|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"
Em discurso ontem, presidente disse que levará investigação às últimas conseqüências
Lula afirma que, se preciso, vai cortar na própria carne
EDUARDO SCOLESE
ANA FLOR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Acuado diante de denúncias de
irregularidades em diferentes esferas do governo federal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez
ontem à noite um discurso duro
durante fórum sobre corrupção
para defender sua gestão das recentes acusações, dizendo que
"cortará na própria carne" e que
vai levar as investigações às "últimas conseqüências".
O governo enfrenta denúncias
de desvios de verbas de estatais
para partidos políticos e pagamento de mesada a parlamentares da base. "Cortaremos na própria carne, se necessário. Sem prejulgar ninguém e respeitando o direito de se defender que todo cidadão e cidadã possui. Não vamos vacilar um segundo na defesa do interesse da coisa pública",
disse, na abertura do 4º Fórum
Global de Combate à Corrupção,
que vai até sexta-feira em Brasília.
Devido à atual crise política que
envolve o Planalto, todos os ministros foram convocados para
acompanhar in loco a fala de ontem do presidente. Pelo menos 20
deles estiveram no evento, entre
eles Romero Jucá (Previdência),
investigado pelo STF (Supremo
Tribunal Federal) por suspeita de
desvio de dinheiro público.
Ontem, Lula falou por 35 minutos, a maioria deles lendo texto
preparado por sua assessoria. No
início de sua fala, tentou demonstrar tranqüilidade e descontração,
dizendo que hoje "certamente iremos ganhar da Argentina" pelas
Eliminatórias da Copa. Nos momentos finais, porém, os risos do
início se transformaram em três
socos no púlpito à sua frente.
"Independentemente do uso
político e eleitoral que alguns estejam fazendo dessas denúncias,
quero deixar claro que o meu governo levará as investigações até
as últimas conseqüências."
No discurso, por vezes interrompido por aplausos puxados
por ministros e assessores, o presidente citou a mídia, dizendo que
"esse trabalho da imprensa é meritório e indispensável", mas que
as denúncias relatadas "na maioria são casos antigos".
Lula falou das denúncias de pagamento de mesada a deputados
pelo seu partido, o PT. Ao tratar
do Congresso, Lula disse que o
governo "estimulará" as investigações do Legislativo. E disse:
"Esse Congresso, estou vendo
muitos parlamentares aqui [no
hotel], que não pode de forma nenhuma estar sujeito à compra."
No discurso, a cerca de 500 pessoas, Lula enumerou as ações que
o governo vêm realizando para
combater a corrupção. Citou ampliação dos trabalhos da Controladoria Geral da União e o reforço
na Polícia Federal. "No Brasil, nós
fomos mais longe. Este país já fez
um impeachment de um presidente da República, há pouco
tempo. Neste país, juiz já foi preso. Neste país, delegado de polícia
também é preso. [...] Certamente,
ainda falta muita gente."
Em entrevista publicada anteontem na Folha, o presidente
nacional do PTB, deputado Roberto Jefferson, acusado de envolvimento em suposto esquema de
corrupção nos Correios e no IRB
(Instituto de Resseguros do Brasil), disse que o PT pagava uma
mesada a parlamentares em troca
de apoio no Congresso.
Ontem, em sua fala, Lula disse
estar "plenamente consciente" de
suas "atribuições como primeiro
mandatário". Afirmou ter "responsabilidades sobre seus ombros" e que "não esqueceu" os
compromissos que assumiu diante dos que o elegeram.
E prosseguiu sua longa autodefesa: "Tenho, ademais, uma biografia a preservar, um patrimônio
moral, uma história de décadas
em defesa da ética na política".
Suplicy
Na saída do 4º Fórum Global de
Combate à Corrupção, Lula se encontrou com o senador Eduardo
Suplicy (PT-SP), que foi atacado
pela sigla por ter assinado requerimento de criação da comissão.
"Eu queria lhe dizer que o que
eu fiz foi pelo seu bem, pelo partido, pela nossa história e por tudo
aquilo que você disse no seu discurso. Felizmente, a bancada do
PT tomou a posição que eu vinha
defendendo", disse Suplicy a Lula.
Segundo o senador, o presidente respondeu que "tudo agora vai
se acertar". Suplicy ainda defendeu no plenário, à noite, que o tesoureiro do partido, Delúbio Soares, afaste-se do cargo até que tudo seja esclarecido.
Colaborou a Sucursal de Brasília
Texto Anterior: Janio de Freitas: A causa do medo Próximo Texto: Frases Índice
|