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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/HORA DAS CASSAÇÕES
Em reunião com a bancada, presidente se solidariza com deputados que podem perder mandato
Para Lula, petistas ameaçados de cassação não são corruptos
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva saiu ontem em defesa dos
sete deputados federais do PT que
correm o risco de perder o mandato devido à suspeita de envolvimento com o escândalo do "mensalão". Em reunião com 67 dos 83
deputados da bancada, no Palácio
do Planalto, Lula disse que não
considera os "companheiros"
corruptos nem portadores de
"doença contagiosa".
Apesar disso, o presidente reconheceu que o PT cometeu erros
no episódio, o principal deles foi
não ter assumido de início a versão que hoje é sustentada como
verdadeira pelos envolvidos -a
de que os recursos provenientes
do "mensalão" foram usados para despesas eleitorais não declaradas à Justiça, o chamado caixa
dois. "Vocês não são corruptos.
Vocês cometeram erros, mas não
de corrupção. Todos vocês são
construtores do PT. Eu mesmo já
sofri acusações injustas e sofri
muito", disse, em frase reproduzida por presentes ao encontro.
Antonio Palocci (Fazenda), um
dos quatro ministros que participaram de todo o encontro, também manifestou solidariedade
aos correligionários acusados.
"Vocês estão pagando um preço
muito alto por uma coisa que é reprovável, mas que foi feita por todos os partidos e, portanto, não
pode significar o banimento da
vida pública", disse, também de
acordo com os relatos.
Na saída, o ministro Jaques
Wagner (coordenador político do
governo), comentou as declarações. "É natural que ele [Lula] diga para aqueles que estão ameaçados de perder o mandato da [sua]
solidariedade, no sentido de que,
mesmo quando alguns erram e
vão ser condenados, nem por isso
devem perder o respeito e a solidariedade. Não é no sentido de
botar panos quentes."
O encontro, que começou pouco depois das 10h e terminou às
13h30, foi marcado pela formalidade -dos deputados, falaram 11
sorteados entre os 67 presentes-
e pelo constrangimento. Dos sete
"cassáveis", só João Magno (MG)
não compareceu.
José Dirceu (SP), até junho um
dos principais ministros de Lula,
não trocou palavra com o presidente. Apenas recebeu um cumprimento, como todos os outros,
mas foi citado uma vez por Lula.
"O Zé, que tá aqui, é prova que
desde o início do governo eu sou o
maior crítico da nossa política de
comunicação", disse o presidente,
segundo os presentes, ao responder à avaliação de que o Planalto
se comunica mal.
Apesar de reconhecer erros do
PT que contribuíram para a crise,
Lula afirmou que o partido paga
um preço desmesurado pelo que
fez e centrou fogo em setores da
oposição -dizendo que o PT não
é igual a eles- e em uma CPI em
especial, a dos Bingos, que convocou recentemente seu chefe-de-gabinete, Gilberto Carvalho.
"É a CPI do fim do mundo. Trata-se de tudo lá, menos de bingos", disse o presidente, segundo
os deputados. A CPI investiga nos
últimos tempos a acusação de que
a morte do prefeito Celso Daniel
(Santo André), em 2002, teria relação com esquema de corrupção
que envolveria Carvalho.
Como em encontros anteriores,
Lula ouviu muitas reclamações da
bancada -que pediu mudanças
nos rumos da política econômica,
mais investimentos e maior interlocução-, mas rebateu cobrando
dos deputados maior defesa dos
feitos do governo. Segundo Lula,
seus dois anos e nove meses de
governo resultaram em mais realizações do que os oito de seu antecessor, Fernando Henrique
Cardoso (1995-2002).
Outro alvo de Lula no encontro
foi a imprensa, que teria, segundo
o presidente, predileção por assuntos relacionados à crise. Além
de Palocci e Wagner, participaram do encontro Dilma Rousseff
(Casa Civil) e Henrique Meirelles,
presidente do Banco Central. Todas as frases de Lula foram relatadas pelos presentes pelo fato de o
encontro não ter sido aberto à imprensa.
CASSÁVEIS - Apenas três dos
presentes ao encontro tocaram no
assunto dos sete petistas que estão
na corda bamba. Lula, Palocci e
Maurício Rands (PE). O deputado
foi o primeiro a falar, cobrando
solidariedade aos "companheiros" que estariam sendo vítimas
de prejulgamento.
Palocci foi na mesma linha e Lula, que fez a explanação final do
encontro, arrematou a análise ao
dizer que não os considera corruptos. "São companheiros que
não têm nenhuma doença contagiosa que nos impeça de conviver
com eles", afirmou.
