São Paulo, segunda-feira, 08 de agosto de 2005

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Para CPI, Usiminas nutriu esquema

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Já são quatro políticos mineiros a admitir o recebimento de doação de caixa dois da Usiminas em 2004 por meio da SMPB Comunicação, no total de R$ 905 mil. Mas a companhia siderúrgica só informou à Receita Federal ter pago R$ 800 à agência de propaganda no ano passado, segundo dados obtidos pela Folha. Ou seja, apenas 0,08% do dinheiro supostamente não declarado.
Para integrantes da CPI dos Correios, o fato é praticamente a confirmação de que a Usiminas alimentou o caixa dois da SMPB para fins políticos. A SMPB é uma das agências de propaganda do publicitário Marcos Valério.
"O nosso desafio agora é identificar a origem do dinheiro que irrigava o esquema do PT. O destino já está mais ou menos desenhado. Temos de levantar as empresas que contribuíam para o caixa dois petista e quais interesses tinham no governo", disse o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA).
Há discrepâncias milionárias também entre os pagamentos feitos por Telemig e Amazônia Celular às agências de Valério, segundo levantamento da CPI, e os valores que declararam à Receita.
A assessoria das duas operadoras de telefonia celular admite que realmente as empresas não informaram os créditos à Receita, mas culpam DNA e SMPB pelas falhas (leia texto nesta página).

Novo beneficiário
O mais recente a afirmar que ganhou doação de campanha não contabilizada da Usiminas por intermédio da empresa de Valério é o deputado petista João Magno (PT), que aparece na lista dos beneficiários da SMPB.
Ele disse que recebeu R$ 200 mil da empresa siderúrgica no final do ano passado, quando tentou se eleger prefeito de Ipatinga (MG). A Usiminas afirma que está em dia com a Receita Federal, mas não desmente nem confirma as doações ilegais de campanha. A assessoria informou que a empresa não comentaria o assunto.
O primeiro a falar publicamente sobre o recebimento do dinheiro da Usiminas por meio da empresa de Valério foi o deputado pefelista Roberto Brant (R$ 150 mil). Logo depois, Paulo Menecucci, coordenador do PSDB na campanha do candidato João Leite (então PSB), informou que sacou R$ 205 mil da conta da SMPB, também referente à doação da Usiminas. O tucano João Carlos Lisboa afirmou que a empresa usou o esquema para lhe doar R$ 350 mil.
Todos os quatro disputaram prefeituras no ano passado em Minas, mas foram derrotados.
Na semana passada, João Magno divulgou carta no Congresso admitindo que recebeu dinheiro de caixa dois por intermédio da SMPB para o pagamento de dívidas de suas campanhas de 2002 e 2004. Mas não falou em valores.
Ao senador Álvaro Dias (PSDB-PR), contudo, confidenciou detalhes. Magno primeiro apareceu na lista dos destinatários do caixa dois com R$ 29 mil. Mas recebeu pelo menos R$ 264 mil. Disse a Dias que foram quatro pagamentos, o mais alto deles da Usiminas.
Em 19 de setembro de 2003, seu irmão Hermínio de Araújo teria recebido R$ 25 mil em seu nome.
A Usiminas não é desconhecida dos petistas. Em 7 de agosto de 2003, o então ministro da Casa Civil José Dirceu recebeu no Palácio do Planalto o presidente da empresa, Rinaldo Soares. Participaram da mesma audiência, juntamente com Dirceu e Rinaldo, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e o publicitário Marcos Valério -réus confessos do caixa dois usado pelo partido.

Teles
A Telemig Celular e a Amazônia Celular foram arrastadas para o centro das investigações do "mensalão" por dois motivos. Primeiro, porque o controlador das duas teles é o Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas. Valério já admitiu publicamente que se aproximou de Dantas para defender interesses de suas empresas.
A segunda razão é que as duas teles depositaram milhões nas contas da SMPB e da DNA nos últimos três anos. No entanto, assim como a Usiminas, pouco ou nada informaram à Receita Federal sobre os créditos para as agências de Valério.
Segundo a CPI, DNA e SMPB receberam juntas R$ 125,97 milhões de Telemig e Amazônia Celular entre 2000 e o primeiro trimestre deste ano. Foram R$ 94,32 milhões da Telemig e R$ 31,64 milhões da Amazônia Celular.
Em 2001, a Telemig informou à Receita que pagou à DNA R$ 2,92 milhões. A Amazônia Celular informou que pagou à mesma empresa R$ 94,75 mil. Desde então, nenhuma das duas operadoras informou pagamentos à Receita.
Em 2002, a Telemig comunicou ao fisco o pagamento de R$ 840 mil à SMPB. Depois, não informou mais nada. A Amazônia Celular não enviou à Receita nenhum dado sobre a SMPB.

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