São Paulo, quinta-feira, 08 de junho de 2006

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MLST planejou invasão da Câmara e previu confronto

Vídeo mostra dois encontros dos sem-terra em que ação foi discutida em detalhes

Preparação incluiu visitas ao Congresso e mapeamento de pontos estratégicos; segurança e locais a serem invadidos foram filmados


RANIER BRAGON
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma fita de vídeo apreendida pela Polícia Legislativa da Câmara com integrantes do MLST (Movimento de Libertação dos Sem-Terra) mostra que o grupo planejou com antecedência a invasão que resultou anteontem na depredação de parte do Congresso e deixou pelo menos 41 pessoas feridas.
A preparação incluiu visitas à Câmara, onde a segurança e os locais a serem invadidos foram fotografados e filmados, e palestras dos líderes sobre como os sem-terra deveriam agir (veja quadro ao lado).
A gravação, feita aparentemente por um integrante do MLST, abrange duas reuniões feitas pelo grupo que teria a missão de se infiltrar antes na Câmara para facilitar o acesso aos manifestantes que invadiriam o prédio. As reuniões teriam ocorrido na sede da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), em Brasília.
Pontos estratégicos da Câmara, como entradas e o Salão Verde, foram filmados com antecedência pelos militantes. Na gravação, que será usada pela polícia para incriminar os invasores, líderes do MLST se referem à ação como uma "festa". Eles também atacam PSDB e PFL pela demora na votação do Orçamento e pedem "concentração" aos manifestantes para não "jogar por água abaixo toda a idéia da festa".
A invasão durou pouco mais de uma hora. O grupo de sem-terra entrou em confronto com a segurança da Câmara e com a Polícia Militar, chegou a virar um carro e causou depredação por onde passou. Um segurança ficou em estado grave. Após o conflito, 549 integrantes do movimento foram detidos. Ontem, a maioria foi levada a um presídio em Brasília.

Violência
Em nenhum momento da gravação os militantes são orientados a depredar o Congresso, mas os líderes citam possíveis atos de violência. "Deixar de levar umas bolachas, dar uns pontapés, ninguém vai deixar não, pode acontecer. Para isso é que os companheiros foram escolhidos a dedo. Se levar um, dá dois", diz durante a reunião gravada um dos líderes do MLST, que não teve o seu nome identificado até o início da noite de ontem.
A Câmara repassou cópia da fita à imprensa e afirmou que não houve edição de imagens. A gravação indica que grupos de sem-terra visitaram por várias vezes a Câmara como forma de preparar a invasão. Eles eram orientados a não chamar a atenção.
"Lá tem a segurança Legislativa, os homens de paletó azul e que usam broche que parece brasão, então não precisa ficar encarando, olhando, vocês vão agir como se estivesse tudo normal, como se estivessem em um supermercado, conversando", orienta um dos líderes, que também não teve o seu nome identificado.

Líderes
Bruno Maranhão, um dos líderes do movimento e até então membro da Executiva do PT, não aparece na gravação. Ontem, o partido decidiu afastá-lo da Executiva.
O único líder identificado é José Antonio Arruti Baqueiro, da Bahia. "Cada companheiro aqui foi escolhido a dedo pelos companheiros estaduais como pessoas da maior confiança, e na verdade vocês têm a responsabilidade do sucesso ou não dessa ação de amanhã. Têm algumas coisas que não têm jeito de chegar lá. Boné, tá fora; chinelo, tá fora; camiseta, tá fora; bermuda, tá fora", diz ele.

Expectativa
De acordo com as reuniões gravadas, os sem-terra não tinham intenção de invadir o plenário da Câmara. O objetivo declarado era chamar a atenção para uma série de reivindicações na área da reforma agrária.
"Muitos de vocês participaram da ocupação do Ministério da Fazenda. Pelo que deu para sentir, pelo que a gente andou ali dentro, para um primeiro momento, vai ser mais tranqüilo do que o Ministério da Fazenda, pela organização que a gente tá. Lá dentro é que vai ser o chabu", comentou um dos sem-terra que assistia à orientação dos líderes. Ele se referia à invasão do ministério, pelo MLST, promovido em abril do ano passado.
Um outro comenta ter checado que não há "controle" nas portas da Câmara: "A segurança amanhã vai tá reforçada, mas acho que dá para administrar. A companheirada de Ribeirão é acostumada a lidar com polícia, não vai se assustar".
Um dos líderes que orientava os sem-terra nas reuniões diz, a certa altura, ter certeza de que os seguranças não vão atirar em ninguém -"não são malucos"- e também orienta os manifestantes que não estiverem "seguros" a não dar declarações à imprensa.


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