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TRANSIÇÃO
Economistas dizem, sobre acordo com FMI, que assegurar condições de governabilidade ao sucessor é obrigação de FHC
Equipe de Ciro vê "alívio", mas ataca modelo
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Mauro Benevides Filho, assessor econômico do presidenciável
Ciro Gomes (PPS), classificou de
"alívio" o fato de o acordo entre o
governo brasileiro e o FMI não
abordar a questão das taxas de juros. Mesmo assim, para o assessor, o governo erra ao manter o
atual modelo econômico, visto
por ele como equivocado.
Ciro, por sua vez, ao ser perguntado sobre o acordo, disse uma
única frase aos jornalistas: "Não
vou comentar nada sobre nada".
Para Benevides, que foi secretário do Planejamento do Ceará na
gestão Ciro, "é um primeiro alívio
não falarem da taxa de juros, mas
a dívida pública e o desemprego
vão continuar crescendo porque
não foram definidas condições
econômicas novas",
Como "condições novas", o
economista entende que o atual
governo poderia, desde já, implantar a reforma tributária e diminuir a vulnerabilidade externa
com uma política industrial que
estimule a exportação e a substituição de importações.
Para ele, o acordo, apesar de representar uma relativa tranquilidade ao mercado, não diminui a
responsabilidade do candidato
José Serra (PSDB), que tem o
apoio do presidente Fernando
Henrique Cardoso, dos problemas do atual governo. "Porque o
atual modelo econômico continua errado", afirmou ele.
"Quando uma pessoa está
doente, com febre, você dá o remédio, mas não mata a doença. O
acordo do governo brasileiro com
o FMI é isso, é uma questão simplesmente conjuntural. Num curto prazo, essa notícia pode diminuir a tensão do mercado, mas
não vai aliviar a cobrança em relação ao candidato do governo."
Segundo Benevides Filho, no
entanto, é positivo o fato de a nova negociação do Brasil com o
FMI não comprometer as possíveis alterações econômicas que o
futuro presidente queira fazer.
"Acho que essas mudanças poderiam começar agora, não é preciso esperar um novo governo.
Mas, é lógico, esse acordo não impede o próximo governante de
processar as transformações de
que o Brasil tanto precisa", disse.
"Entendo que essa negociação
possa aliviar, mesmo que a curto
prazo, a escassez de moeda estrangeira, mas a medida é meramente conjuntural. Os fundamentos da economia brasileira
continuarão inexistindo. A austeridade fiscal não existe, o governo
de Fernando Henrique gastou demais ao longo dos anos e teve de
aumentar sua arrecadação por
meio do aumento dos impostos."
Para o economista Maurício
Dias David, também da equipe de
Ciro, o acordo com o FMI pode
ser positivo se gerar condições para que seja feita uma "passagem
de governo tranquila e regulada".
Segundo ele, é preciso examinar
os termos do acordo para saber se
não tem possíveis amarras ao
projeto econômico do novo governo. David disse que sua preocupação não é com o tamanho do
superávit primário, mas com outras cláusulas que possam existir
no acordo e que criem obstáculos
a que uma nova política econômica seja posta em prática. "Nós não
queremos fraudar os eleitores."
David disse que, no entendimento da equipe de Ciro, o acordo com o FMI "é problema do governo atual". Segundo ele, "é obrigação de Fernando Henrique fazer uma passagem que assegure
condições de governabilidade ao
novo chefe do Executivo". Para
ele, um acordo, diante do aumento da vulnerabilidade do país, era
inevitável. "Vulnerabilidade não
se resolve de imediato."
Colaborou a Sucursal do Rio
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