São Paulo, quinta-feira, 08 de setembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Deputado deve passar de vítima a investigado em inquérito da PF

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Polícia Federal deve encaminhar ao STF (Supremo Tribunal Federal) o inquérito instaurado para apurar suposta tentativa de extorsão praticada pelo empresário Sebastião Buani, dono da rede de restaurantes Fiorella, contra o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE).
Decisivo para o envio do inquérito será o depoimento de Buani, previsto para hoje, na PF em Brasília. Em viagem a Nova York, onde cumpre agenda na ONU, Severino tem dado rápidas declarações e apresentando versões conflitantes ao tratar do assunto.
O inquérito que investiga o caso é conduzido pela PF em procedimento ordinário, porque, nos termos em que foi instaurado, Severino, que tem direito a foro privilegiado no STF, seria vítima e não investigado. No entanto, como está confirmada a existência de um documento ilegal, assinado em 2002, no qual Severino autorizou Buani a continuar explorando restaurantes e lanchonetes da Câmara sem licitar um novo contrato, o presidente da Câmara deve passar de vítima a investigado.
Por trás do contrato, conforme revelou a revista "Veja" no último final de semana, estaria uma propina de R$ 40 mil à vista e mais R$ 10 mil mensais paga por Buani a Severino em 2002 e 2003.
Em depoimento à PF na última terça-feira, Izeilton Carvalho, ex-gerente do restaurante Fiorella, disse que funcionários de Buani contavam o dinheiro e dividiam a suposta propina em envelopes, que eram entregues a secretárias do hoje presidente da Câmara.
Carvalho afirmou que Gizeli, diretora financeira da empresa, juntamente com seu pai, Buani, "preparavam os envelopes" e "solicitavam aos funcionários Hélio e Ribamar, além de outros que não sabe declinar o nome, que entregassem" a suposta propina às secretárias Gabriela e Rucely, lotadas no gabinete de Severino.
No depoimento de três horas, Carvalho apresenta indícios do envolvimento de Gonzaga Patriota na suposta negociação ilegal que, mediante pagamento de propina, teria permitido ao empresário Buani continuar a explorar, sem base legal, restaurante e lanchonetes na Câmara Federal.
Carvalho afirmou que Buani, com dificuldades financeiras, devendo à Câmara e querendo parcelar suas dívidas, procurou um assessor de Severino chamado José Carlos Albuquerque, de quem o empresário teria ouvido que o documento, por meio do qual a Fiorella continuou operando na Casa após o vencimento do contrato, em 2003, "não tinha valor legal". Em complemento, Albuquerque teria feito o seguinte comentário: "o Gonzaga Patriota [deputado pelo PSB-PE, com quem Severino teria dividido os R$ 40 mil] não deveria ter feito isso com o deputado [Severino]".
O documento é hoje o principal elemento da oposição para pedir o afastamento de Severino.
Na edição on line da "Veja", que circulou na última terça-feira, Patriota, que nega recebimento de propina, admite ter participado da elaboração do documento.
Ainda com relação a Patriota, Izeilton acrescenta que um parente do deputado, de nome Jamesson, "trabalhou na empresa de Buani por um período de seis meses e que foi demitido "após a constatação" de que teria roubado um cartão de vale-refeição.
Procurado pela Folha, Patriota não foi localizado até o fechamento desta edição.
Carvalho admite que, após deixar a empresa de Buani, desempregado, tentou conseguir "garantias financeiras e pessoais" de veículos da imprensa interessados em publicar a história. Conforme seu advogado, Aldo Campos, Izeilton nunca negou tal fato e isso não torna menos relevantes suas declarações e os indícios que reuniu ainda na Fiorella.
"Ele não é acusador nem acusado. É testemunha da pressão de Buani sobre Severino [para conseguir um parcelamento de dívidas] e reuniu indícios que levam a acreditar que existiu pagamento de propina", disse Campos.


Texto Anterior: Empresário deve confirmar à PF pagamentos a Severino
Próximo Texto: Escândalo do "mensalão"/A hora do "mensalinho": Severino dá 3 versões sobre contrato que o compromete
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.