São Paulo, domingo, 08 de outubro de 2000

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SÃO PAULO
Causa é o perfil técnico ou político de secretários em caso de vitória
Montagem de equipe já opõe Marta à cúpula do PT

FÁBIO ZANINI
THOMAS TRAUMANN


DA REPORTAGEM LOCAL

Um enfrentamento entre a candidata Marta Suplicy e a direção do PT pela composição de sua eventual equipe de governo, ainda embrionária, já começa a se delinear.
Caso vença Paulo Maluf na eleição para a Prefeitura de São Paulo, Marta pretende ter um gabinete da sua confiança, mais técnico e desvinculado das tendências internas do partido -das quais ela não se cansa de dizer que "tem urticária".
O PT, por outro lado, espera um secretariado de "ministeriáveis", em que haja espaço para composição política. Seriam nomes que serviriam de referência para a campanha presidencial de 2002.
"Nunca fui de me dobrar a pressões, estou acostumada com isso. É provável que ocorram contrariedades dentro do meu partido, mas o PT já entende, ou vai ter que entender, que a decisão final é minha", afirmou Marta, em entrevista na qual, várias vezes, ressaltou que sua preocupação prioritária no momento é vencer o segundo turno.
Na direção nacional do PT, no entanto, o discurso é diferente. "Será um secretariado de ministeriáveis, uma vitrine para o país", disse o presidente nacional do partido, José Dirceu.
A palavra "vitrine" tem sido usada com frequência por líderes petistas para definir um possível governo Marta. O partido acredita que, se vencer a eleição, a gestão de Marta Suplicy terá mais influência na opinião pública do país do que a soma dos governos petistas do Rio Grande do Sul, do Acre e do Mato Grosso do Sul.
"Ninguém está dizendo que o PT vai escolher a equipe da Marta. É lógico que ela é a responsável. Mas também é lógico que ela vai ouvir o partido. A gestão da Marta é estratégica para o desempenho do PT em 2002 (quando ocorrem eleições para presidente e governador). Ela sabe disso", disse o deputado federal José Genoino.
Postulante à candidatura do PT ao governo de São Paulo nas próximas eleições, Genoino faz um paralelo: "São Paulo tem a população, o tamanho e as dificuldades de um país. Se o PT conseguir sucesso numa tarefa tão complicada, é natural que se credencie para administrar o Brasil. E isso também vale para a Marta em 2006 (também ano de eleições para governador e presidente)".
A candidata, caso vença as eleições, tem consciência das expectativas do partido, mas não está disposta a mudar de posição. "Para montar o meu secretariado, vou pedir indicações a partidos, associações, sindicatos e entidades da sociedade civil. O PT vai colaborar muito, claro. Mas, de novo, a decisão é exclusivamente minha", afirmou Marta.
Na semana passada, circulavam nomes de vários secretariáveis. Quase todos são colaboradores de Marta na organização não-governamental Florestan Fernandes. Muitos são filiados ao PT, mas fizeram as suas carreiras independentes do partido.
Na campanha petista a articulação sobre o secretariado é tabu. "Não discutimos esse assunto. Seria uma precipitação, as eleições não estão ganhas. Mesmo a formação de uma equipe de transição só vai ocorrer quando e se vencermos o segundo turno", disse o coordenador geral da campanha municipal, Rui Falcão.
A preocupação de Falcão em adiar a discussão do secretariado tem motivos práticos e táticos. Os práticos são para evitar a impressão de "já ganhou", considerada desastrosa eleitoralmente. A questão tática é manter por mais tempo possível o período de paz entre a candidata, a direção do partido e as correntes petistas.
A campanha de Marta é a que teve menor número de atritos no PT paulista. Tornou-se candidata sem contestação.
É difícil, porém, que essa paz prossiga depois das eleições. Caso vença Paulo Maluf, Marta anunciou a intenção de montar uma equipe técnica, escolhida "por currículo".
"Tem que haver uma mescla de técnicos e pessoas acostumadas ao jogo político. Não dá para colocar 25 professores de Harvard no secretariado", disse o deputado estadual Jilmar Tatto, um dos coordenadores da campanha petista em São Paulo.


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