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Governo, ONGs e religiosos rechaçam absolvição
SÍLVIA FREIRE
PABLO SOLANO
DA AGÊNCIA FOLHA
Para religiosos e representantes de ONGs e de trabalhadores rurais do Pará, a absolvição do fazendeiro Vitalmiro
Bastos de Moura, o Bida, acusado de ser o mandante da morte
da religiosa Dorothy Stang, reforça o sentimento de impunidade e pode aumentar os casos
de violência e intimidações
contra lideranças sem-terra.
O bispo do Xingu, dom Erwin
Krautler, que era amigo de Dorothy e está ameaçado de morte, disse ontem que o resultado
do julgamento não deve intimidar "o povo que luta por justiça". "Tenho fé e esperança em
Deus que isso [o julgamento]
vai se reverter", afirmou.
O bispo dom Flávio Giovenale, da prelazia de Abaetetuba,
disse que a absolvição pode incentivar o aumento da violência. "Achamos que a absolvição
dará mais força aos grupos interessados não só na eliminação de dom Erwin Krautler,
mas em continuar um projeto
em que os grandes [posseiros]
podem fazer grilagem, explorar
os demais, e quem se opõe a
eles é eliminado", disse.
Para José Batista Afonso, advogado da CPT (Comissão Pastoral da Terra) e assistente da
acusação, a absolvição é uma
"incitação ao crime". "É uma licença para matar", disse.
A ONG Justiça Global, que
acompanha o caso Dorothy, irá
relatar a decisão do júri à ONU
(Organização das Nações Unidas), que já vem sendo informada do processo. Para a advogada Tamara Melo, da Justiça Global, a absolvição de Bida
não é um caso isolado. "Ela [a
decisão] se insere em um contexto de impunidade absoluta."
O Ministério Público Federal
no Pará divulgou uma nota na
qual afirma que a absolvição é
"um prêmio à impunidade" e
que contribui para o acirramento da violência no campo.
Os procuradores pedem reforço das polícias Federal e Civil das regiões de conflitos agrários, sob o risco de ter concretizadas as ameaças de morte a
trabalhadores rurais, índios,
quilombolas e religiosos.
A governadora do Pará, Ana
Júlia Carepa (PT), criticou ontem a fragilidade do Judiciário
no combate à impunidade. "A
decisão mostra o quanto o sistema Judiciário brasileiro é frágil para combater a impunidade. A culpa só recai sobre quem
apertou o gatilho", disse.
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