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Brasil anuncia acordo para comprar 36 caças franceses
Governo faz a escolha antes mesmo de a Aeronáutica opinar sobre concorrentes
Acerto foi finalizado em jantar entre Lula e Sarkozy; aviões podem acrescentar
R$ 10 bi aos R$ 22,5 bi para
helicópteros e submarinos
Alan Marques/Folha Imagem
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Lula e Sarkozy brincam com reflexo em espelho no Palácio da Alvorada, no dia em que assinaram mega-acordo na área militar
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo surpreendeu e
anunciou ontem que abriu negociação para a compra de 36
aviões de combate franceses,
em um "comunicado conjunto"
dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Nicolas Sarkozy.
O anúncio sobre os caças
ocorre no mesmo dia da divulgação de um mega-acordo militar entre os dois países -o
principal entendimento na
área desde a Segunda Guerra
Mundial-, pelo qual o Brasil
comprará helicópteros, submarinos convencionais e a tecnologia para desenvolver um modelo de propulsão nuclear.
Com os caças, será adicionada uma conta que pode chegar a
R$ 10 bilhões ao acordo acertado ontem, de R$ 22,5 bilhões, a
serem pagos em 20 anos.
Ao justificar os gastos militares, Lula falou na necessidade
de defender a Amazônia e o
pré-sal. "Deve sempre passar
pela nossa cabeça a ideia que o
petróleo já foi motivo de muitas
guerras e conflitos, e não queremos guerra nem conflito."
A decisão sobre os aviões, em
termos difusos, em tese coloca
fim a uma novela que se arrasta
desde 2001. Mas a Aeronáutica,
que receberá os aviões, não
chegou a finalizar seu relatório
avaliando o modelo Rafale e
seus competidores F-18 (EUA)
e Gripen (Suécia), o que causou
surpresa nos meios militares. A
Força não iria vetar nenhum
concorrente, mas avaliar prós e
contras de cada um.
O acordo foi selado na noite
de domingo, num jantar no Alvorada oferecido por Lula a
Sarkozy, seguido de reuniões
técnicas. Ele foi tornado público por meio de uma folha avulsa à declaração do acordo.
No texto, um fator que pode
ter sido decisivo para a celeridade do anúncio. Sarkozy comunica "a intenção da França"
de adquirir dez unidades da futura aeronave de transporte
militar e reabastecimento aéreo KC-390, da Embraer. O
avião está em fase de projeto,
com financiamento da FAB, e
uma promessa de venda externa deverá deslanchá-lo.
E Lula, "levando em conta a
amplitude de transferências de
tecnologia propostas e das garantias oferecidas pela parte
francesa", como diz a nota,
"anunciou a decisão da parte
brasileira de entrar em negociações com o GIE Rafale para a
aquisição de 36 aviões".
Em entrevista, Lula evitou
dar detalhes do acerto. "Os nossos companheiros trabalharam
até quase as 2h. Eu nem sequer
tive tempo de fazer reunião
com o ministro da Defesa para
discutir com profundidade."
Coube ao ministro Celso
Amorim (Relações Exteriores)
deixar a situação mais clara.
Questionado se o anúncio de
ontem eliminava os outros dois
concorrentes ao negócio, Amorim disse: "O que há é uma decisão de iniciar uma negociação
com um fornecedor. E não há a
mesma decisão em relação aos
outros dois [concorrentes]".
Amorim, que citou a possibilidade de venda, pelo Brasil,
destes aviões para países da
América Latina, disse que Paris
garantiu transferências tecnológicas amplas, ponto central
do interesse brasileiro.
A fabricante do Rafale, a Dassault, comemorou o acordo e
disse à mídia francesa que o negócio deve estar "concluído de
modo definitivo em 2010, se tudo correr bem". A Folha procurou a Boeing e a Saab, fabricantes dos concorrentes, e ambas
preferiram não se pronunciar.
Convidado de honra do Sete
de Setembro, Sarkozy comemorou. "O Rafale será desenvolvido em comum acordo com
nossos amigos brasileiros. Trata-se de uma escolha extremamente precisa e importante",
disse: "Compartilhar tecnologia não nos dá medo. O tempo
da colonização já acabou".
O comunicado pegou de surpresa a diplomacia americana,
que esperava uma decisão apenas no final de outubro, como
anunciara o Ministério da Defesa. Os EUA vinham fazendo
campanha intensa pelo F-18 da
Boeing. No início de agosto, a
secretária de Estado, Hillary
Clinton, enviara uma carta ao
Planalto em que prometia a
transferência de tecnologia.
(LETÍCIA SANDER E IGOR GIELOW)
Colaborou a Sucursal do Rio
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