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MISÉRIA
Comissão do Congresso de combate à pobreza pode propor recursos específicos para ações imediatas
Fundo emergencial deve ser aprovado
RAQUEL ULHÔA
da Sucursal de Brasília
A cerca de 15 dias de encerrar
suas atividades, a comissão mista
do Congresso criada para estudar
propostas de combate à pobreza
dá sinais de que aprovará a criação de um fundo específico para
financiar ações emergenciais.
A idéia parece ser consensual.
As divergências são em torno das
fontes dos recursos, da aplicação
e do universo de pessoas atendidas. Pelas linhas gerais divulgadas
à comissão pelo relator, deputado
Roberto Brant (PSDB-MG), seu
relatório vai prever a constituição
de um fundo destinado a atender
24 milhões de "indigentes".
O objetivo é "transferir renda".
Ele vai propor também um programa de bolsa-escola para crianças até 14 anos e dar prioridade de
atendimento ao Nordeste.
Segundo Brant, sua proposta é
diferente da apresentada pelo
presidente do Senado, Antonio
Carlos Magalhães (PFL-BA), por
não prever a criação de novos impostos. A proposta de ACM, que
suscitou todo o debate atual sobre
a pobreza, destina recursos de 14
fontes diferentes para ações de erradicação da miséria.
O fundo, que estaria em vigor
no período de 2000 a 2010, seria
constituído de R$ 6 bilhões a R$ 8
bilhões, segundo ACM.
A vice-presidente da comissão,
senadora Marina Silva (PT-AC),
também vai submeter à comissão
um conjunto de propostas, entre
elas a criação imediata do "orçamento social", vinculação de recursos orçamentários destinados
exclusivamente a financiar ações
de natureza social (estruturais e
emergenciais). Para ela, o ideal seria que o fundo tivesse entre R$ 6
bilhões e R$ 10 bilhões anuais.
Marina também defende programa de garantia de renda mínima para 12,5 milhões de famílias,
com custo de R$ 9,7 bilhões, programa de bolsa-escola para 10 milhões de crianças, com custo de
R$ 3,3 bilhões, e reforma agrária
para assentar 115 mil famílias,
além das 45 mil já previstas pelo
Ministério Extraordinário de Política Fundiária para 2000.
O ministro da Fazenda, Pedro
Malan, em depoimento aos parlamentares, fez uma previsão: até
2015 é possível acabar com a miséria no país. A comissão quer
apresentar soluções para reduzir
esse prazo.
Nesses quase três meses de trabalho, a comissão de combate à
pobreza -criada por proposta de
Marina Silva- ouviu pesquisadores, representantes de entidades organizadas da sociedade civil, ministros, ex-prefeitos e ex-governadores que implantaram
programas bem sucedidos e visitou alguns dos municípios mais
pobres do país, na região da Zona
da Mata de Pernambuco e do sertão de Alagoas.
Um dos depoimentos mais
marcantes foi o de dom Mauro
Morelli, integrante do Conselho
de Segurança Alimentar de Minas
Gerais. O bispo fez um alerta aos
parlamentares de que a sociedade
civil, descrente nos políticos, não
acredita que a comissão resulte
em soluções para a pobreza.
O presidente do Senado fez
questão de assistir ao depoimento
de dom Mauro e de responder
que a comissão estava ciente de
sua responsabilidade e que não
seria inócua. ACM não participa
da maioria das reuniões, mas
acompanha os trabalhos de perto,
ouvindo o presidente, senador
Maguito Vilela (PMDB-GO), e o
relator.
Marina Silva é uma das senadoras mais empenhadas no sucesso
dos trabalhos. "O que eu puder fazer, farei até o último momento.
Não entrei nessa comissão para
criar um fato político e sim como
militante dessa causa. Se eu fizer a
minha parte e não conseguir resultados, vou saber quem entrou
nisso para valer e quem só estava
fazendo discurso", afirmou.
Do PT, a comissão teve a contribuição do ex-governador do Distrito Federal Cristovam Buarque,
que propôs 13 ações, entre elas a
implantação de programa de bolsa-escola para 10 milhões de
crianças, com um custo de R$ 3,3
bilhões -menos de 0,3% do PIB
(Produto Interno Bruto), segundo o Buarque fez questão de citar.
Por meio do deputado Euler
Moraes (PMDB-GO), o próprio
presidente da comissão faz sua
propaganda. O deputado, que integra a comissão, vive repetindo
que Maguito, quando governador
de Goiás, acabou com a fome no
Estado distribuindo cestas básicas às famílias carentes.
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