São Paulo, terça-feira, 08 de maio de 2007

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Estado não pode ignorar o aborto, diz Lula

Presidente afirma que é contra a interrupção voluntária da gravidez, mas que não pode desconhecer uma questão de saúde pública

Petista rebate críticas da CNBB à política econômica, defende quebra de patente de medicamento e critica os meios de comunicação


EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Às vésperas da chegada do papa ao Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, em entrevista a 154 emissoras de rádio católicas, que o Estado não pode ficar alheio ao problema do aborto, embora ele próprio seja contrário à interrupção voluntária da gravidez.
Na entrevista, Lula disse que os jornais não têm "ética" para se desculpar com aqueles que foram acusados injustamente, rebateu as críticas da CNBB à política econômica, atacou indiretamente o MST e afirmou que pedirá à base do governo que não aprove a redução da maioridade pena para 16 anos:

ABORTO
"Eu tenho duas posições. Eu tenho a posição de pai e de marido, e de cidadão, e tenho um comportamento de presidente da República. São duas coisas totalmente distintas. Primeiro, eu tenho dito, na minha vida política, que sou contra o aborto. Tenho dito publicamente. E tenho dito publicamente que não acredito que ninguém faça aborto por opção ou por prazer. É importante que a gente saiba dimensionar quando uma jovem desesperada, numa gravidez indesejada, corre à procura de um aborto... Se nós tivéssemos, no Brasil, um bom processo de planejamento familiar, de educação sexual, possivelmente nós não tivéssemos a quantidade de gravidez indesejada que temos no Brasil hoje. Entretanto, quando ela existe, o Estado precisa tratar isso como uma questão de saúde pública, porque a história também nos ensina que, muitas vezes, no desespero e por falta de orientação, muitas meninas se matam precocemente. Eu conheço casos de meninas que perfuraram o útero com agulha de fazer tricô... O Estado não pode ficar alheio a uma coisa que existe, que é real, e não dar assistência para essas pessoas."

ÉTICA E MÍDIA
Questionado se fez tudo o que podia nas crises de seu primeiro mandato, disse que sim, pois não tem poder de polícia. "Sou daqueles que acham que toda e qualquer investigação deve ser feita e só deve vir a público depois que você tiver apurado e tiver provado que alguém é culpado", afirmou Lula. "O que me deixa realmente (...) constrangido é ver o nome de pessoas aparecerem nos jornais como corruptos e, depois de um, três, cinco meses, essa pessoa é inocentada, e os mesmos que deram a manchete não têm a ética de pedir desculpas pelo erro cometido... Tem horas que nem começa a investigação e as pessoas já são condenadas publicamente e depois ninguém pede desculpas."

POLÍTICA ECONÔMICA
Lula foi questionado sobre o documento da CNBB com críticas à política econômica. "Até a Conferência Nacional dos Bispos [do Brasil] pode cometer injustiças. Eles também não são pessoas acima da normalidade do ser humano." E elogiou o atual momento econômico.

MST
Prometeu priorizar a qualidade dos assentamentos e indiretamente atacou o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, que critica o governo pelo fato de parte de sua base não ter sido assentada. "Tem uma questão ideológica e um debate que gosto de fazer. Têm pessoas que só vale o assentado se for dele. Se não for dele, não vale. Se eu assentar alguém que pertence a um assentamento, a turma do outro assentamento vai dizer: "Não assentou". Porque não assentou o dele."

MAIORIDADE PENAL
Disse que irá orientar a base a derrubar no Congresso a redução da maioridade penal, aprovada na CCJ do Senado. "Não só vamos orientar como vamos ganhar essa votação ou tentar ganhar." Segundo ele, a juventude não precisa de mais "chicotadas", mas de "esperança".
Em discurso à tarde no Conselho Nacional da Juventude, Lula voltou ao assunto e culpou outros governos pela existência de "estoque incomensurável" de jovens vítimas de descaso.
"É estranho quando a gente percebe que algumas pessoas querem reduzir a maioridade penal para punir a juventude, sem que se pense como punir os governantes que foram responsáveis pela juventude chegar ao ponto que chegou neste país, de abandono."

QUEBRA DE PATENTE
Questionado se teme algum tipo de retaliação após o licenciamento compulsório do remédio anti-Aids Efavirenz, disse: "Não temo. Não temo até porque, em se tratando da saúde do povo brasileiro, a gente não pode ficar preocupado se o laboratório vai gostar ou não".

EMENDA 3
"Se o Congresso derrotar o veto, qual é o caminho natural? É o procurador-geral da República entrar com uma Adin no Supremo Tribunal Federal e o Supremo julgar... Estou preocupado, com os ministros do Trabalho, da Previdência, da Justiça e todo o governo, em tentar encontrar uma redação que permita que aquelas pessoas que têm funções totalmente especiais e que podem ser contratadas como pessoa jurídica sejam contratadas, mas que você não permita que isso desça para a sociedade."


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