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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ESTATAIS
Marcelo Sereno e Paulo Figueiredo, ex-presidente da Nucleos, negam acusações de utilização da fundação para fins políticos
Fundo perdeu até R$ 22,7 mi, revela auditoria
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Auditoria contratada pela nova
direção da Nucleos (fundo de
pensão dos funcionários das estatais de energia nuclear) apontou
um prejuízo de até R$ 22,7 milhões em operações com títulos
públicos realizadas pela gestão
anterior da fundação, entre 2004 e
meados deste ano.
Com base no relatório feito pela
consultoria KPMG, obtido pela
Folha, a nova direção do fundo
afirma que entrará com ações na
Justiça contra os ex-dirigentes para ressarcimento dos prejuízos.
A Nucleos está entre os fundos
investigados pela CPI dos Correios por suspeita de desvio de dinheiro para campanhas. Em 2004,
sua rentabilidade foi de 5,7%,
contra a média no setor de 17%.
Em julho, o petista Neildo de
Souza Jorge, um dos representantes dos empregados no Conselho
Deliberativo da Nucleos, acusou o
ex-secretário de Comunicação do
PT Marcelo Sereno de manipular
o fundo para desviar dinheiro para o partido. Neildo disse que foi
Sereno quem alçou Paulo Figueiredo ao posto de presidente da
Nucleos em 2003. Sereno e Figueiredo, que deixou o cargo em abril,
negam as acusações de usar o fundo de pensão para fins políticos.
Na gestão de Figueiredo, a Nucleos investiu cerca de R$ 175 milhões em títulos corrigidos por índices de inflação com vencimento
em 2024, 2031 e 2045. Como o valor dos investimentos foi considerado alto perto do total da carteira
(R$ 440 milhões) e a maior parte
dos títulos foi comprada sem cotação no mercado, o Conselho
Deliberativo recomendou à diretoria que contratasse auditoria
para avaliar possíveis prejuízos.
A KPMG empregou referência
de preço dos títulos usada pelo
Banco Central. Na maioria dos casos, a consultoria adotou preços
mínimos e médios para os mesmos tipos de papéis em operações
realizadas por outros participantes do mercado no dia em que a
fundação adquiriu os títulos.
Mas, em algumas datas, o fundo
foi o único a comprar os papéis,
obrigando a consultoria a comparar os preços dos títulos com operações de dias anteriores ou posteriores às transações. Segundo o
relatório, no "cenário mais pessimista", a perda da Nucleos com a
compra dos papéis seria de
R$ 22,7 milhões. No menos pessimista, seria de R$ 9,385 milhões.
A nova direção da Nucleos, que
assumiu em 31 de agosto, após as
denúncias de manipulação, entregará o relatório da KPMG hoje para o diretor de Fiscalização da SPC
(Secretaria de Previdência Complementar), Waldemir Bargieri.
Ontem, a direção do fundo enviou o relatório aos patrocinadores da fundação (Indústrias Nucleares do Brasil e Nuclep). Informou que será contratado um advogado. A ação será movida contra Paulo Figueiredo, Gildásio
Amado Filho (ex-diretor financeiro), Abel Almeida (ex-diretor
de benefícios) e Fabiana Carneiro
Castro (ex-gerente financeira).
Em entrevista à Folha na sexta
passada, Figueiredo disse que o
resultado ruim da Nucleos em
2005 se deveu, em parte, a dívidas
que as patrocinadoras têm com o
fundo. Lembrou que, em 2003, a
Nucleos teve rendimento de 33%.
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