Opportunity, nós até poderíamos turbiná-lo, via BNDES Par. Mas o
ideal é que a Previ entre com
eles lá.
Fernando Henrique Cardoso -
Com o Opportunity?
Lara Resende - Com o Opportunity e os italianos.
FHC - Certo.
Lara Resende - Perfeito? Porque aí esse grupo está perfeito.
FHC - Mas... e por que não faz
isso?
Lara Resende - Porque a Previ
tá... tá do outro lado.
FHC - A Previ?
(É.)
Lara Resende - Então, nós vamos ter uma reunião aqui, estive falando com o Luiz Carlos,
tem uma reunião hoje aqui às
6h30. Vem aqui aquele pessoal
do Banco do Brasil, o Luiz Carlos etc. Agora, se precisarmos de
uma certa pressão...
FHC - ...Não tenha dúvida.
Lara Resende - A idéia é que
podemos usá-lo aí para isso.
FHC - Não tenha dúvida.
Lara Resende - Tá bom".
A utilização do peso de FFHH
viria a ser chamada por Lara
Resende de "bomba atômica
presidencial". Ela não foi detonada. A Previ foi em frente com
o consórcio Telemar e ganhou a
parada.
(Nesse episódio, envolveram-se autoridades, empresários e
banqueiros reconhecidamente
inteligentes. Cada um à sua maneira reconhece que num determinado momento foi feito de
bobo. Um deles está mentindo.
Quem ou quens, ainda não se
pode garantir.)
Pode-se argumentar que a entrada da Previ no consórcio de
Steinbruch fez com que a Vale
fosse comprada por R$ 3,3 bilhões, com 20% de ágio. Já a Telemar comprou suas 16 operadoras por R$ 3,4 bilhões, raspando o preço mínimo. Vale
lembrar que tanto Steinbruch
quanto a Telemar foram financiados pelo BNDES.
Em maio de 2000, três anos
depois de ter comprado a Vale e
dois depois de suas conversas
com Mendonça de Barros e
Paulo Renato Souza, Steinbruch
deixou a presidência do conselho da empresa. Suas ações foram compradas pelo Bradesco
(que não estava capacitado a
entrar no consórcio) e pela Previ
(que, em tese, entrou só para
ajudar). O BNDES, sempre ele,
financiou uma parte da migração de Steinbruch.
O mais incrível é que tudo isso
tenha acontecido sob as vistas
da patuléia e os sábios do tucanato não pressentiram o tamanho da confusão em que se meteram.
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