São Paulo, terça-feira, 08 de novembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ESTATAIS

Marcelo Sereno e Paulo Figueiredo, ex-presidente da Nucleos, negam acusações de utilização da fundação para fins políticos

Fundo perdeu até R$ 22,7 mi, revela auditoria

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Auditoria contratada pela nova direção da Nucleos (fundo de pensão dos funcionários das estatais de energia nuclear) apontou um prejuízo de até R$ 22,7 milhões em operações com títulos públicos realizadas pela gestão anterior da fundação, entre 2004 e meados deste ano.
Com base no relatório feito pela consultoria KPMG, obtido pela Folha, a nova direção do fundo afirma que entrará com ações na Justiça contra os ex-dirigentes para ressarcimento dos prejuízos.
A Nucleos está entre os fundos investigados pela CPI dos Correios por suspeita de desvio de dinheiro para campanhas. Em 2004, sua rentabilidade foi de 5,7%, contra a média no setor de 17%.
Em julho, o petista Neildo de Souza Jorge, um dos representantes dos empregados no Conselho Deliberativo da Nucleos, acusou o ex-secretário de Comunicação do PT Marcelo Sereno de manipular o fundo para desviar dinheiro para o partido. Neildo disse que foi Sereno quem alçou Paulo Figueiredo ao posto de presidente da Nucleos em 2003. Sereno e Figueiredo, que deixou o cargo em abril, negam as acusações de usar o fundo de pensão para fins políticos.
Na gestão de Figueiredo, a Nucleos investiu cerca de R$ 175 milhões em títulos corrigidos por índices de inflação com vencimento em 2024, 2031 e 2045. Como o valor dos investimentos foi considerado alto perto do total da carteira (R$ 440 milhões) e a maior parte dos títulos foi comprada sem cotação no mercado, o Conselho Deliberativo recomendou à diretoria que contratasse auditoria para avaliar possíveis prejuízos.
A KPMG empregou referência de preço dos títulos usada pelo Banco Central. Na maioria dos casos, a consultoria adotou preços mínimos e médios para os mesmos tipos de papéis em operações realizadas por outros participantes do mercado no dia em que a fundação adquiriu os títulos.
Mas, em algumas datas, o fundo foi o único a comprar os papéis, obrigando a consultoria a comparar os preços dos títulos com operações de dias anteriores ou posteriores às transações. Segundo o relatório, no "cenário mais pessimista", a perda da Nucleos com a compra dos papéis seria de R$ 22,7 milhões. No menos pessimista, seria de R$ 9,385 milhões.
A nova direção da Nucleos, que assumiu em 31 de agosto, após as denúncias de manipulação, entregará o relatório da KPMG hoje para o diretor de Fiscalização da SPC (Secretaria de Previdência Complementar), Waldemir Bargieri.
Ontem, a direção do fundo enviou o relatório aos patrocinadores da fundação (Indústrias Nucleares do Brasil e Nuclep). Informou que será contratado um advogado. A ação será movida contra Paulo Figueiredo, Gildásio Amado Filho (ex-diretor financeiro), Abel Almeida (ex-diretor de benefícios) e Fabiana Carneiro Castro (ex-gerente financeira).
Em entrevista à Folha na sexta passada, Figueiredo disse que o resultado ruim da Nucleos em 2005 se deveu, em parte, a dívidas que as patrocinadoras têm com o fundo. Lembrou que, em 2003, a Nucleos teve rendimento de 33%.


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