São Paulo, sexta-feira, 08 de julho de 2005

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TODA MÍDIA

Nelson de Sá

Do cidadão

Quando a BBC World entrou com a notícia, no começo da manhã no Brasil, anunciou "um incidente importante" que levou à suspensão de todo o metrô de Londres:
- A causa não está clara, mas a polícia diz que pode ser um pico massivo de energia.
Não demorou e a a explosão do ônibus, como o ataque à segunda torre em Nova York em 2001, confirmou que não era um "pico de energia".
A BBC World passou então a reproduzir a BBC1, o sinal da rede pública, assim como a CNN passou depois a reproduzir a ITN, o canal britânico.
 
E logo a cobertura se mostrou diferente de tudo.
Os canais de notícias BBC, CNN e Sky News, de Rupert Murdoch, depois de muitas imagens repetitivas, começaram a mostrar cenas de vídeo sem foco, entrecortadas.
Na tela, a explicação "mobile phone image". Eram cenas de curta duração captadas por celulares e enviadas pelos próprios usuários. Em uma delas se via, entre corpos pelo chão, o ônibus que explodiu.
Na maior parte, eram imagens escuras do metrô, onde o ataque fez mais vítimas.
 
Para além da TV, os celulares invadiram os moblogs, os blogs de telefones móveis, e depois os demais sites com fotos na mesma linha, do metrô.
A principal delas, tirada perto da estação King's Cross e reproduzida em toda parte, veio acompanhada de um comentário do londrino Adam Stacey, que cobria o rosto:
- O trem parou e começou a ser tomado pela fumaça.
Ele enviou a foto de lá mesmo para o moblog, ficou intoxicado, mas "passa bem".
 
Fora os canais de notícias e blogs, também os sites britânicos de imprensa se abriram ontem à colaboração.
Além de destacar os blogs dos próprios repórteres, os sites de BBC, "Guardian" e "Times" -que, diz a agência Reuters, bateram recorde de audiência- solicitavam nas páginas iniciais que os internautas enviassem relatos e fotos.
As descrições deles, editadas então sob títulos como "Suas histórias", traziam declarações na linha "estavam chorando e gritando" e "horror diante dos ferimentos".
No final da tarde, horário do Brasil, o site do "Guardian" já adiantava os textos que sairiam na edição de hoje.
 
Para registro, apesar de todo o esforço em Londres, veio do site alemão da "Der Spiegel" a identificação do comunicado, num site em árabe, assumindo a autoria do atentado.
 
Além de britânicos como Harry's Place e perfect.co.uk, também blogs brasileiros, como Blue Bus, seguiram o ataque em "live blogging".
Para Marcelo Tas, "a melhor cobertura" estava na blogosfera e portais. Para Tiago Dória, em sua página de mídia:
- O que se percebeu é que a mídia foi mais aberta à participação, algo visto no tsunami, mas de forma tímida. É uma maneira que os meios encontraram para enriquecer a cobertura e praticar o jornalismo participativo ou cidadão, tão discutido atualmente na web e nos meios acadêmicos.

Reprodução
Foto de celular de Adam Stacey, tirada no metrô e postada num moblog, depois nos sites BBC, Sky, Wikinews, nos blogs brasileiros etc.
Reprodução
Vídeo de celular gravado logo após a explosão do ônibus, entre vários outros apresentados pelos canais BBC, Sky News e CNN
Reprodução
Acima, 6h de Brasília, a BBC World anuncia "um incidente importante" no metrô, "que pode ter sido causado por pico de energia"; à esq., à tarde, site com carta que assumiu atentado


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