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Estado não pode ignorar o aborto, diz Lula
Presidente afirma que é contra a interrupção voluntária da gravidez, mas que não pode desconhecer uma questão de saúde pública
Petista rebate críticas da CNBB à política econômica, defende quebra de patente de medicamento e critica
os meios de comunicação
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Às vésperas da chegada do
papa ao Brasil, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva disse,
em entrevista a 154 emissoras
de rádio católicas, que o Estado
não pode ficar alheio ao problema do aborto, embora ele próprio seja contrário à interrupção voluntária da gravidez.
Na entrevista, Lula disse que
os jornais não têm "ética" para
se desculpar com aqueles que
foram acusados injustamente,
rebateu as críticas da CNBB à
política econômica, atacou indiretamente o MST e afirmou
que pedirá à base do governo
que não aprove a redução da
maioridade pena para 16 anos:
ABORTO
"Eu tenho duas posições. Eu
tenho a posição de pai e de marido, e de cidadão, e tenho um
comportamento de presidente
da República. São duas coisas
totalmente distintas. Primeiro,
eu tenho dito, na minha vida
política, que sou contra o aborto. Tenho dito publicamente. E
tenho dito publicamente que
não acredito que ninguém faça
aborto por opção ou por prazer.
É importante que a gente saiba
dimensionar quando uma jovem desesperada, numa gravidez indesejada, corre à procura
de um aborto... Se nós tivéssemos, no Brasil, um bom processo de planejamento familiar, de
educação sexual, possivelmente nós não tivéssemos a quantidade de gravidez indesejada
que temos no Brasil hoje. Entretanto, quando ela existe, o
Estado precisa tratar isso como
uma questão de saúde pública,
porque a história também nos
ensina que, muitas vezes, no
desespero e por falta de orientação, muitas meninas se matam precocemente. Eu conheço casos de meninas que perfuraram o útero com agulha de fazer tricô... O Estado não pode
ficar alheio a uma coisa que
existe, que é real, e não dar assistência para essas pessoas."
ÉTICA E MÍDIA
Questionado se fez tudo o
que podia nas crises de seu primeiro mandato, disse que sim,
pois não tem poder de polícia.
"Sou daqueles que acham que
toda e qualquer investigação
deve ser feita e só deve vir a público depois que você tiver apurado e tiver provado que alguém é culpado", afirmou Lula.
"O que me deixa realmente (...)
constrangido é ver o nome de
pessoas aparecerem nos jornais como corruptos e, depois
de um, três, cinco meses, essa
pessoa é inocentada, e os mesmos que deram a manchete não
têm a ética de pedir desculpas
pelo erro cometido... Tem horas que nem começa a investigação e as pessoas já são condenadas publicamente e depois
ninguém pede desculpas."
POLÍTICA ECONÔMICA
Lula foi questionado sobre o
documento da CNBB com críticas à política econômica. "Até a
Conferência Nacional dos Bispos [do Brasil] pode cometer
injustiças. Eles também não
são pessoas acima da normalidade do ser humano." E elogiou
o atual momento econômico.
MST
Prometeu priorizar a qualidade dos assentamentos e indiretamente atacou o Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra, que critica o governo pelo fato de parte de sua base não ter sido assentada. "Tem
uma questão ideológica e um
debate que gosto de fazer. Têm
pessoas que só vale o assentado
se for dele. Se não for dele, não
vale. Se eu assentar alguém que
pertence a um assentamento, a
turma do outro assentamento
vai dizer: "Não assentou". Porque não assentou o dele."
MAIORIDADE PENAL
Disse que irá orientar a base a
derrubar no Congresso a redução da maioridade penal, aprovada na CCJ do Senado. "Não
só vamos orientar como vamos
ganhar essa votação ou tentar
ganhar." Segundo ele, a juventude não precisa de mais "chicotadas", mas de "esperança".
Em discurso à tarde no Conselho Nacional da Juventude,
Lula voltou ao assunto e culpou
outros governos pela existência
de "estoque incomensurável"
de jovens vítimas de descaso.
"É estranho quando a gente
percebe que algumas pessoas
querem reduzir a maioridade
penal para punir a juventude,
sem que se pense como punir
os governantes que foram responsáveis pela juventude chegar ao ponto que chegou neste
país, de abandono."
QUEBRA DE PATENTE
Questionado se teme algum
tipo de retaliação após o licenciamento compulsório do remédio anti-Aids Efavirenz, disse: "Não temo. Não temo até
porque, em se tratando da saúde do povo brasileiro, a gente
não pode ficar preocupado se o
laboratório vai gostar ou não".
EMENDA 3
"Se o Congresso derrotar o
veto, qual é o caminho natural?
É o procurador-geral da República entrar com uma Adin no
Supremo Tribunal Federal e o
Supremo julgar... Estou preocupado, com os ministros do
Trabalho, da Previdência, da
Justiça e todo o governo, em
tentar encontrar uma redação
que permita que aquelas pessoas que têm funções totalmente especiais e que podem
ser contratadas como pessoa
jurídica sejam contratadas,
mas que você não permita que
isso desça para a sociedade."
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