São Paulo, quinta-feira, 08 de setembro de 2005

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Lula abandona defesa de deputado

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ao ministro Jaques Wagner (Relações Institucionais) e aos principais articuladores políticos no Congresso que se afastem do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE).
Após a divulgação no final de semana da acusação de que Severino recebeu propina para proteger um concessionário da Câmara, o governo cerrou fileiras com o presidente da Casa, tido como aliado na crise política. No bastidor, Lula ensaiou defendê-lo.
Mas, na avaliação do governo, a divulgação na terça-feira de um documento com a assinatura de Severino prorrogando a concessão de um restaurante na Câmara complicou a situação do deputado. E levou Lula a recuar da tentativa de protegê-lo.
Na segunda-feira, Lula telefonou para o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e pediu ajuda para evitar a eventual renúncia ou abertura de pedido de cassação de Severino. Fez o mesmo em relação aos petistas. Resultado: o PMDB e o PT ficaram fora do movimento da oposição para tentar derrubá-lo.

"Pré-candidato"
A disposição pró-Severino do governo começou a mudar na manhã de terça-feira, quando o líder da minoria, o deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA), telefonou para Jaques Wagner, articulador político do governo, e disse que ao longo do dia surgiria uma "prova" que derrubaria Severino.
Mais: Aleluia disse que a eventual queda de Severino e a eleição de um oposicionista para o seu lugar não significariam a facilitação de abertura de um eventual processo de impeachment contra o presidente Lula. Aleluia sinalizou que é candidato a suceder Severino, como defendem setores do PFL e do PSDB, e que não jogará contra o governo federal.
De tarde, veio a "prova" que Aleluia comentara com Wagner. A revista "Veja", em seu site na internet, divulgou o documento assinado por Severino quando primeiro secretário da Câmara que garantiria a prorrogação da concessão. Naquele momento, Wagner se reunia com congressistas aliados para discutir a situação do presidente da Câmara.
Segundo a Folha apurou, todos avaliaram que a situação se complicara muito e que Lula deveria manter uma "distância prudente", segundo um dos presentes. Lula concordou com o diagnóstico e pediu aos articuladores que não se intrometam no imbróglio. Decidiu que não fará gestos para salvá-lo nem para derrubá-lo.

Sucessão
Lula e seus principais auxiliares já se preparam para um cenário no qual haveria uma guerra entre Severino e a oposição. Guerra que poderia culminar na eleição de um novo presidente da Câmara e na retaliação de Severino a oposicionistas, acirrando ainda mais os ânimos num momento em que a Câmara analisa a eventual cassação de 18 de seus membros.
Por isso, o governo passou a discutir discretamente opções para uma nova candidatura ao comando da Câmara dos Deputados.
A Folha apurou que o Planalto não descarta um eventual acordo com Aleluia, visto como um oposicionista com o qual poderá conviver se não tiver forças para eleger um governista.
O governo aventou nomes que poderiam assumir uma candidatura na Câmara. A Folha ouviu as seguintes opções, todas embrionárias: Paulo Delgado (PT-MG), Sigmaringa Seixas (PT-DF), Aldo Rebelo (PC do B-SP) e Eduardo Campos (PSB-PE).
Os dois primeiros são petistas com bom trânsito na oposição. Aldo é um ex-ministro que procurou manter canais com a oposição quando coordenador político do governo. Campos foi lembrado por ser um hábil articulador, que, assim como Aldo e os petistas, é um governista que conversa bem com a oposição.


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