São Paulo, quarta-feira, 08 de junho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"

Em discurso ontem, presidente disse que levará investigação às últimas conseqüências

Lula afirma que, se preciso, vai cortar na própria carne

EDUARDO SCOLESE
ANA FLOR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Acuado diante de denúncias de irregularidades em diferentes esferas do governo federal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem à noite um discurso duro durante fórum sobre corrupção para defender sua gestão das recentes acusações, dizendo que "cortará na própria carne" e que vai levar as investigações às "últimas conseqüências".
O governo enfrenta denúncias de desvios de verbas de estatais para partidos políticos e pagamento de mesada a parlamentares da base. "Cortaremos na própria carne, se necessário. Sem prejulgar ninguém e respeitando o direito de se defender que todo cidadão e cidadã possui. Não vamos vacilar um segundo na defesa do interesse da coisa pública", disse, na abertura do 4º Fórum Global de Combate à Corrupção, que vai até sexta-feira em Brasília.
Devido à atual crise política que envolve o Planalto, todos os ministros foram convocados para acompanhar in loco a fala de ontem do presidente. Pelo menos 20 deles estiveram no evento, entre eles Romero Jucá (Previdência), investigado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) por suspeita de desvio de dinheiro público.
Ontem, Lula falou por 35 minutos, a maioria deles lendo texto preparado por sua assessoria. No início de sua fala, tentou demonstrar tranqüilidade e descontração, dizendo que hoje "certamente iremos ganhar da Argentina" pelas Eliminatórias da Copa. Nos momentos finais, porém, os risos do início se transformaram em três socos no púlpito à sua frente.
"Independentemente do uso político e eleitoral que alguns estejam fazendo dessas denúncias, quero deixar claro que o meu governo levará as investigações até as últimas conseqüências."
No discurso, por vezes interrompido por aplausos puxados por ministros e assessores, o presidente citou a mídia, dizendo que "esse trabalho da imprensa é meritório e indispensável", mas que as denúncias relatadas "na maioria são casos antigos".
Lula falou das denúncias de pagamento de mesada a deputados pelo seu partido, o PT. Ao tratar do Congresso, Lula disse que o governo "estimulará" as investigações do Legislativo. E disse: "Esse Congresso, estou vendo muitos parlamentares aqui [no hotel], que não pode de forma nenhuma estar sujeito à compra."
No discurso, a cerca de 500 pessoas, Lula enumerou as ações que o governo vêm realizando para combater a corrupção. Citou ampliação dos trabalhos da Controladoria Geral da União e o reforço na Polícia Federal. "No Brasil, nós fomos mais longe. Este país já fez um impeachment de um presidente da República, há pouco tempo. Neste país, juiz já foi preso. Neste país, delegado de polícia também é preso. [...] Certamente, ainda falta muita gente."
Em entrevista publicada anteontem na Folha, o presidente nacional do PTB, deputado Roberto Jefferson, acusado de envolvimento em suposto esquema de corrupção nos Correios e no IRB (Instituto de Resseguros do Brasil), disse que o PT pagava uma mesada a parlamentares em troca de apoio no Congresso.
Ontem, em sua fala, Lula disse estar "plenamente consciente" de suas "atribuições como primeiro mandatário". Afirmou ter "responsabilidades sobre seus ombros" e que "não esqueceu" os compromissos que assumiu diante dos que o elegeram.
E prosseguiu sua longa autodefesa: "Tenho, ademais, uma biografia a preservar, um patrimônio moral, uma história de décadas em defesa da ética na política".

Suplicy
Na saída do 4º Fórum Global de Combate à Corrupção, Lula se encontrou com o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que foi atacado pela sigla por ter assinado requerimento de criação da comissão.
"Eu queria lhe dizer que o que eu fiz foi pelo seu bem, pelo partido, pela nossa história e por tudo aquilo que você disse no seu discurso. Felizmente, a bancada do PT tomou a posição que eu vinha defendendo", disse Suplicy a Lula.
Segundo o senador, o presidente respondeu que "tudo agora vai se acertar". Suplicy ainda defendeu no plenário, à noite, que o tesoureiro do partido, Delúbio Soares, afaste-se do cargo até que tudo seja esclarecido.


Colaborou a Sucursal de Brasília

Texto Anterior: Janio de Freitas: A causa do medo
Próximo Texto: Frases
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.