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Deputado deve passar de vítima a investigado em inquérito da PF
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Polícia Federal deve encaminhar ao STF (Supremo Tribunal
Federal) o inquérito instaurado
para apurar suposta tentativa de
extorsão praticada pelo empresário Sebastião Buani, dono da rede
de restaurantes Fiorella, contra o
presidente da Câmara, Severino
Cavalcanti (PP-PE).
Decisivo para o envio do inquérito será o depoimento de Buani,
previsto para hoje, na PF em Brasília. Em viagem a Nova York, onde cumpre agenda na ONU, Severino tem dado rápidas declarações e apresentando versões conflitantes ao tratar do assunto.
O inquérito que investiga o caso
é conduzido pela PF em procedimento ordinário, porque, nos termos em que foi instaurado, Severino, que tem direito a foro privilegiado no STF, seria vítima e não
investigado. No entanto, como está confirmada a existência de um
documento ilegal, assinado em
2002, no qual Severino autorizou
Buani a continuar explorando
restaurantes e lanchonetes da Câmara sem licitar um novo contrato, o presidente da Câmara deve
passar de vítima a investigado.
Por trás do contrato, conforme
revelou a revista "Veja" no último
final de semana, estaria uma propina de R$ 40 mil à vista e mais
R$ 10 mil mensais paga por Buani
a Severino em 2002 e 2003.
Em depoimento à PF na última
terça-feira, Izeilton Carvalho, ex-gerente do restaurante Fiorella,
disse que funcionários de Buani
contavam o dinheiro e dividiam a
suposta propina em envelopes,
que eram entregues a secretárias
do hoje presidente da Câmara.
Carvalho afirmou que Gizeli, diretora financeira da empresa, juntamente com seu pai, Buani, "preparavam os envelopes" e "solicitavam aos funcionários Hélio e
Ribamar, além de outros que não
sabe declinar o nome, que entregassem" a suposta propina às secretárias Gabriela e Rucely, lotadas no gabinete de Severino.
No depoimento de três horas,
Carvalho apresenta indícios do
envolvimento de Gonzaga Patriota na suposta negociação ilegal
que, mediante pagamento de propina, teria permitido ao empresário Buani continuar a explorar,
sem base legal, restaurante e lanchonetes na Câmara Federal.
Carvalho afirmou que Buani,
com dificuldades financeiras, devendo à Câmara e querendo parcelar suas dívidas, procurou um
assessor de Severino chamado José Carlos Albuquerque, de quem
o empresário teria ouvido que o
documento, por meio do qual a
Fiorella continuou operando na
Casa após o vencimento do contrato, em 2003, "não tinha valor
legal". Em complemento, Albuquerque teria feito o seguinte comentário: "o Gonzaga Patriota
[deputado pelo PSB-PE, com
quem Severino teria dividido os
R$ 40 mil] não deveria ter feito isso com o deputado [Severino]".
O documento é hoje o principal
elemento da oposição para pedir
o afastamento de Severino.
Na edição on line da "Veja", que
circulou na última terça-feira, Patriota, que nega recebimento de
propina, admite ter participado
da elaboração do documento.
Ainda com relação a Patriota,
Izeilton acrescenta que um parente do deputado, de nome Jamesson, "trabalhou na empresa de
Buani por um período de seis meses e que foi demitido "após a
constatação" de que teria roubado um cartão de vale-refeição.
Procurado pela Folha, Patriota
não foi localizado até o fechamento desta edição.
Carvalho admite que, após deixar a empresa de Buani, desempregado, tentou conseguir "garantias financeiras e pessoais" de
veículos da imprensa interessados em publicar a história. Conforme seu advogado, Aldo Campos, Izeilton nunca negou tal fato
e isso não torna menos relevantes
suas declarações e os indícios que
reuniu ainda na Fiorella.
"Ele não é acusador nem acusado. É testemunha da pressão de
Buani sobre Severino [para conseguir um parcelamento de dívidas] e reuniu indícios que levam a
acreditar que existiu pagamento
de propina", disse Campos.
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