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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ SETE DE SETEMBRO
Evento reúne 30 mil, metade do recorde de 2004; em arquibancadas longe das autoridades, manifestantes protestavam contra governo e corrupção
Desfile é esvaziado, e Lula recebe vaias
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
No momento em que o governo
de Luiz Inácio Lula da Silva atravessa sua pior crise política, a comemoração do Sete de Setembro
levou ontem cerca de 30 mil pessoas à Esplanada dos Ministérios,
metade do recorde do desfile de
2004, em Brasília. Alguns manifestantes chegaram a vaiá-lo no
início do desfile e gritaram frases
contrárias ao governo.
Nas arquibancadas próximas às
autoridades ficaram convidados
do Planalto, que aplaudiram Lula
em sua chegada ao lado da primeira-dama, Marisa Letícia. Os
manifestantes foram mantidos à
distância. O casal percorreu em
carro aberto -o Rolls Royce presidencial- o trecho de um quilômetro entre a Praça dos Três Poderes e o palanque oficial, sob um
forte esquema de segurança.
O público, em geral, foi autorizado a ocupar somente as arquibancadas localizadas na segunda
metade do desfile cívico-militar,
com o primeiro lance de lugares
posicionado a cerca de cem metros do palanque oficial.
Quando foi anunciada a chegada de Lula nos alto-falantes, ouviu-se as vaias das arquibancadas
mais distantes, nas quais, por
exemplo, havia integrantes do
PSTU pedindo o impeachment de
Lula e a deposição de todo o Congresso. Mulheres de militares
também engrossaram o coro,
vaiando no momento em que Lula usou o microfone para anunciar o início do evento. Elas protestam por reajuste da categoria.
A maior parte das bandeiras de
protesto fazia menção à corrupção e à crise. Uma delas pedia
"Não à pizza". Outra falava em
"Campanha eleitoral barata para
acabar com a mamata".
Próximo ao palanque das demais autoridades, havia três arquibancadas, cuja entrada apenas
era permitida a portadores dos
1.650 convites distribuídos pela
Presidência a associações e sindicatos. Petistas eram maioria, e receberam o presidente sob o coro
de "Olê, olê, olá, Lula, Lula". Alguns deles, com bandeiras do partido e camisetas verde-amarelo,
vaiaram a chegada do governador
Joaquim Roriz (PMDB-DF).
"É claro que o presidente não
sabia de nada [sobre o esquema
de corrupção]. Não há provas",
disse o advogado Mozart Camapu, 40, com faixa com o nome de
Lula na cabeça. "A crise está superdimensionada na imprensa",
afirmou Lurdes Castro, 44.
Autoridades
Apesar do apoio e dos gritos de
seu nome, Lula preferiu a discrição, não respondendo, por exemplo, aos seguidos acenos dos petistas. Fez isso só quando deixou o
desfile. Sentado ao lado do vice-presidente, José Alencar, e do colega nigeriano, Olusegun Obasanjo, Lula assistiu, ora em pé ora
sentado, a cerca de duas horas e
20 minutos de desfile.
Usando uma faixa presidencial
com as cores verde e amarela, Lula cochichou seguidas vezes com
o presidente do STF, Nelson Jobim, e com o ministro Antonio
Palocci (Fazenda). "Falamos apenas sobre o desfile", disse Jobim.
Entre as autoridades no palanque oficial, além dos comandantes das Forças Armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica), havia 25 ministros, entre os 32 do
governo com esse status.
Já o Congresso não mandou representantes, com as ausências
dos presidentes Severino Cavalcanti (Câmara), que está em Nova
York em viagem oficial, e Renan
Calheiros (Senado). Apenas três
deputados, do PT, foram vistos.
Desfile
O evento começou pontualmente às 9h, com a chegada de
Lula e da primeira-dama, que se
desequilibraram quando o motorista freou bruscamente o carro
oficial em frente ao palanque. Entre os atrativos, atletas olímpicos e
paraolímpicos, alunos da rede pública e integrantes das Forças Armadas e das polícias Militar, Federal e Rodoviária Federal.
O céu cinzento ajudou a afastar
o público, segundo a PM. Já o ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) teve outra opinião: "Até são Pedro foi favorável
ao público, refrescando o clima
para nós". Neste ano a expectativa
do Planalto era levar pelo menos
50 mil pessoas ao evento.
Apesar da presença de público
abaixo da expectativa, a segurança estava reforçada. O efetivo da
PM e do Exército chegou a 3.000
homens. Foram usados 850 metros de grades para separar o público da parada. A apresentação
da Esquadrilha da Fumaça encerrou o desfile, às 11h20.
(EDUARDO SCOLESE, FERNANDO ITOKAZU, LUCIANA
CONSTANTINO E SILVIO NAVARRO)
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