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MLST planejou invasão da Câmara e previu confronto
Vídeo mostra dois encontros dos sem-terra em que ação foi discutida em detalhes
Preparação incluiu visitas ao
Congresso e mapeamento
de pontos estratégicos;
segurança e locais a serem
invadidos foram filmados
RANIER BRAGON
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma fita de vídeo apreendida
pela Polícia Legislativa da Câmara com integrantes do
MLST (Movimento de Libertação dos Sem-Terra) mostra que
o grupo planejou com antecedência a invasão que resultou
anteontem na depredação de
parte do Congresso e deixou
pelo menos 41 pessoas feridas.
A preparação incluiu visitas à
Câmara, onde a segurança e os
locais a serem invadidos foram
fotografados e filmados, e palestras dos líderes sobre como
os sem-terra deveriam agir (veja quadro ao lado).
A gravação, feita aparentemente por um integrante do
MLST, abrange duas reuniões
feitas pelo grupo que teria a
missão de se infiltrar antes na
Câmara para facilitar o acesso
aos manifestantes que invadiriam o prédio. As reuniões teriam ocorrido na sede da Contag (Confederação Nacional
dos Trabalhadores na Agricultura), em Brasília.
Pontos estratégicos da Câmara, como entradas e o Salão
Verde, foram filmados com antecedência pelos militantes. Na
gravação, que será usada pela
polícia para incriminar os invasores, líderes do MLST se referem à ação como uma "festa".
Eles também atacam PSDB e
PFL pela demora na votação do
Orçamento e pedem "concentração" aos manifestantes para
não "jogar por água abaixo toda
a idéia da festa".
A invasão durou pouco mais
de uma hora. O grupo de sem-terra entrou em confronto com
a segurança da Câmara e com a
Polícia Militar, chegou a virar
um carro e causou depredação
por onde passou. Um segurança ficou em estado grave. Após
o conflito, 549 integrantes do
movimento foram detidos. Ontem, a maioria foi levada a um
presídio em Brasília.
Violência
Em nenhum momento da
gravação os militantes são
orientados a depredar o Congresso, mas os líderes citam
possíveis atos de violência.
"Deixar de levar umas bolachas, dar uns pontapés, ninguém vai deixar não, pode
acontecer. Para isso é que os
companheiros foram escolhidos a dedo. Se levar um, dá
dois", diz durante a reunião
gravada um dos líderes do
MLST, que não teve o seu nome
identificado até o início da noite de ontem.
A Câmara repassou cópia da
fita à imprensa e afirmou que
não houve edição de imagens. A
gravação indica que grupos de
sem-terra visitaram por várias
vezes a Câmara como forma de
preparar a invasão. Eles eram
orientados a não chamar a
atenção.
"Lá tem a segurança Legislativa, os homens de paletó azul e
que usam broche que parece
brasão, então não precisa ficar
encarando, olhando, vocês vão
agir como se estivesse tudo
normal, como se estivessem em
um supermercado, conversando", orienta um dos líderes, que
também não teve o seu nome
identificado.
Líderes
Bruno Maranhão, um dos líderes do movimento e até então membro da Executiva do
PT, não aparece na gravação.
Ontem, o partido decidiu afastá-lo da Executiva.
O único líder identificado é
José Antonio Arruti Baqueiro,
da Bahia. "Cada companheiro
aqui foi escolhido a dedo pelos
companheiros estaduais como
pessoas da maior confiança, e
na verdade vocês têm a responsabilidade do sucesso ou não
dessa ação de amanhã. Têm algumas coisas que não têm jeito
de chegar lá. Boné, tá fora; chinelo, tá fora; camiseta, tá fora;
bermuda, tá fora", diz ele.
Expectativa
De acordo com as reuniões
gravadas, os sem-terra não tinham intenção de invadir o plenário da Câmara. O objetivo declarado era chamar a atenção
para uma série de reivindicações na área da reforma agrária.
"Muitos de vocês participaram da ocupação do Ministério
da Fazenda. Pelo que deu para
sentir, pelo que a gente andou
ali dentro, para um primeiro
momento, vai ser mais tranqüilo do que o Ministério da Fazenda, pela organização que a
gente tá. Lá dentro é que vai ser
o chabu", comentou um dos
sem-terra que assistia à orientação dos líderes. Ele se referia
à invasão do ministério, pelo
MLST, promovido em abril do
ano passado.
Um outro comenta ter checado que não há "controle" nas
portas da Câmara: "A segurança amanhã vai tá reforçada, mas
acho que dá para administrar. A
companheirada de Ribeirão é
acostumada a lidar com polícia,
não vai se assustar".
Um dos líderes que orientava
os sem-terra nas reuniões diz, a
certa altura, ter certeza de que
os seguranças não vão atirar em
ninguém -"não são malucos"- e também orienta os manifestantes que não estiverem
"seguros" a não dar declarações
à imprensa.
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