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INVESTIGAÇÃO
Paulo Maluf, Fernando e Leopoldo Collor, Gilberto Miranda e Naji Nahas são nomes associados aos papéis
Lista de envolvidos com dossiê é extensa
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DE WASHINGTON
A lista de políticos e empresários suspeitos de comprar e divulgar o dossiê Caribe é extensa. Há
ainda aqueles que manifestaram
interesse em examinar a papelada
e os que foram procurados para
que tornassem públicos os papéis
sobre a suposta conta secreta de
FHC e de tucanos no exterior.
Em 98, Gilberto Miranda, à época senador pefelista pelo Amazonas, viajou aos EUA diversas vezes a fim de obter o dossiê. Ele entregou ao senador Antonio Carlos
Magalhães (PFL-BA), presidente
do Congresso, supostos documentos. ACM confirmou que Miranda fez as viagens e disse que foi
a FHC e lhe deu ciência e cópia do
que conseguira.
O dossiê sugere uma conta secreta em um paraíso fiscal, numa
associação entre o presidente Fernando Henrique Cardoso, o ministro Sérgio Motta (morto em
abril de 1998), o ministro da Saúde, José Serra, e o governador de
São Paulo, Mário Covas.
A Folha revelou em 20 de abril
passado que o empresário Luiz
Cláudio Ferraz Silva, radicado em
Miami, prestou depoimento no
qual afirma que teve contatos em
98 com empresários e políticos interessados no dossiê. O primeiro
contato teria sido com Leopoldo
Collor, irmão de Fernando Collor
de Mello, ex-presidente afastado
em 92.
O depoimento foi prestado a
um advogado norte-americano,
que, pelas leis dos Estados Unidos, tem poder para dar fé pública
a declarações, não necessariamente de seus clientes.
Ferraz Silva, que não é parente
de José Maria Teixeira Ferraz,
identificado pelo FBI como negociador do dossiê, negou ter prestado o depoimento ao qual a Folha teve acesso.
No entanto, uma testemunha
que acompanhou a participação
de Ferraz Silva confirmou que o
depoimento foi dado. Essa testemunha também fez uma declaração relatando os contatos de Ferraz Silva com Leopoldo e Miranda. Mais: de acordo com essa testemunha, o dossiê que se tornou
público em 98 teria sido comprado, o que Miranda nega.
Ferraz Silva se aproximou de
Oscar de Barros e José Maria Teixeira Ferraz por intermédio de
Ney Santos, sócio dos últimos
dois em uma empresa de telemarketing. Teria sido organizado um
encontro numa casa de Boca Raton, Flórida, entre o pastor Caio
Fábio (representante de Barros e
de José Maria Teixeira Ferraz) e
Leopoldo Collor. Leopoldo teria
fechado o negócio por US$ 3,5
milhões, quantia que teria sido
paga com a ajuda de Miranda.
Leopoldo e Miranda negam.
Segundo trechos do depoimento de Ferraz Silva, ele disse ter se
encontrado com Leopoldo no segundo semestre de 98 em Nova
York. Leopoldo, de quem é amigo, faria a ponte com outros brasileiros. Leopoldo contesta essa informação.
De acordo com o depoimento,
Ferraz Silva entrou em contato
com o investidor Naji Nahas e
com Miranda em Nova York, o
que ambos dizem não ter ocorrido.
Paulo Maluf, à época candidato
a governador, teria obtido o dossiê com Miranda. Maluf negou ter
comprado o dossiê e tentado divulgá-lo. Mas, de posse dos papéis, enviou o ex-collorido Lafaiete Coutinho para conversar com o
PT. Luiz Inácio Lula da Silva e
Luiz Gushiken confirmaram na
Justiça que Coutinho os procurara em nome de Maluf.
Maluf queria que os petistas divulgassem os documentos, pois
enfrentava Covas na eleição paulista. Os petistas, porém, recusaram-se a fazê-lo. Hoje, Maluf, Lafaiete Coutinho e Caio Fábio respondem a processo na Justiça Federal, acusados de cometer crime
contra a honra de FHC.
A Folha apurou que o dossiê
que se tornou público em 98, além
do uso político, teria tido também
uma utilidade econômica.
Primeiro, a idéia seria tentar fazer um acordo com os tucanos,
enviando fax e mostrando que sabiam de um suposto saldo de US$
368 milhões em um banco nas
ilhas Caymann. No entanto, o governo se recusou a negociar e tomou a iniciativa de tornar pública
no começo de novembro de 98 as
mensagens que recebera. FHC,
Serra e Covas disseram que estavam sendo chantageados.
Fracassada a tentativa de acerto
com o governo, os papéis seriam
usados para tentar derrubar as
Bolsas brasileiras, segundo o depoimento de Ferraz Silva. Daí a
participação de Naji Nahas, que
teria um sócio norte-americano,
com o qual pretenderia ganhar
cerca de US$ 200 milhões na compra de dólar no mercado futuro.
Se a cotação do dólar em relação
ao real duplicasse, como teria sido
imaginado, o ganho seria expressivo.
Na época, o Brasil enfrentava
desconfiança da comunidade internacional devido às crises da
Ásia e da Rússia. A desvalorização
do câmbio era uma expectativa da
comunidade internacional e do
empresariado brasileiro. Um
eventual escândalo envolvendo
FHC, então candidato à reeleição,
poderia ter impacto econômico
para além das Bolsas brasileiras.
O ex-doleiro Jamil Degan, informante do FBI, disse à Folha que
José Maria Teixeira Ferraz lhe
contou que vendeu em 98 o dossiê, por intermédio do pastor Caio
Fábio, para Francisco Rossi, então
membro do PDT. Preço: US$ 500
mil. Um membro da cúpula da
campanha de 98 de Rossi fez o
mesmo relato de Degan à Folha.
Segundo Degan, que fazia negócios com Barros e Ferraz, Rossi
comprou o dossiê do pastor Caio
Fábio, em um encontro no Rio de
Janeiro. Degan afirmou que o
pastor trabalhava informalmente
com Barros e Ferraz, buscando
"fazer negócios no Brasil".
Rossi e o pastor confirmaram
que se encontraram durante as
eleições de 98, mas negaram a negociação. O pastor já admitiu que
tentou entregá-lo a políticos de
esquerda.
(KA e MA)
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