São Paulo, quinta-feira, 08 de setembro de 2005

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JANIO DE FREITAS

Mais pistas, menos pressa

Menos espalhafatosas do que as revelações em depoimentos, as descobertas pelo exame de documentos já abrem, no entanto, pistas valiosas e, em certos casos, mais promissoras das explicações que os depoimentos sonegaram às CPIs.
O exame dos telefonemas, por exemplo, já dá informações importantes, embora longe de sua conclusão. As fontes de recursos para as operações de Valério/PT continuam obscuras, de uma parte, porque os tão falados empréstimos até hoje não estão comprovados; de outra, pelos vários indícios da utilização da publicidade governamental e dos negócios de estatais para alimentar o caixa operado por Delúbio e Valério.
Em resposta preliminar à busca de fontes, os telefonemas identificados já fazem uma indicação objetiva.
A par das 121 ligações de Delúbio para setores da Presidência, por si mesmas sugestivas da negada conexão operacional de PT e Planalto, as 144 ligações dos Correios, sobretudo de sua presidência, para Delúbio dão indícios muito menos políticos do que comerciais. Telefonemas de Delúbio para setores financeiros dos Correios também foram encontrados. E não foi senão pelos Correios que começou, com vídeo e voz, o escândalo que une corrupção e alianças políticas feitas pelo governo Lula.
Esse fruto inicial da quebra de sigilos telefônicos faz duas demonstrações. Uma delas é o quanto há ainda de pistas potenciais e de pistas percebidas mas intactas. A outra, decorrente da anterior, é a impropriedade da recente e enfática afirmação do presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral, a propósito de possível prorrogação das investigações: "De novembro não passa". A rigor, sua frase levaria um ponto de exclamação.
Jornalistas já afirmaram que o petista Delcídio Amaral, chamado ao Planalto na semana passada, recebeu de Lula o pedido, ou a recomendação, de encurtar a duração da CPI tanto quanto possa. Não consta confirmação do pedido, nem a ação de Delcídio Amaral na CPI suscitou, até aqui, críticas mais graves. Mas, seja lá pelo que for, sua predisposição existe e não tem cabimento.
O dever constitucional de uma CPI é levar as investigações até o limite do possível e daí extrair as conclusões imparciais e adequadas. O contrário disso é a CPI do Banestado, cuja inconclusão, depois de tantas trapalhadas para lá de suspeitas, justificaria uma CPI para investigar o que nela ocorreu.
Não há dúvida: há muito a ser apurado pelas CPIs dos Correios, do Mensalão e dos Bingos -e muita, muita gente sabe disso no Congresso, no governo e fora dos dois. A sua duração deve ser a da completude da investigação e da compreensão plena dos fatos.

Sim e não
Tarso Genro esclarece, a propósito de nota da última terça-feira: votará, sim, em Ricardo Berzoini para presidente do PT, mas, dado que as votações são em separado, não o fará na chapa integrada por José Dirceu, a do Campo Majoritário, para compor a direção nacional do partido.


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