São Paulo, terça-feira, 08 de maio de 2007

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JANIO DE FREITAS

Sem palavras

Apenas os casos de palavra desonrada neste ano já produzem quatro atitudes simultâneas de represália

A CARACTERÍSTICA fundamental da presidência Lula e do conjunto de seu governo -o descumprimento da palavra empenhada- começa, enfim, a receber alguma reação. Só os casos de palavra desonrada neste ano já produzem quatro atitudes coletivas e simultâneas de represália, entre as quais a prepotência impede de estarem os controladores de vôo que receberam de Lula, por intermédio de dois ministros, garantias logo renegadas.
O compromisso assumido por Lula em pessoa, com 3.000 prefeitos, de conduzir o aumento do Fundo de Participação dos Municípios foi sustado pelo PT e seus aliados na Câmara, por ordem do governo. Trata-se de minúsculo 1% que representa uma fortuna no cofre anêmico de milhares de municípios, em possível benefício de milhões de cidadãos. A emenda nesse sentido espera por sua votação há dois anos e meio, desde de dezembro de 2004. A oposição, neste caso, resolveu mostrar alguma ação oposicionista, embora, não esqueçamos, empurrada pelos prefeitos. O assunto estará aceso nesta semana.
Delegados e agentes da Polícia Federal reagem, com greves brancas que prejudicam a população, ao descumprimento do acordo feito pelo governo, por intermédio do ministro Paulo Bernardo, para revisão dos níveis de vencimento.
Funcionários da Receita Federal pararam há dias, por motivo semelhante. E agora se anuncia a greve, na próxima semana, em todas as entidades que integram o Ministério da Cultura, porque o governo não cumpriu o acordo para introdução de um plano de carreira e ajuste nos vencimentos.
Não faz muito tempo, dizia-se que palavra é honra.
Ainda é
Um reconhecimento ninguém pode negar a Evo Morales: suas decisões, inclusive as que causam chiliques no Brasil, cumprem a palavra dada em sua campanha presidencial. Só quem está habituado e curvado a candidatos farsantes e eleitos travestidos não acreditou, e agora toma como desafio e abuso, a realização boliviana do que foi verbalmente antecipado com toda a clareza.
As inverdades, na divergência com a Bolívia, estão do lado de cá, nas afirmações de que "está tudo resolvido", a cada passo de Evo Morales na direção de seus compromissos com os bolivianos.

Em tempo
As empresas que compõem a Associação Nacional de Jornais prestaram homenagem a si mesmas, semana passada, no Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, definido como "dia de alerta para que isso não volte a acontecer". O "isso" estava em seis fotos que dividiam meia página: Hitler, Stalin, Pinochet, Mao, Mussolini e Franco.
Dois deles foram apoiados pelos meios de comunicação brasileiros contemporâneos de sua ascensão e poder: Franco e Pinochet.
Tomara que isso não volte a acontecer com os meios de comunicação brasileiros.


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