São Paulo, quinta-feira, 08 de maio de 2008

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Dilma agora diz que dados não tinham sigilo

Mudança mostra caminho da defesa da Casa Civil no inquérito da PF, que aponta problemas no uso de informações sobre FHC

Em nota à imprensa no início da crise do dossiê, ministério classificou como "prática criminosa" o vazamento de informações "sigilosas"


MARTA SALOMON
ADRIANO CEOLIN
ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) mudou novamente a versão sobre o dossiê com gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Durante depoimento ontem na Comissão de Infra-Estrutura do Senado, de mais de nove horas de duração, a ministra afirmou que as informações do governo tucano não eram mais sigilosas pois o caráter "reservado" dos dados já tinha caducado. A versão é baseada em parecer recente do GSI (Gabinete de Segurança Institucional).
A mudança no discurso -pela primeira vez admitida oficialmente por integrante do governo- abre caminho para a defesa da Casa Civil no inquérito da Polícia Federal, que apontou problemas na manipulação de dados da gestão tucana pela equipe de Dilma.
A ministra foi convidada a falar na comissão sobre o andamento das obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Depois de mais de um mês de silêncio sobre o dossiê, Dilma não se esquivou das perguntas sobre o tema, feitas em meio a explicações sobre obras.
Em fevereiro, diante da iminência da instalação da CPI que iria investigar gastos com cartões corporativos, a Casa Civil reabriu processos de prestações de contas de FHC e lançou dados num arquivo paralelo ao Suprim, o sistema oficial de controle de despesas de suprimentos de fundos do Planalto. Sem se ater ao viés político da organização dos dados, a PF já indicou que a Casa Civil não teria seguido os ritos formais de manuseio de dados reservados.
Desde o início da crise do dossiê, no final de março, Dilma vinha tratando como "sigilosas" as informações sobre gastos de FHC e sua mulher, Ruth Cardoso. Em nota à imprensa, a Casa Civil classificou como "prática criminosa" o vazamento de dados "sigilosos".
Ela atribuiu a nova interpretação ao GSI e destacou que essa não é uma posição definitiva. "O GSI vem se posicionando no sentido de que essas informações têm prazo de validade."
Os decretos que sustentam essa nova interpretação abrem precedente delicado para o governo Lula ao determinar que informações classificadas como reservadas perdem esse caráter após, "no máximo", cinco anos. Ou seja, dados referentes a gastos com cartões corporativos de 2003, já sob Lula, não seriam mais protegidos por sigilo.
A Folha questionou o general Jorge Félix se parte dos dados de Lula já não é mais sigilosa. Mas, por escrito, o GSI disse que não se manifestaria sobre o inquérito em andamento na PF. "Defendo que, com o tempo, quando as informações não afetarem a segurança, devem ser tornadas públicas", disse.

Mudança
Já no início de seu depoimento, Dilma sinalizou a mudança em relação ao caráter sigiloso dos gastos de FHC, ao se referir às informações como "privativas" da Presidência. O termo foi repetido outras vezes.
Cobrada por senadores da oposição, a ministra negou que a Casa Civil tenha feito dossiê ou mesmo mudado versões sobre o material produzido por sua equipe. Quando questionada sobre declarações do ministro Tarso Genro (Justiça), que não vê crime na confecção de dossiês de natureza política, ela insistiu: "Ele disse em tese que não era crime fazer dossiê", segundo Dilma, porque o trabalho foi feito pela Casa Civil.
A ministra atribuiu novamente a problemas técnicos o lançamento dos dados de FHC numa base de dados diferente do sistema oficial do Planalto. E tentou convencer os senadores de que o trabalho, iniciado em fevereiro, não passava da continuidade da organização iniciada em 2004 por sugestão do Tribunal de Contas da União.


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