São Paulo, sábado, 08 de maio de 2004

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INVESTIGAÇÃO

Extratos da Suíça mostram que numa única data foram movimentados US$ 200 mi; ex-prefeito questiona documento

Conta tem assinatura atribuída a Maluf

CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Documentos exibidos ontem pelo "Jornal Nacional", da Rede Globo, mostram a assinatura do ex-prefeito Paulo Maluf (PP-SP) como beneficiário de uma conta corrente na Suíça e dão sinais de que outras contas podem existir.
O programa exibiu um cartão de abertura da conta no qual consta a rubrica atribuída a Maluf. Essa conta, que tem o ex-prefeito como beneficiário, foi aberta em 5 de julho de 1985, no Citibank de Genebra, na Suíça. A conta tinha o nome de Blue Diamond, que em junho de 1994 foi alterado para Red Ruby.
De acordo com o cartão de assinatura, o ex-prefeito tinha poder para movimentar a conta sozinho, uma vez que podia assinar sem a necessidade da rubrica de outra pessoa.
O ex-prefeito manteve essa conta até janeiro de 1997. Depois, os recursos foram transferidos para Jersey, paraíso fiscal no canal da Mancha, onde estão bloqueados pela Justiça.
Os documentos demonstram que somente em uma única data a conta recebeu US$ 200 milhões em depósitos. Em 31 de março de 1995, por exemplo, também de uma única vez, foram movimentados US$ 117 milhões. Na ocasião, a conta tinha um saldo de US$ 154 milhões. Outros US$ 37 milhões também foram retirados, e o extrato do Citibank naquela data deu como resultado final um saldo de US$ 10 mil.
Na edição de 10 de junho de 2001, a Folha revelou que as autoridades de Jersey haviam bloqueado cerca de US$ 200 milhões em contas que tinham como titulares ou detentores de direitos o ex-prefeito, sua mulher, Sylvia Maluf, seu filho Flávio Maluf, e sua nora Jacqueline Maluf (mulher de Flávio).
Em entrevista à Folha ontem à noite, Maluf disse que não tem conta na Suíça e que não se lembra de ter assinado um documento de abertura de conta.
A assessoria de imprensa do ex-prefeito também divulgou nota na qual volta a negar que tenha recursos depositados fora do país. "Paulo Maluf não figura como titular de quaisquer das contas compreendidas pela decisão de bloqueio exarada em 13 de junho de 2003", diz a nota.
A reportagem aponta a possibilidade de existência de outras contas. Segundo a notícia, em 3 de março de 1989 um consultor financeiro chamado Gunther Woernle informa ao Citibank de Genebra que recebeu ordens para abrir uma sub-conta, no valor de US$ 375 mil, em nome "do filho Flávio".
"O titular me deu ordem para abrir uma sub-conta com US$ 375 mil em nome do filho dele, Flávio. Essa ordem me foi dada verbalmente, na casa dele, na presença de sua mulher e de seu filho", afirma Woernle, em inglês, num dos documentos exibidos.
Autoridades do governo federal brasileiro, em conversas reservadas com a Folha, afirmaram que os documentos revelados ontem são autênticos. Dizem, no entanto, estarem preocupadas com o vazamento dos papéis, pois havia uma cláusula de confiabilidade com os suíços.
Detalhe: os documentos estavam marcados. O governo brasileiro acredita que nos próximos dias será possível descobrir os responsáveis pelo vazamento.
Os extratos revelam que a maior movimentação financeira foi em 95. Maluf foi prefeito de São Paulo de 93 a 96. Para o Ministério Público, os recursos depositados nas contas são fruto de superfaturamento de obras, especialmente da avenida Jornalista Roberto Marinho (antiga Água Espraiada).


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