São Paulo, quinta-feira, 08 de setembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TODA MÍDIA

Nelson de Sá

Sem povo

Na escalada do "Jornal Nacional", à noite, "vaias e aplausos".
Na Band News, durante a transmissão, "vaias e aplausos". Dizia a Globo News, "alguns carregavam cartazes contra a corrupção, já outros apoiavam o presidente".
Nas rádios Jovem Pan e CBN, "vaias e aplausos".
No enunciado à tarde na Folha Online, "Lula ouve vaias e aplausos". E no Globo Online, revezando as fotos de um e de outro grupo em sua home page, "vaias e aplausos".
Aqui e ali, o registro talvez mais significativo de que "30 mil acompanham o desfile, metade do que era esperado", na Band. Ou que "30 mil compareceram, número bem menor do que o esperado", na Globo.
 
O mesmo se viu no Grito dos Excluídos, organizado pela Conferência dos Bispos e pelos movimentos sociais, contra a política econômica, deixando vazar também para as críticas à corrupção.
No relato da repórter da Band, "em Brasília, o Grito foi fraco". Em São Paulo foi um pouco maior, como mostrou a Globo, primeiro na Sé, seguindo depois para o Ipiranga.
Os petistas estiveram lá, com Eduardo Suplicy e Ivan Valente em entrevistas na Globo News e com Luiz Eduardo Greenhalgh na Jovem Pan.
Mas foi só em Aparecida, na basílica, que o Grito fez lembrar os anteriores em participação. A Globo contou "40 mil na missa do trabalhador".
Ainda assim, também lá foi menos do que o esperado. Antes se falava em 90 mil.
 
Em longa entrevista à CBN, por celular, saindo de Aparecida pela Dutra, João Pedro Stedile, do Movimento dos Sem-Terra, avaliou que a desmobilização popular é fenômeno histórico, da última década, mas também "conjuntural":
- Se agravou com a denúncia de corrupção, deixando o povo mais aborrecido. Veja que, no meio da crise, o povo tem ficado quieto. Não se manifesta contra ou a favor do governo Lula. As manifestações que têm havido são de militância, nas quais os setores contra o governo tentam forçar o "Fora Lula" e os setores a favor tentam mobilizações de "Fica Lula". Mas são militantes, não são massivas.
Quanto aos sem-terra e outros movimentos:
- Do governo não esperamos mais nada... Deixe eu esclarecer melhor. É porque é um governo ambíguo, que mistura ministros progressistas com ministros conservadores. Então, se formos esperar a iniciativa do governo... Agora, nós acreditamos que há tempo ainda, desde que o povo se mobilize e passe a pressionar o governo.
Ele quer pressão por mudança na economia. Só que "o povo" não quer nem saber. Nem de ato contra a corrupção nem contra o neoliberalismo.
 
Aliás, o registro mais grotesco, na voz de Fátima Bernardes no meio da tarde:
- Confusão no desfile de Sete de Setembro no Recife. Dez mil assistiam à parada quando um grupo de punks começou a agredir a multidão.
Saíram batendo no "povo", sabe-se lá por quê.

DE ROTINA


Cena da violência no Rio

Desde o "Bom Dia Brasil" até o "Jornal Nacional", passando por "RJTV" e demais, a Globo apresentou o espetáculo de rotina -de violência- dos fins de semana e dos feriados nas grandes cidades. Era uma "ação de bandidos que montaram uma falsa blitz para assaltar motoristas" num túnel carioca. Até chegar a cavalaria, "em tempo real":
- O carro da TV Globo se aproximou e dois ladrões correram. Um pouco à frente, outro fugiu. Um quarto integrante do bando saiu do matagal com fuzil na mão. Com medo, as vítimas ficaram abraçadas.

SEM DUDA
Lula falou em rede, com o discurso esperado, de que nada vai mudar na economia, apesar da crise -e de que os culpados devem pagar, até mesmo os "amigos", como destacavam os sites noticiosos, em seguida.
Mas o que chamou a atenção foi que aos poucos, sem os cortes de sempre ou a mudança de câmeras, Lula foi perdendo o fôlego, até terminar quase sem ar.
É a ausência de Duda Mendonça, o encenador.

Para a semana
O "JN" também ouviu, "com exclusividade", o ex-gerente que vem denunciando Severino. Foi parar nas manchetes.
E depois de idas e vindas a oposição, afinal, "encaminhará o pedido de cassação":
- Mas só na semana que vem.
Aliás, ontem "manifestantes protestaram contra Severino em Copacabana", segundo a CBN.

Para o mês
E Daniel Dantas vem aí, afinal. Segundo a Folha Online, depois de idas e vindas também a CPI dos Correios conseguiu fechar o "calendário" do mês.
O banqueiro aparece no fim da fila, dia 21, mas está lá. Ou pelo menos, como registrou o site, "está prevista uma audiência".

@- nelsondesa@folhasp.com.br


Texto Anterior: Presidente não discursará na ONU
Próximo Texto: Escândalo do "mensalão"/Sete de setembro: Desfile é esvaziado, e Lula recebe vaias
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.