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TENSÃO NO CAMPO
Integrantes do MST fazem protesto contra a falta de alimentos e a prisão de seis trabalhadores rurais
Sem-terra saqueiam caminhão em Alagoas
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE
Em duas ações realizadas ontem
em Alagoas, trabalhadores rurais
sem terra saquearam um caminhão com 17 toneladas de derivados de milho, no interior do Estado, e acamparam em frente ao
presídio Cyridião Durval, em Maceió, em protesto contra a falta de
alimentos e a prisão de seis lavradores, ocorrida anteontem no litoral norte.
O saque, promovido pelo MST
(Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra), aconteceu na
rodovia estadual AL-220, entre os
municípios de Geramataia e Craíbas, a 145 km da capital.
Cerca de 200 sem-terra bloquearam a estrada e desviaram o
caminhão com os alimentos para
as proximidades de um acampamento. O motorista Ailton Francisco da Silva, 35, permaneceu detido no local enquanto os lavradores transportavam a carga para os
barracos de lona.
Em depoimento à Polícia Civil,
Silva disse que não sofreu agressão. Segundo ele, o prejuízo foi de
R$ 80 mil. Os produtos seriam entregues nos municípios alagoanos
de Dois Riachos, Cacimbinhas e
Major Isidoro.
"O governo federal prometeu
entregar 14 mil cestas básicas até o
dia 3 de julho, mas não cumpriu a
palavra", afirmou o coordenador
estadual do MST Paulo Vieira, 29.
"O povo está com fome e revoltado porque também não conseguiu renegociar suas dívidas com
o Pronaf [Programa Nacional de
Agricultura Familiar]", declarou.
Quase ao mesmo tempo em que
os saqueadores agiam no interior
do Estado, outro grupo de sem-terra protestava em Maceió contra a prisão de seis integrantes da
CPT (Comissão Pastoral da Terra), ocorrida anteontem em Porto
de Pedras, litoral norte.
Com o apoio do MST, cerca de
600 agricultores ligados à CPT fizeram uma passeata no centro da
cidade e um ato em frente à sede
do governo estadual. Em seguida,
acamparam junto ao presídio.
Segundo os manifestantes, os
presos foram transferidos da cadeia de Porto de Pedras para o
presídio Cyridião Durval sem o
conhecimento dos advogados das
entidades dos sem-terra.
A CPT e o MST também negam
que os acusados tenham participado de um bloqueio com cobrança de pedágio na rodovia AL-101, motivo da prisão.
Os manifestantes montaram
barracas ao lado do muro do presídio e afirmaram que só vão deixar o local após a libertação dos
lavradores. A CPT entrou com pedido de habeas corpus no Tribunal de Justiça do Estado.
O governador de Alagoas, Ronaldo Lessa (PSB), condenou as
ações dos sem-terra. "Não podemos tolerar que alguns radicais
infiltrados nos movimentos que
sempre tiveram nosso apoio quebrem o elo da democracia", afirmou, por meio de sua assessoria.
Lessa pediu "paciência" em relação ao governo Lula. Disse que
sete meses de governo são "insuficientes" para que o presidente coloque em prática seu ideal de reforma agrária.
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