São Paulo, sábado, 08 de agosto de 2009

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Senado paga milhões em imposto indevido desde maio de 2007

Casa descumpre acórdão do TCU que proíbe cobrança de dois tributos nas planilhas de custos de empresas terceirizadas

Senado tem 34 contratos de terceirizadas, com gasto anual de R$ 152 mi; em 2008, estima-se que poderiam ter sido economizados R$ 8 mi


ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Senado gasta, há dois anos, milhões com pagamentos de tributos que não deve. Desde maio de 2007, a Casa descumpre acórdão do TCU que proíbe a cobrança de CSLL (Contribuição Social sobre Lucro Líquido) e do IRPJ (Imposto de Renda de Pessoa Jurídica) nas planilhas de custos de empresas terceirizadas.
Atualmente, o Senado tem 34 contratos de mão de obra terceirizada, cujo gasto anual é de R$ 152 milhões. Por isso estima-se que, só no ano passado, cerca de R$ 8 milhões poderiam ter sido economizados dos cofres públicos.
Na semana que vem, a Secretaria de Controle Interno do Senado deverá entregar à Diretoria Geral um relatório em que recomenda a renegociação com as empresas que prestam serviço na Casa. O principal argumento é o de que o TCU considera a cobrança dos impostos irregular, pois incidem sobre o lucro das empresas e não sobre o custo. "O cômputo do IRPJ e da CSLL como custo não é possível por se constituírem em tributos de natureza direta e personalística", diz acórdão do TCU que teve como relator o ministro Augusto Nardes.
"Penso que a unidade técnica já demonstrou, inclusive, a natureza indevida da prática, contrária à legislação do imposto de renda, que proíbe a contabilização dos impostos diretos como despesa", completou o ministro no documento assinado em maio de 2007.
Segundo o diretor da Subsecretaria de Planejamento e Controle de Contratações, Marcos André de Melo, até o ano passado, todas as empresas de mão de obra terceirizada incluíam em suas planilhas de custos as cobranças de CSLL e IRPJ. "Ainda precisamos fazer um levantamento de todos os processos. Sei que nos novos contratos nós já mandamos retirar esses tributos", disse Melo. Anteontem ele entregou ao diretor-geral-adjunto do Senado, Luciano de Souza Gomes, uma cópia de outro acórdão do TCU que também recomenda o fim do pagamento dos tributos.

Apuração
Por amostragem, a Secretaria de Controle Interno analisou o contrato que o Senado mantém com a terceirizada Adservis, empresa que fornece mão de obra para a Rádio Senado, Técnica de Eletrônica, Taquigrafia e ILB (Instituto Legislativo Brasileiro) pelo valor anual de R$ 4.286.076.
Segundo os técnicos de controle, o Senado gastou só nesse contrato R$ 280 mil a mais do que deveria.
O contrato com a Adservis foi assinado em 1º de outubro de 2004 pelo então diretor-geral do Senado Agaciel da Silva Maia. De lá para cá foram feitos 12 aditamentos, que incluem prorrogações e reajuste dos valores previstos.
A última prorrogação deu-se, por mais um ano, em outubro passado. Na oportunidade, já havia a determinação do TCU para renegociar o fim da cobrança de CSLL e IRPJ. No entanto, o contrato foi prorrogado sem a correção.
O primeiro-secretário da Casa, senador Heráclito Fortes (DEM-PI), determinou auditorias nos contratos de empresas terceirizadas, principalmente após a deflagração da crise no Senado em março deste ano quando Agaciel Maia foi demitido da Diretoria Geral.


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