São Paulo, terça-feira, 08 de setembro de 2009

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Brasil anuncia acordo para comprar 36 caças franceses

Governo faz a escolha antes mesmo de a Aeronáutica opinar sobre concorrentes

Acerto foi finalizado em jantar entre Lula e Sarkozy; aviões podem acrescentar R$ 10 bi aos R$ 22,5 bi para helicópteros e submarinos


Alan Marques/Folha Imagem
Lula e Sarkozy brincam com reflexo em espelho no Palácio da Alvorada, no dia em que assinaram mega-acordo na área militar

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo surpreendeu e anunciou ontem que abriu negociação para a compra de 36 aviões de combate franceses, em um "comunicado conjunto" dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Nicolas Sarkozy.
O anúncio sobre os caças ocorre no mesmo dia da divulgação de um mega-acordo militar entre os dois países -o principal entendimento na área desde a Segunda Guerra Mundial-, pelo qual o Brasil comprará helicópteros, submarinos convencionais e a tecnologia para desenvolver um modelo de propulsão nuclear.
Com os caças, será adicionada uma conta que pode chegar a R$ 10 bilhões ao acordo acertado ontem, de R$ 22,5 bilhões, a serem pagos em 20 anos.
Ao justificar os gastos militares, Lula falou na necessidade de defender a Amazônia e o pré-sal. "Deve sempre passar pela nossa cabeça a ideia que o petróleo já foi motivo de muitas guerras e conflitos, e não queremos guerra nem conflito."
A decisão sobre os aviões, em termos difusos, em tese coloca fim a uma novela que se arrasta desde 2001. Mas a Aeronáutica, que receberá os aviões, não chegou a finalizar seu relatório avaliando o modelo Rafale e seus competidores F-18 (EUA) e Gripen (Suécia), o que causou surpresa nos meios militares. A Força não iria vetar nenhum concorrente, mas avaliar prós e contras de cada um.
O acordo foi selado na noite de domingo, num jantar no Alvorada oferecido por Lula a Sarkozy, seguido de reuniões técnicas. Ele foi tornado público por meio de uma folha avulsa à declaração do acordo.
No texto, um fator que pode ter sido decisivo para a celeridade do anúncio. Sarkozy comunica "a intenção da França" de adquirir dez unidades da futura aeronave de transporte militar e reabastecimento aéreo KC-390, da Embraer. O avião está em fase de projeto, com financiamento da FAB, e uma promessa de venda externa deverá deslanchá-lo.
E Lula, "levando em conta a amplitude de transferências de tecnologia propostas e das garantias oferecidas pela parte francesa", como diz a nota, "anunciou a decisão da parte brasileira de entrar em negociações com o GIE Rafale para a aquisição de 36 aviões".
Em entrevista, Lula evitou dar detalhes do acerto. "Os nossos companheiros trabalharam até quase as 2h. Eu nem sequer tive tempo de fazer reunião com o ministro da Defesa para discutir com profundidade."
Coube ao ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) deixar a situação mais clara. Questionado se o anúncio de ontem eliminava os outros dois concorrentes ao negócio, Amorim disse: "O que há é uma decisão de iniciar uma negociação com um fornecedor. E não há a mesma decisão em relação aos outros dois [concorrentes]".
Amorim, que citou a possibilidade de venda, pelo Brasil, destes aviões para países da América Latina, disse que Paris garantiu transferências tecnológicas amplas, ponto central do interesse brasileiro.
A fabricante do Rafale, a Dassault, comemorou o acordo e disse à mídia francesa que o negócio deve estar "concluído de modo definitivo em 2010, se tudo correr bem". A Folha procurou a Boeing e a Saab, fabricantes dos concorrentes, e ambas preferiram não se pronunciar.
Convidado de honra do Sete de Setembro, Sarkozy comemorou. "O Rafale será desenvolvido em comum acordo com nossos amigos brasileiros. Trata-se de uma escolha extremamente precisa e importante", disse: "Compartilhar tecnologia não nos dá medo. O tempo da colonização já acabou".
O comunicado pegou de surpresa a diplomacia americana, que esperava uma decisão apenas no final de outubro, como anunciara o Ministério da Defesa. Os EUA vinham fazendo campanha intensa pelo F-18 da Boeing. No início de agosto, a secretária de Estado, Hillary Clinton, enviara uma carta ao Planalto em que prometia a transferência de tecnologia.
(LETÍCIA SANDER E IGOR GIELOW)

Colaborou a Sucursal do Rio



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