São Paulo, terça-feira, 08 de outubro de 2002

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NO AR

Apoio tem preço

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

A mulher de Garotinho venceu no Rio, então ele esqueceu a história de questionar a votação -e iniciou novo jogo, em que Lula, de um jeito ou de outro, é seu alvo.
Dizia Garotinho ontem:
- Ou ele vai querer o nosso apoio, o apoio da esquerda, e vai governar conosco, ou ele vai querer o apoio do PFL.
Boris Casoy, ao ouvir, sorriu e disse que o que importava na declaração era o trecho "vai governar conosco":
- O apoio de Garotinho a Lula tem um preço.
Lula está perto demais do poder e passa a sofrer as pressões que FHC conheceu tão bem. Para ter apoio, precisa comprar, politicamente.
Seja quem for, da "esquerda" de Garotinho ao PFL, o petista terá que ceder parte do poder, no caso, uma parte grande. Do contrário, observou Casoy, sempre com ironia:
- Garotinho vai ficar aguardando a próxima.
Ciro, que parecia tão simpático a Lula, vai na mesma linha. Já adiou a entrevista coletiva em que, supostamente, anunciaria o apoio ao petista.
Ele, a exemplo do "socialista" Garotinho, adotou a desculpa de esperar a decisão partidária -como se, estabelecidos de vez como líderes nacionais, ainda quisessem ouvir Roberto Freire ou Miguel Arraes.
 
Enéas é uma invenção do comediante Jô Soares, ainda na primeira eleição presidencial depois da ditadura.
Como tantos políticos de discurso histriônico na forma e extremista no conteúdo, tem um pé no teatro. Foi no programa de Jô, então no SBT, que foi apresentado como engraçado e inofensivo.
Pois aí está, segundo a Globo:
- Um discurso nervoso e acelerado. Um jargão que se tornou conhecido e mais de 1,5 milhão de votos. Enéas é o deputado federal que teve mais votos na história do país.
O mesmo Enéas que em 94 seduzia militares e comparecia ao mesmo Jô, assustado com sua criação. Do apresentador:
- Enéas, eu fui a primeira pessoa a abrir espaço para você. Mas não posso deixar de sentir um certo, desculpe a palavra, autoritarismo.
E Enéas:
- Sem isso não se endireita o Brasil.
Em 98, ele bradava:
- PSDB, PT, qualquer P. Se o senhor quer expulsar para sempre esses patifes do poder, só existe uma opção.
A opção era ele, que parece, mas não é engraçado.
 
A Globo descrevia a situação de Paulo Maluf:
- Foi a terceira derrota eleitoral seguida. A maior derrota em 12 anos.
Em entrevistas, o político falava das três décadas que passou longe da família e acenava com aposentadoria:
- Chegou a hora de fazer um pouco de companhia para eles.
Acredite se quiser.


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