São Paulo, sexta-feira, 08 de junho de 2007

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"Corrupção é como petróleo", diz presidente

Lula mostra desconforto ao falar sobre o tema e faz comparação para afirmar que "quanto mais se investiga, mais aparece"

Petista conta que nunca foi cobrado no exterior por escândalos recentes no país e que não é preciso ter pregação, mas sim ação


DO ENVIADO À ALEMANHA

O único momento da entrevista concedida à Folha em que Lula demonstrou certo desconforto foi quando a palavra corrupção entrou na conversa, a partir da seguinte pergunta:

 

FOLHA - O ranking da Transparência Internacional e o noticiário que chega à Europa e aos EUA está carregado de corrupção nos últimos anos. Isso não atrapalha a imagem brasileira? As pessoas cobram o sr.?
LULA -
Nunca me cobraram. Até porque a corrupção é que nem petróleo -só vai obtê-lo se fizer prospecção. E a corrupção você só vai saber se ela existe de verdade se fizer investigação. Não tem outro jeito. Qual é o problema? Quanto mais investiga, mais aparece. Vide a Operação Mãos Limpas, na Itália. Você pode fazer vistas grossas, fingir que não tem e não investigar. Ou pode deixar a investigação acontecer porque é o único jeito de acabar com ela. Não sei quantos países do mundo investigam como nós.

FOLHA - No caso dos chamados mensaleiros do PT, por exemplo, o sr. pediu desculpas pela TV, mas depois afagou, chamou de "companheiros". Isso não deixa no ar um certo estímulo, uma crença de que, no fundo, o presidente não liga...
LULA -
O que o presidente pode fazer? O país tem instituições, instituições de investigação, de julgamento e de punição. Até agora, com tudo isso que aconteceu, tem dois punidos, José Dirceu e Roberto Jefferson. O restante são cidadãos livres, grande parte deles se reelegeu e tem um processo correndo na Suprema Corte.

FOLHA - O sr. não acha que um pouco mais de pregação por parte do presidente...
LULA -
Acho que não tem pregação, tem ação, e é o que estamos fazendo.

 


SUL-SUL
O presidente faz uma defesa apaixonada da política de aproximação com os países em desenvolvimento, batizada de Sul-Sul no jargão diplomático. Política que ele admite ter sido muito criticada, em vários momentos, mas que afirma ter dado como resultado o fato de que a balança comercial do Brasil com a América Latina é maior do que com a Europa.
O chanceler Celso Amorim acrescenta: "Só com a América do Sul, o comércio é maior do que com os Estados Unidos. Com a América Latina toda, é maior do que com a Europa".
Os dois emendam quase em coro: "Sem que tivesse diminuído nossa relação com os Estados Unidos e com a Europa".
O presidente lembra que foi muito criticado quando o Brasil montou uma feira de negócios em Dubai. Custou US$ 500 milhões. "Pois bem: aquela feirinha, em dois dias, resultou em vendas de US$ 556 milhões. Pagou a feira e ainda deu lucro".
Lula insiste em tese que tem defendido sempre que há empresários na sua comitiva em viagens internacionais, a de que eles devem ser "mascates". O presidente acha que não há outra maneira de vender. Por isso mesmo, solta um palavrão ao lembrar que na recente viagem à Índia, uma empresa local de aviação manifestou desejo de comprar 40 aviões, um negócio de US$ 2 bilhões. "Mas não havia um diretor da Embraer", lamenta.


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