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Inquérito da PF investiga assessor de Tuma Jr.
Paulo Guilherme de Mello é suspeito de praticar advocacia administrativa; ele nega ter recebido para dar ajuda a chineses
Ministério Público Federal
e Justiça Federal apuram por que diálogos que giram em torno de secretário não fazem parte de inquéritos
RUBENS VALENTE
FLÁVIO FERREIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O policial federal Paulo Guilherme Mello, assessor do secretário nacional de Justiça,
Romeu Tuma Júnior, é investigado em inquérito na Superintendência da Polícia Federal
em São Paulo por suposta advocacia administrativa para chineses que pretendiam regularizar sua situação no Brasil.
Prevista no Código Penal, a
advocacia administrativa é definida como o ato de "patrocinar, direta ou indiretamente,
interesse privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário". A pena prevista é baixa, de
um a três meses de detenção.
O inquérito foi aberto em
2009 a partir de interceptações
telefônicas feitas pela PF na
Operação Wei Jin, deflagrada
em setembro de 2009. As escutas mostram Mello sendo acionado por representantes da comunidade chinesa em São Paulo, principalmente pelo empresário Li Kwok Kwen, o Paulo Li,
amigo de Tuma Jr. e do senador
Romeu Tuma (PTB-SP).
Agente da PF de classe especial, Mello entrou na PF em
1985 e, desde 2008, está cedido
para o Ministério da Justiça. A
Folha apurou que Mello já foi
ouvido pela PF e disse que não
recebeu remuneração pela ajuda dada aos chineses e que essas tarefas são de sua atribuição, prevista em portaria.
Entre os assuntos sob responsabilidade da Secretaria
Nacional de Justiça está o
apoio a estrangeiros no Brasil.
O policial estava sendo monitorado pela PF desde o ano
passado. Foi assim que a investigação chegou a Paulo Li que,
em setembro, foi denunciado
por importação ilegal de telefones celulares e, desde então, está preso em Guarulhos (SP).
Em outra interceptação, divulgada pelo jornal "O Estado
de S. Paulo", Mello, dizendo falar em nome de Tuma Jr., pede
a interferência de um delegado
da Polícia Civil em relação a
uma carga apreendida pelo fisco, assunto de interesse do chinês Fang Ze -segundo o jornal,
o delegado disse que não cooperou e a carga não foi liberada.
A Folha apurou, contudo,
que esse diálogo e outros que
tratam de Tuma Jr. não integram o inquérito aberto para
investigar Mello. Outro inquérito derivado da Wei Jin, que
deverá apurar a participação de
Paulo Li em irregularidades
para concessão de vistos, também não possui as interceptações relativas ao secretário.
O Ministério Público Federal
e a Justiça Federal agora querem descobrir o que aconteceu.
Da mesma forma, querem que
a PF explique por que o depoimento de Tuma Jr., tomado em
"declaração espontânea", não
aparece nos três inquéritos relacionados com a Wei Jin.
Fontes da PF afirmaram à
reportagem que o material que
poderia comprometer Tuma
Jr. está aos cuidados do setor
de inteligência da corporação
em São Paulo, e que são grandes as chances de abertura de
um novo inquérito sobre ele.
Segundo os policiais, há indícios de que Tuma Jr. praticou
atos de advocacia administrativa e atualmente as investigações miram eventuais pagamentos ou retribuições ao secretário, o que poderia configurar crime de corrupção.
Tuma Jr. não foi indiciado
pelo delegado que cuidou da
Wei Jin, Rodrigo de Campos
Costa, nem denunciado pelo
procurador Marcos Corrêa,
que disse não ver ilícitos nas
conversas de Tuma Jr.
Anteontem, a Polícia Federal
encaminhou ao ministro da
Justiça, Luiz Paulo Barreto , os
autos da Operação Wei Jin. O
ministro, que estava ontem em
Buenos Aires, não respondeu
às perguntas da Folha sobre o
caso e cancelou a entrevista.
Colaborou SILVANA ARANTES, de Buenos Aires
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