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ELEIÇÕES 2006 / PAÍS DIVIDIDO
No RS, cidade quer "esmagar PT com dedo"
"Crista" da onda azul, Ipiranga do Sul deu a Alckmin sua maior vitória proporcional no 1º turno porque culpa Lula por crise agrícola
Secretário da prefeitura diz que fará o possível para acabar com o PT na cidade, que sente falta do governo Fernando Henrique Cardoso
LUIZ FERNANDO VIANNA
ENVIADO ESPECIAL A IPIRANGA DO SUL
A cidade em que Geraldo
Alckmin teve sua maior vitória
proporcional no primeiro turno não votou em Geraldo Alckmin, mas contra Luiz Inácio
Lula da Silva.
Das 1.209 pessoas (82,8% dos
votos válidos) que escolheram
o candidato tucano na pequeníssima Ipiranga do Sul, no noroeste gaúcho, tem gente que
nem sabe bem como se chama o
ex-governador paulista, mas
sabe muito da crise que afeta a
razão de ser do município: a
agricultura. "Sempre houve altos e baixos, mas a agricultura
nunca atravessou uma fase tão
difícil", diz Pedro Rodighiero,
43, um dos maiores produtores
de soja, milho, trigo e cevada da
região, dono de 2.100 hectares.
No governo Fernando Henrique, os grandes proprietários
conseguiram boas linhas de
crédito para comprar máquinas e os produtos tiveram picos
de preço. A saca da soja, por
exemplo, chegou a R$ 52. Hoje,
o piso dela é R$ 24, sendo que
nas secas de 2003 a 2005 foi negociada até por R$ 17.
Lula não pode fazer chover,
mas deveria, na visão dos produtores, desvalorizar o real para melhorar as exportações,
elevar o preço mínimo da saca
de soja para cerca de R$ 30 e
dar grandes rebates (descontos) nos empréstimos do Banco
do Brasil que precisam ser liquidados. "Tem gente que está
pegando financiamento para
pagar os anteriores e já vai acumular cinco financiamentos
em 2007", diz Rodighiero.
A crise também afeta os pequenos. Odelci José Menetriér,
64, arrendou terra por 40 anos
até herdar 12,5 hectares do pai.
Já viu dinheiro sobrar, mas hoje ele e a mulher dependem das
aposentadorias para viver. A
soja, único grão que ainda planta, não tem dado lucro.
"Aqui na colônia [Linha de
Lanora] eram 18 famílias, agora
são nove. Estão indo embora.
Mas só sei trabalhar na terra,
não tenho estudo, o que eu vou
fazer?", angustia-se ele, para
quem "com Fernando Henrique já não era lá essas coisas,
mas piorou muito, porque Lula
detonou a agricultura".
Todos reconhecem que as
atuais condições de financiamento para pequenos e médios
produtores são boas, já que o
Pronaf (Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura
Familiar) empresta com juros
em torno de 4% ao ano. Mas isso não basta. "Para quem deve
só a planta [o financiamento
para a safra], tudo bem, mas para quem fez investimento em
tecnologia, não há como pagar,
porque os preços das sacas estão muito baixos", queixa-se
Nelson Beledelli, 63.
Para explicar o massacre de
Alckmin, some-se a tanto descontentamento a situação política da cidade. Desde que se
emancipou de Getúlio Vargas,
em 1988, Ipiranga do Sul é controlada pelo PMDB. Os prefeitos são sempre produtores rurais e anti-PT.
"Mais de 90% das famílias
sobrevivem da agricultura e estão em dificuldade por causa da
inadequação da política cambial e da indefinição da agrícola. Elas encontraram no outro
candidato [Alckmin] uma esperança", diz o atual prefeito, Gilberto Tonello, 43. Com a derrota de Germano Rigotto, ele
também fará campanha para
Yeda Crusius (PSDB) no segundo turno estadual contra
Olívio Dutra (PT).
"Se a gente pudesse esmagar
com o dedo o PT na cidade, a
gente esmagava. Não vamos
deixar se criarem aqui", promete o secretário de Administração, Ronei Cecconello, 42.
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