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Mato Grosso tem maior área registrada por estrangeiros
São 1.377 propriedades rurais espalhadas numa extensão de 754,7 mil hectares
São Paulo é o campeão em número de propriedades em nome de pessoas de outros países: 11.424 terrenos
em 504,7 mil hectares
FERNANDA ODILLA
HUDSON CORREA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Estrangeiros estão comprando propriedades rurais em todos os Estados do Brasil. Levantamento inédito do Incra revela que o interesse estrangeiro vai muito além da Amazônia. Com 1.377 propriedades
espalhadas numa área de 754,7
mil hectares, Mato Grosso é o
Estado que tem a maior área de
terras em nome de empresas e
pessoas de outros países.
São Paulo, por sua vez, é o
campeão em número de propriedades em nome de pessoas
de outras nacionalidades. São
11.424 terrenos, que, somados,
representam 504,7 mil hectares do território paulista. Mato
Grosso do Sul, Bahia, Minas
Gerais, Paraná e Goiás também
estão no topo da lista do Incra
como os Estados com maior
área nas mãos de estrangeiros.
Somente 3,8 milhões de hectares dos 5,5 milhões registrados em nome de estrangeiros já
foram organizados por Estado,
número de propriedades e tamanho de área. O mapeamento
do Incra revela a situação dos
imóveis até dezembro de 2007.
Desde 1998, o órgão controla
só a aquisição de imóveis rurais
por empresas sem sede no país
ou pessoas físicas não residentes no Brasil. O presidente do
Incra, Rolf Hackbart, espera
parecer da Advocacia Geral da
União para contabilizar e monitorar a ação de estrangeiros
que se associam a empresas nacionais para investir aqui.
Os números do Banco Central comprovam que a ação internacional aqueceu o mercado
local. Os investimentos diretos
estrangeiros em atividades
imobiliárias aumentaram
347% entre 2003 e 2007.
"O presidente Lula esqueceu
que temos Constituição e abriu
o país à ganância estrangeira",
disse d. Tomás Balduíno, presidente da Comissão Pastoral da
Terra. Balduíno acompanha
com preocupação o crescente
investimento estrangeiro e a
especulação imobiliária, impulsionados pela fartura de terras brasileiras propícias a minimizar a crise mundial de alimentos e a impulsionar a produção de biocombustível.
Plantações de soja, cana-de-açúcar e eucalipto são as atividades que hoje mais atraem os
estrangeiros, em especial nas
regiões Nordeste e Centro-Oeste. "Mato Grosso ainda é
um lugar onde se pode expandir [a produção]. Tem boas terras. E o preço ainda é acessível.
Então, os produtores mato-grossenses estão endividados e
estão vendendo", diz o presidente da Aprosoja (Associação
dos Produtores de Soja do Estado de Mato Grosso), Glauber
Silveira da Silva.
Silva cita o grupo argentino
El Tejar, há seis anos no Estado
e em expansão. O grupo mantém a empresa O Telhar Agropecuária, que planta milho e soja em 35 mil hectares no Estado. Ele também destaca a expansão da SLC Agrícola, grupo
brasileiro que é o maior produtor de algodão do país e capta
recursos no exterior.
A empresa assinou em março
contrato de financiamento
com o IFC (International Finance Corporation), braço de
investimento do Banco Mundial, no valor US$ 40 milhões
para aquisições e arrendamentos de terras. Na quinta-feira
passada, a SLC comunicou a
compra de 10.635 hectares em
Campos de Júlio (MT), por
R$ 82,9 milhões.
Na lista do Incra, os Estados
da região amazônica não ocupam lugar de destaque. Secretário do Meio Ambiente do
Amazonas até março passado,
Virgílio Viana disse que, "do
ponto de vista racional, é muito
mais grave a ameaça estrangeira em controlar as praias do
Nordeste brasileiro". "Você
saiu de uma praia e entra em
outra comprada por gringos,
quilômetros e quilômetros. Em
termos de presença estrangeira, é muito mais grave." Ele foi
consultado pelo empresário
sueco-britâncio Johan Eliasch
em 2005 sobre a compra de 160
mil hectares no Amazonas.
Eliasch usou uma estratégia
comum entre estrangeiros: associar-se a uma empresa nacional ou abrir uma empresa no
Brasil, mesmo que seja controlada por capital externo. É o
que japoneses e norte-americanos têm feito em Correntina,
oeste baiano, numa área de 60
mil hectares adquirida para
produção de algodão e instalação de usina sucroalcooleira.
O superintendente de política de agronegócio da Bahia, Eujácio Simões, afirma que o Estado incentiva o investimento
de empresas nacionais com
aporte estrangeiro. Mas diz
que, em alguns casos, o governo
se preocupa em conter a expansão. "Os finlandeses comandam a produção de celulose no
extremo sul do Estado e estão
esperneando para aumentar a
área de plantio." No Brasil, é
necessário esperar seis anos
para o corte das árvores. Na Finlândia, são 15 anos, diz ele.
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