São Paulo, quinta-feira, 08 de agosto de 2002

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CAMPANHA

Eles são "frutos da mesma árvore", afirma candidato; petista ironiza gesto de Ciro de beijar mão de ACM

Polarização Serra-Ciro é "falsa", diz Lula

DA REPORTAGEM LOCAL

O candidato petista à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, criticou ontem a troca de farpas entre Ciro Gomes (PPS) e José Serra (PSDB) dos últimos dias, dizendo que está sendo criada uma "falsa polarização".
Lula prometeu se manter distante das acusações eleitorais, mas acabou se contradizendo logo em seguida, ao criticar Ciro por sua proposta de aumento do salário mínimo e pela forma como fez aliança com o ex-senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), com direito a beija-mão em frente às câmeras.
"Estão inventando uma polarização inexistente. O fato de você fazer uma campanha acusatória não significa polarização", declarou Lula, em entrevista coletiva após participar de programa na Rádio Bandeirantes ontem de manhã em São Paulo.
Seguindo a estratégia de campanha desenhada por sua assessoria, o petista tem procurado se preservar, fazendo apenas críticas pontuais a seus adversários e insistindo em tratar principalmente de seu programa de governo.
O problema que começa a incomodar os petistas, segundo a Folha apurou, é que a estratégia de "jogar pelo empate" -administrando a vantagem nas pesquisas- pode retirar de Lula o foco principal da mídia. Sem aparecer, o petista poderia ter mais dificuldade em subir nas pesquisas e assegurar com tranquilidade a passagem para o segundo turno.
Ontem, o desconforto do candidato com o assunto ficou bem claro. "Eles [Ciro e Serra" estão tentando ocupar espaço, porque todos querem saber quem vai para o segundo turno. O Brasil ganharia mais se os candidatos estivessem preocupados em mostrar seus programas", declarou.
O petista afirmou que seus dois adversários são "frutos de uma mesma árvore", outro argumento pelo qual tentou desqualificar a "polarização".
"Acontece que o Ciro se desgarrou [da árvore". Então, o governo quer provar, por "a mais b", que o Ciro está errado", declarou.
Sobre a aliança de Ciro com ACM, Lula atacou não tanto o pacto em si, mas a maneira como foi feito. "Dar a mão, pode dar. O que não pode é [Ciro" beijar [a mão do ex-senador". Esse é o problema", declarou à Bandeirantes.
Ironizando o gesto de Ciro, Lula afirmou que só beijou duas mãos em sua vida: a da mulher, Marisa, e a do papa João Paulo 2º.
Ele revelou inclusive que poderia ter levado foto do candidato ao debate entre os presidenciáveis, no domingo, cedida por jornais do Nordeste, mas desistiu. "Não é hora de brigar com o Ciro."
Lula, no entanto, alfinetou a proposta do presidenciável de elevar o salário mínimo para US$ 100. "Eu, como não sou candidato a presidente dos EUA, pretendo continuar falando que vou dobrar o poder aquisitivo do salário mínimo."

Leão petista
O petista criticou a maneira como é usado o Fundo de Amparo ao Trabalhador para cursos de requalificação profissional, dizendo que criam "subordinação" do movimento sindical ao governo. Ele negou que fosse uma crítica indireta ao vice de Ciro, Paulo Pereira da Silva, que chegou a ser acusado de irregularidades na gestão de verbas do FAT.
Antes de saber da renovação do acordo do FMI (Fundo Monetário Internacional) com o Brasil, Lula voltou a dizer que não aceitaria a exigência de aumento da meta de superávit primário, hoje em 3,75% do PIB. Uma meta maior significaria maior aperto na economia, obrigando a novo corte de gastos. O acordo anunciado na tarde de ontem mantém a meta em 3,75%.
Para ele, superávits maiores seriam possíveis, desde que baseados na elevação da arrecadação, o que ele voltou a prometer em seu governo. "Muitos dos que sonegaram nos últimos anos vão temer sonegar no começo do novo governo. O "leão" [como é conhecida a Receita Federal] do Lula vai ser mais feroz", afirmou.
(FÁBIO ZANINI)



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