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São Paulo, sexta-feira, 08 de agosto de 2003

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TENSÃO NO CAMPO

Integrantes do MST fazem protesto contra a falta de alimentos e a prisão de seis trabalhadores rurais

Sem-terra saqueiam caminhão em Alagoas

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

Em duas ações realizadas ontem em Alagoas, trabalhadores rurais sem terra saquearam um caminhão com 17 toneladas de derivados de milho, no interior do Estado, e acamparam em frente ao presídio Cyridião Durval, em Maceió, em protesto contra a falta de alimentos e a prisão de seis lavradores, ocorrida anteontem no litoral norte.
O saque, promovido pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), aconteceu na rodovia estadual AL-220, entre os municípios de Geramataia e Craíbas, a 145 km da capital.
Cerca de 200 sem-terra bloquearam a estrada e desviaram o caminhão com os alimentos para as proximidades de um acampamento. O motorista Ailton Francisco da Silva, 35, permaneceu detido no local enquanto os lavradores transportavam a carga para os barracos de lona.
Em depoimento à Polícia Civil, Silva disse que não sofreu agressão. Segundo ele, o prejuízo foi de R$ 80 mil. Os produtos seriam entregues nos municípios alagoanos de Dois Riachos, Cacimbinhas e Major Isidoro.
"O governo federal prometeu entregar 14 mil cestas básicas até o dia 3 de julho, mas não cumpriu a palavra", afirmou o coordenador estadual do MST Paulo Vieira, 29. "O povo está com fome e revoltado porque também não conseguiu renegociar suas dívidas com o Pronaf [Programa Nacional de Agricultura Familiar]", declarou.
Quase ao mesmo tempo em que os saqueadores agiam no interior do Estado, outro grupo de sem-terra protestava em Maceió contra a prisão de seis integrantes da CPT (Comissão Pastoral da Terra), ocorrida anteontem em Porto de Pedras, litoral norte.
Com o apoio do MST, cerca de 600 agricultores ligados à CPT fizeram uma passeata no centro da cidade e um ato em frente à sede do governo estadual. Em seguida, acamparam junto ao presídio.
Segundo os manifestantes, os presos foram transferidos da cadeia de Porto de Pedras para o presídio Cyridião Durval sem o conhecimento dos advogados das entidades dos sem-terra.
A CPT e o MST também negam que os acusados tenham participado de um bloqueio com cobrança de pedágio na rodovia AL-101, motivo da prisão.
Os manifestantes montaram barracas ao lado do muro do presídio e afirmaram que só vão deixar o local após a libertação dos lavradores. A CPT entrou com pedido de habeas corpus no Tribunal de Justiça do Estado.
O governador de Alagoas, Ronaldo Lessa (PSB), condenou as ações dos sem-terra. "Não podemos tolerar que alguns radicais infiltrados nos movimentos que sempre tiveram nosso apoio quebrem o elo da democracia", afirmou, por meio de sua assessoria.
Lessa pediu "paciência" em relação ao governo Lula. Disse que sete meses de governo são "insuficientes" para que o presidente coloque em prática seu ideal de reforma agrária.


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