Segundo o presidente, deve haver "serenidade" para aguardar as
investigações. "Aí será possível fazer um juízo de valor mais correto, caso contrário ficaremos sempre na suposição. Fulano cita um
nome, aí, na imprensa, ele vira ladrão", teria dito.
Além de Dirceu e Magno, sofrem ameaça de perda do mandato João Paulo Cunha (SP), Professor Luizinho (SP), José Mentor
(SP), Josias Gomes (BA) e Paulo
Rocha (PA).
ERROS DO PT - De acordo com os
deputados, Lula disse que o principal erro do PT na crise foi a versão inicial apresentada. "Nós erramos por não termos dito desde
o começo claramente: "Olha, os
companheiros pegaram dinheiro
não-contabilizado, não declararam". Era muito mais fácil explicar para a sociedade".
Lula afirmou, entretanto, acreditar que o PT não é igual aos outros. "Temos de dizer que nós erramos em alguns pontos, mas que
não somos iguais a eles e que queremos ajustar isso dentro de casa." E centrou fogo em parlamentares que acusam o governo de ser
corrupto.
"O papel de vocês [bancada] é
mostrar que há pessoas que erraram no governo, mas que isso não
dá a políticos que cometeram irregularidades no passado direito
de virem posar de bom moço",
afirmou, sem citar nomes.
Lula avaliou ainda que "o pior
da crise" já passou, apesar de ter
dito, em determinado momento,
que "o fim da crise passa pela bancada". Deputados interpretaram
que isso não seria um recado para
que os acusados renunciassem,
mas um incentivo a uma ação de
defesa do governo.
Lula elogiou muito o líder do
governo, Arlindo Chinaglia (SP),
por ter desistido da candidatura à
Presidência da Câmara em prol
de Aldo Rebelo (PC do B), e arrematou dizendo ficar "indignado"
quando falam que o escândalo do
"mensalão" é "o maior caso de
corrupção da República".
OPOSIÇÃO - A exemplo de várias
outras ocasiões, o presidente da
República avaliou que tem um
desempenho bem melhor do que
seu antecessor. "O erro da bancada é que a gente sempre teve o hábito de querer mais, de não ver e
divulgar as nossas realizações,
que são maiores do que as dos oito anos de Fernando Henrique
Cardoso. E ficam sempre cobrando mais. Em três anos fizemos
muito mais do que FHC. Por que
vocês não defendem isso no Congresso?", disse Lula, segundo deputados.
"Ao falar do governo, coloquem
os aspectos positivos primeiro para depois fazer as críticas", afirmou o presidente, citando, entre
outras coisas, a geração de empregos. "Estamos gerando 108 mil
empregos por mês, 12 vezes mais
que o FHC gerou."
Por fim, o presidente ironizou
as reclamações. "Se Deus, para
acabar de fazer o mundo, fizesse
antes uma reunião com parlamentares, com certeza ele ouviria
que tinha muita coisa faltando."
CPI DOS BINGOS - Lula voltou à
carga contra a CPI dos Bingos,
aquela que vem causando mais
dores de cabeça ao governo. "Estão usando para fazer um caldo
político negativo, convocando
pessoas do caso de Santo André e
relacionando a bingos para ter o
pretexto para chamar."
Lula frisou que a bancada de senadores e deputados deve bater
na tecla de que o Senado derrubou uma medida provisória do
governo que proibia o funcionamento das casas de bingo.
"Ninguém fala que eu mandei
uma MP para acabar com os bingos e foram eles, senadores, que
derrubaram. Como presidente eu
não devo falar isso, mas a bancada
de senadores deveria lembrar que
eles acabaram sendo incoerentes", afirmou.
Na saída do encontro, Jaques
Wagner falou sobre a convocação, pela CPI, do chefe-de-gabinete de Lula, Gilberto Carvalho:
"É um exagero. É indevido. A intenção não é investigar, é destruir
o governo", disse o ministro.
IMPRENSA E MÁGOA - Houve várias críticas de Lula à imprensa.
Disse, por exemplo, que os jornais
de Brasília reservaram a Joaquim
Roriz (PMDB), governador do
Distrito Federal, os louros por um
projeto bancado por recursos da
União. Em outro, afirmou que
uma distribuição de livros para
deficientes visuais teve cobertura
jornalística pífia.
"Ando magoado com essa posição da imprensa que só noticia
crise e não as ações positivas do
governo. A imprensa é livre para
noticiar a crise, mas deveria noticiar as coisas boas."
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