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SÃO PAULO
Causa é o perfil técnico ou político de secretários em caso de vitória
Montagem de equipe já opõe Marta à cúpula do PT
FÁBIO ZANINI
THOMAS TRAUMANN
DA REPORTAGEM LOCAL
Um enfrentamento entre a candidata Marta Suplicy e a direção
do PT pela composição de sua
eventual equipe de governo, ainda embrionária, já começa a se
delinear.
Caso vença Paulo Maluf na eleição para a Prefeitura de São Paulo, Marta pretende ter um gabinete da sua confiança, mais técnico e
desvinculado das tendências internas do partido -das quais ela
não se cansa de dizer que "tem urticária".
O PT, por outro lado, espera um
secretariado de "ministeriáveis",
em que haja espaço para composição política. Seriam nomes que
serviriam de referência para a
campanha presidencial de 2002.
"Nunca fui de me dobrar a pressões, estou acostumada com isso.
É provável que ocorram contrariedades dentro do meu partido,
mas o PT já entende, ou vai ter
que entender, que a decisão final é
minha", afirmou Marta, em entrevista na qual, várias vezes, ressaltou que sua preocupação prioritária no momento é vencer o segundo turno.
Na direção nacional do PT, no
entanto, o discurso é diferente.
"Será um secretariado de ministeriáveis, uma vitrine para o país",
disse o presidente nacional do
partido, José Dirceu.
A palavra "vitrine" tem sido
usada com frequência por líderes
petistas para definir um possível
governo Marta. O partido acredita que, se vencer a eleição, a gestão
de Marta Suplicy terá mais influência na opinião pública do
país do que a soma dos governos
petistas do Rio Grande do Sul, do
Acre e do Mato Grosso do Sul.
"Ninguém está dizendo que o
PT vai escolher a equipe da Marta.
É lógico que ela é a responsável.
Mas também é lógico que ela vai
ouvir o partido. A gestão da Marta
é estratégica para o desempenho
do PT em 2002 (quando ocorrem
eleições para presidente e governador). Ela sabe disso", disse o
deputado federal José Genoino.
Postulante à candidatura do PT
ao governo de São Paulo nas próximas eleições, Genoino faz um
paralelo: "São Paulo tem a população, o tamanho e as dificuldades
de um país. Se o PT conseguir sucesso numa tarefa tão complicada, é natural que se credencie para
administrar o Brasil. E isso também vale para a Marta em 2006
(também ano de eleições para governador e presidente)".
A candidata, caso vença as eleições, tem consciência das expectativas do partido, mas não está
disposta a mudar de posição. "Para montar o meu secretariado,
vou pedir indicações a partidos,
associações, sindicatos e entidades da sociedade civil. O PT vai
colaborar muito, claro. Mas, de
novo, a decisão é exclusivamente
minha", afirmou Marta.
Na semana passada, circulavam
nomes de vários secretariáveis.
Quase todos são colaboradores de
Marta na organização não-governamental Florestan Fernandes.
Muitos são filiados ao PT, mas fizeram as suas carreiras independentes do partido.
Na campanha petista a articulação sobre o secretariado é tabu.
"Não discutimos esse assunto. Seria uma precipitação, as eleições
não estão ganhas. Mesmo a formação de uma equipe de transição só vai ocorrer quando e se
vencermos o segundo turno", disse o coordenador geral da campanha municipal, Rui Falcão.
A preocupação de Falcão em
adiar a discussão do secretariado
tem motivos práticos e táticos. Os
práticos são para evitar a impressão de "já ganhou", considerada
desastrosa eleitoralmente. A
questão tática é manter por mais
tempo possível o período de paz
entre a candidata, a direção do
partido e as correntes petistas.
A campanha de Marta é a que
teve menor número de atritos no
PT paulista. Tornou-se candidata
sem contestação.
É difícil, porém, que essa paz
prossiga depois das eleições. Caso
vença Paulo Maluf, Marta anunciou a intenção de montar uma
equipe técnica, escolhida "por
currículo".
"Tem que haver uma mescla de
técnicos e pessoas acostumadas
ao jogo político. Não dá para colocar 25 professores de Harvard no
secretariado", disse o deputado
estadual Jilmar Tatto, um dos
coordenadores da campanha petista em São Paulo.
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