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Alstom pagou políticos via offshore, diz PF
Extratos mostram que filial suíça fez transferência de US$ 550 mil para o Uruguai; dono diz ter cobrado 5% por conta
Empresa, investigada na França e na Suíça, é também suspeita de pagar propina para ganhar licitação do Metrô paulista de US$ 45 mi
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Polícia Federal apreendeu
em 2006 dois comprovantes de
transferência bancária que
apontam, segundo interpretação de delegados, que a Alstom
teria pago comissão a políticos
brasileiros. Os extratos bancários mostram que a filial da Alstom na Suíça transferiu US$
550 mil (R$ 930 mil em valores
atuais) e 220 mil (R$ 573 mil)
para uma empresa do Uruguai
chamada Aranza, de acordo
com documentos sigilosos da
PF obtidos pela Folha.
Um dos sócios da Aranza,
Luiz Geraldo Tourinho Costa,
contou em depoimento à PF
que nunca fez negócios com a
Alstom. Disse que havia cedido
a conta em troca de um percentual de 5% sobre os valores
transferidos. O dinheiro, segundo ele, foi usado pela Alstom para pagar "comissão" a
políticos. Em conversas com os
policiais, Tourinho Neto disse
que as obras pelas quais a Alstom pagara comissão seriam licitadas pela Eletronorte e por
Furnas. Os comprovantes das
transferências estavam na casa
dele, em São Paulo.
A Alstom, uma das maiores
empresas da França, está sob
investigação naquele país e na
Suíça sob suspeita de pagamento de propinas e lavagem
de dinheiro. A investigação foi
iniciada em 2004, quando auditores descobriram a transferência de perto de 20 milhões
das contas da Alstom para empresas fantasmas da Suíça e de
Lichtenstein.
As empresas fantasmas seriam encarregadas de distribuir a propina em países nos
quais a Alstom tocava obras,
como Brasil, Venezuela, Cingapura e Indonésia.
Reportagem publicada anteontem pelo "Wall Street
Journal" revelou que a Promotoria daqueles dois países têm
documentos segundo os quais
a Alstom teria pago US$ 6,8 milhões a políticos para ganhar
uma licitação de US$ 45 milhões do Metrô de São Paulo.
O sumiço
Os comprovantes da transferência da Alstom da Suíça para
a empresa uruguaia foram
apreendidos durante a Operação Castores da PF, que investigava em Curitiba um golpe contra a Itaipu Binacional e outras
companhias de energia. À época, um diretor da Alstom, Osvaldo Panzarini, foi preso e a
PF fez buscas na sede da empresa em São Paulo.
O sócio da empresa uruguaia
que recebeu os dois depósitos
contou à PF ter cedido a conta a
pedido de José Reis, vice-presidente da Alstom entre 1999 e
2004 e responsável pelos negócios da empresa na área energética. Em depoimento à PF,
Reis disse que não tinha conhecimento dos depósitos.
Segundo o advogado de Reis,
Eduardo Muylaert, o nome do
vice-presidente da Alstom foi
citado "para despistar a investigação" (leia texto ao lado).
Logo depois do depoimento
do ex-vice-presidente da Alstom, a Justiça do Paraná julgou
que era melhor desmembrar a
investigação e remeter a parte
em que a Eletronorte era citada
para Brasília -a sede da empresa é naquela cidade.
A Folha, porém, não conseguiu localizar o eventual inquérito. Dois advogados consultados pela reportagem disseram que não conseguiram encontrar as peças da investigação.
O golpe
Tourinho Costa, que tinha os
comprovantes dos depósitos da
Alstom da Suíça, foi investigado pela PF sob a suspeita de que
aplicava um golpe contra as
maiores empresas hidrelétricas do país (Itaipu, Eletrobrás,
Eletronorte e Furnas).
Ele e seu sócio, Laércio Pedroso, tinham uma empresa de
consultoria que dizia a fornecedoras dessas companhias que
elas tinham valores a receber
que não haviam sido contabilizados -seriam restos a pagar.
Alegavam também que conseguiam obter esses dados porque tinham acesso a informações confidenciais de Itaipu.
Foi a diretoria da Itaipu Binacional que pediu a investigação.
À época, os dois sócios foram
presos pela PF, mas o inquérito
concluiu que não houve prejuízos para Itaipu.
Outros dois inquéritos sugeridos pelos policiais do Paraná,
sobre os recursos enviados pela
Alstom da Suíça e sobre a Eletronorte e Furnas, não ficaram
prontos até agora.
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