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Exército confirma ameaça de Jobim contra generais
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O Exército confirmou ontem
que o ministro da Defesa, Nelson Jobim, ameaçou afastar o
comandante Enzo Martins Peri
e os demais generais que
apoiassem uma eventual nota
"fora de tom" contra o governo.
Ontem, no entanto, Jobim e
Enzo tentaram demonstrar
normalidade no palanque do
desfile de Sete de Setembro. E o
Exército manteve a decisão de
não alimentar a crise.
A confirmação da ameaça foi
extra-oficial e acompanhada de
uma ressalva: na prática, quem
nomeia e afasta os comandantes do Exército, da Marinha e
da Aeronáutica é o presidente
da República, na condição de
comandante-em-chefe das
Forças Armadas. A Defesa é
considerada pelos militares como "intermediadora".
Houve forte tensão na semana passada após o lançamento,
no Planalto, de um livro sobre
tortura no regime militar. Apór
reunir seu Alto Comando, o
Exército divulgou nota contra a
revisão da Lei da Anistia.
Ontem, o ministro, que ficou
ao lado do presidente Lula no
palanque, consumiu boa parte
do desfile lendo reportagens
reunidas pela equipe da Presidência sobre a crise da semana
passada entre a Defesa e o
Exército e sobre mudanças no
sistema de aviação civil no país.
Com expressão grave, o general fez várias ligações de seu celular, enquanto assessores providenciavam cópias dos textos.
Ele também cochichou com o
comandante da Aeronáutica,
Juniti Saito. Os três comandantes ficaram do lado esquerdo do
palanque, quando visto de frente, e Jobim ficou do lado direito, perto de Lula. Na chegada,
pouco antes das 9h, o ministro
e o general se cruzaram duas
vezes, mas não se falaram.
Já no fim da cerimônia, às
11h10, Jobim cochichou com
Lula, atravessou todo o palanque e conversou por cerca de 15
minutos com Enzo, Saito e o
comandante da Marinha, Júlio
Soares de Moura Neto. Deu especial atenção a Enzo, como se
posasse para os fotógrafos, que
estavam do outro lado da avenida. Os dois se falaram bastante,
gesticularam, apontaram detalhes do desfile. No final, Jobim
cumprimentou um a um e voltou para seu lugar.
O chefe-de-gabinete de Lula,
Gilberto Carvalho, disse que o
ministro e os militares ficaram
distantes no palanque por uma
formalidade do cerimonial.
"Está tudo normal, tudo tranqüilo", afirmou.
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