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ANÁLISE
Congresso omitiu-se da discussão
MARCO CHIARETTI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
"Brasil já vai à guerra, comprou porta-aviões, um viva pra
Inglaterra, de 82 milhões." A
música de Juca Chaves ironizava nos anos 50 a pretensão
eterna do Brasil à condição de
potência. O Minas Gerais não
era arma para tanto, mas a
compra de agora é diferente. Se
realmente se realizar na forma
em que é anunciada (e sem entrar no mérito da decisão), o
que ela faz é nos transformar de
fato em uma potência militar
média. Com todas as consequências que isso traz.
Tudo isso exige também uma
discussão que nunca foi feita,
no plano do Congresso, sobre
as consequências políticas, a
médio e longo prazo, dessas decisões. Aparentemente, esta legislatura não tem a menor condição de fazê-lo. Resta ver se os
eleitores escolherão a próxima
pensando nisso. Parece difícil.
O Congresso analisou em detalhe os planos de rearmamento? Não. O Congresso atual não
é capaz de analisar nada em detalhe, afundado em uma crise
sem fim. O Senado resolveu em
48 horas a questão do empréstimo, necessário para a compra.
Dois dias. Outra participação
"essencial" dos congressistas
foi ter aceito uma viagem de
cortesia para ver os aviões in loco, ou seja, viajaram à França
convidados pelo fornecedor.
A estratégia de Defesa do país
terá de enfrentar problemas
enormes, o não menor deles o
fato de que nunca nossas Forças Armadas usaram as armas
que agora se está comprando,
produzidas por estes fornecedores, que utilizam especificações técnicas diferentes dos armamentos que possuímos.
Teremos de aprender tudo.
Teremos de montar uma indústria capaz de fornecer insumos para estas armas, montar
estoques, preparar técnicos,
tripulações, construir bases. As
compras de agora obrigam o
país a ter de olhar de frente esta
questão. Potências médias exigem preparação de potências
médias. E orçamentos militares proporcionais a esta pretensão. Não basta comprar armas de US$ 2 bilhões. Há que
mantê-las. O que custa bem
mais do que isso.
A frota brasileira, armada de
submarinos de ataque com
propulsão nuclear, não teria
nenhuma rival na região. Dependendo do número de navios
e de suas especificações técnicas, poucos rivais fora. Seria soberana no Atlântico Sul. Isso
tem consequências no plano da
política externa. Foram analisadas pelo Senado?
Isso, aliado a uma aeronáutica eficiente e bem armada, muda o cenário geopolítico da região, e força nossos vizinhos a
rever suas posições vis-à-vis o
Brasil. Assim como muda nossa
forma de ver a política regional.
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