São Paulo, quinta-feira, 08 de agosto de 2002

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TRANSIÇÃO

Economistas dizem, sobre acordo com FMI, que assegurar condições de governabilidade ao sucessor é obrigação de FHC

Equipe de Ciro vê "alívio", mas ataca modelo

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Mauro Benevides Filho, assessor econômico do presidenciável Ciro Gomes (PPS), classificou de "alívio" o fato de o acordo entre o governo brasileiro e o FMI não abordar a questão das taxas de juros. Mesmo assim, para o assessor, o governo erra ao manter o atual modelo econômico, visto por ele como equivocado.
Ciro, por sua vez, ao ser perguntado sobre o acordo, disse uma única frase aos jornalistas: "Não vou comentar nada sobre nada".
Para Benevides, que foi secretário do Planejamento do Ceará na gestão Ciro, "é um primeiro alívio não falarem da taxa de juros, mas a dívida pública e o desemprego vão continuar crescendo porque não foram definidas condições econômicas novas",
Como "condições novas", o economista entende que o atual governo poderia, desde já, implantar a reforma tributária e diminuir a vulnerabilidade externa com uma política industrial que estimule a exportação e a substituição de importações.
Para ele, o acordo, apesar de representar uma relativa tranquilidade ao mercado, não diminui a responsabilidade do candidato José Serra (PSDB), que tem o apoio do presidente Fernando Henrique Cardoso, dos problemas do atual governo. "Porque o atual modelo econômico continua errado", afirmou ele.
"Quando uma pessoa está doente, com febre, você dá o remédio, mas não mata a doença. O acordo do governo brasileiro com o FMI é isso, é uma questão simplesmente conjuntural. Num curto prazo, essa notícia pode diminuir a tensão do mercado, mas não vai aliviar a cobrança em relação ao candidato do governo."
Segundo Benevides Filho, no entanto, é positivo o fato de a nova negociação do Brasil com o FMI não comprometer as possíveis alterações econômicas que o futuro presidente queira fazer.
"Acho que essas mudanças poderiam começar agora, não é preciso esperar um novo governo. Mas, é lógico, esse acordo não impede o próximo governante de processar as transformações de que o Brasil tanto precisa", disse.
"Entendo que essa negociação possa aliviar, mesmo que a curto prazo, a escassez de moeda estrangeira, mas a medida é meramente conjuntural. Os fundamentos da economia brasileira continuarão inexistindo. A austeridade fiscal não existe, o governo de Fernando Henrique gastou demais ao longo dos anos e teve de aumentar sua arrecadação por meio do aumento dos impostos."
Para o economista Maurício Dias David, também da equipe de Ciro, o acordo com o FMI pode ser positivo se gerar condições para que seja feita uma "passagem de governo tranquila e regulada".
Segundo ele, é preciso examinar os termos do acordo para saber se não tem possíveis amarras ao projeto econômico do novo governo. David disse que sua preocupação não é com o tamanho do superávit primário, mas com outras cláusulas que possam existir no acordo e que criem obstáculos a que uma nova política econômica seja posta em prática. "Nós não queremos fraudar os eleitores."
David disse que, no entendimento da equipe de Ciro, o acordo com o FMI "é problema do governo atual". Segundo ele, "é obrigação de Fernando Henrique fazer uma passagem que assegure condições de governabilidade ao novo chefe do Executivo". Para ele, um acordo, diante do aumento da vulnerabilidade do país, era inevitável. "Vulnerabilidade não se resolve de imediato."


Colaborou a Sucursal do Rio



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