São Paulo, domingo, 08 de outubro de 2000

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INVESTIGAÇÃO
Paulo Maluf, Fernando e Leopoldo Collor, Gilberto Miranda e Naji Nahas são nomes associados aos papéis

Lista de envolvidos com dossiê é extensa

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

DE WASHINGTON

A lista de políticos e empresários suspeitos de comprar e divulgar o dossiê Caribe é extensa. Há ainda aqueles que manifestaram interesse em examinar a papelada e os que foram procurados para que tornassem públicos os papéis sobre a suposta conta secreta de FHC e de tucanos no exterior.
Em 98, Gilberto Miranda, à época senador pefelista pelo Amazonas, viajou aos EUA diversas vezes a fim de obter o dossiê. Ele entregou ao senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), presidente do Congresso, supostos documentos. ACM confirmou que Miranda fez as viagens e disse que foi a FHC e lhe deu ciência e cópia do que conseguira.
O dossiê sugere uma conta secreta em um paraíso fiscal, numa associação entre o presidente Fernando Henrique Cardoso, o ministro Sérgio Motta (morto em abril de 1998), o ministro da Saúde, José Serra, e o governador de São Paulo, Mário Covas.
A Folha revelou em 20 de abril passado que o empresário Luiz Cláudio Ferraz Silva, radicado em Miami, prestou depoimento no qual afirma que teve contatos em 98 com empresários e políticos interessados no dossiê. O primeiro contato teria sido com Leopoldo Collor, irmão de Fernando Collor de Mello, ex-presidente afastado em 92.
O depoimento foi prestado a um advogado norte-americano, que, pelas leis dos Estados Unidos, tem poder para dar fé pública a declarações, não necessariamente de seus clientes.
Ferraz Silva, que não é parente de José Maria Teixeira Ferraz, identificado pelo FBI como negociador do dossiê, negou ter prestado o depoimento ao qual a Folha teve acesso.
No entanto, uma testemunha que acompanhou a participação de Ferraz Silva confirmou que o depoimento foi dado. Essa testemunha também fez uma declaração relatando os contatos de Ferraz Silva com Leopoldo e Miranda. Mais: de acordo com essa testemunha, o dossiê que se tornou público em 98 teria sido comprado, o que Miranda nega.
Ferraz Silva se aproximou de Oscar de Barros e José Maria Teixeira Ferraz por intermédio de Ney Santos, sócio dos últimos dois em uma empresa de telemarketing. Teria sido organizado um encontro numa casa de Boca Raton, Flórida, entre o pastor Caio Fábio (representante de Barros e de José Maria Teixeira Ferraz) e Leopoldo Collor. Leopoldo teria fechado o negócio por US$ 3,5 milhões, quantia que teria sido paga com a ajuda de Miranda. Leopoldo e Miranda negam.
Segundo trechos do depoimento de Ferraz Silva, ele disse ter se encontrado com Leopoldo no segundo semestre de 98 em Nova York. Leopoldo, de quem é amigo, faria a ponte com outros brasileiros. Leopoldo contesta essa informação.
De acordo com o depoimento, Ferraz Silva entrou em contato com o investidor Naji Nahas e com Miranda em Nova York, o que ambos dizem não ter ocorrido.
Paulo Maluf, à época candidato a governador, teria obtido o dossiê com Miranda. Maluf negou ter comprado o dossiê e tentado divulgá-lo. Mas, de posse dos papéis, enviou o ex-collorido Lafaiete Coutinho para conversar com o PT. Luiz Inácio Lula da Silva e Luiz Gushiken confirmaram na Justiça que Coutinho os procurara em nome de Maluf.
Maluf queria que os petistas divulgassem os documentos, pois enfrentava Covas na eleição paulista. Os petistas, porém, recusaram-se a fazê-lo. Hoje, Maluf, Lafaiete Coutinho e Caio Fábio respondem a processo na Justiça Federal, acusados de cometer crime contra a honra de FHC.
A Folha apurou que o dossiê que se tornou público em 98, além do uso político, teria tido também uma utilidade econômica.
Primeiro, a idéia seria tentar fazer um acordo com os tucanos, enviando fax e mostrando que sabiam de um suposto saldo de US$ 368 milhões em um banco nas ilhas Caymann. No entanto, o governo se recusou a negociar e tomou a iniciativa de tornar pública no começo de novembro de 98 as mensagens que recebera. FHC, Serra e Covas disseram que estavam sendo chantageados.
Fracassada a tentativa de acerto com o governo, os papéis seriam usados para tentar derrubar as Bolsas brasileiras, segundo o depoimento de Ferraz Silva. Daí a participação de Naji Nahas, que teria um sócio norte-americano, com o qual pretenderia ganhar cerca de US$ 200 milhões na compra de dólar no mercado futuro. Se a cotação do dólar em relação ao real duplicasse, como teria sido imaginado, o ganho seria expressivo.
Na época, o Brasil enfrentava desconfiança da comunidade internacional devido às crises da Ásia e da Rússia. A desvalorização do câmbio era uma expectativa da comunidade internacional e do empresariado brasileiro. Um eventual escândalo envolvendo FHC, então candidato à reeleição, poderia ter impacto econômico para além das Bolsas brasileiras.
O ex-doleiro Jamil Degan, informante do FBI, disse à Folha que José Maria Teixeira Ferraz lhe contou que vendeu em 98 o dossiê, por intermédio do pastor Caio Fábio, para Francisco Rossi, então membro do PDT. Preço: US$ 500 mil. Um membro da cúpula da campanha de 98 de Rossi fez o mesmo relato de Degan à Folha.
Segundo Degan, que fazia negócios com Barros e Ferraz, Rossi comprou o dossiê do pastor Caio Fábio, em um encontro no Rio de Janeiro. Degan afirmou que o pastor trabalhava informalmente com Barros e Ferraz, buscando "fazer negócios no Brasil".
Rossi e o pastor confirmaram que se encontraram durante as eleições de 98, mas negaram a negociação. O pastor já admitiu que tentou entregá-lo a políticos de esquerda. (KA e MA)


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