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Eleição na OAB-SP repete vícios de políticos
Ao disputar o terceiro mandato, Luiz Flávio Borges D'Urso (DEM) é comparado a Hugo Chávez pelos seus adversários
Atual presidente rebate a acusação de "continuísmo antidemocrático" e diz que seus rivais "querem impedir a terceira derrota" seguida
FREDERICO VASCONCELOS
FLÁVIO FERREIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Numa eleição que reproduz o
clima das campanhas político-partidárias, com acusações de
fraudes em pesquisas, uso da
máquina e falta de transparência sobre os financiamentos, os
advogados paulistas vão às urnas, dia 17, para escolher quem
dirigirá a seção estadual da Ordem dos Advogados do Brasil
nos próximos três anos. A eleição do Conselho Federal da
OAB será em 31 de janeiro.
Ao disputar um terceiro
mandato, o presidente da OAB-SP, Luiz Flávio Borges D'Urso,
deu aos três adversários -Rui
Fragoso, Hermes Barbosa e
Leandro Pinto- a principal
munição da oposição: as críticas ao que consideram "continuísmo antidemocrático".
Porque se filiou ao DEM em
setembro, D'Urso também é
acusado de usar a OAB-SP de
trampolim para projetos políticos pessoais. Seu filho, Flávio,
disputou pelo mesmo partido o
cargo de vereador em São Paulo
em 2008, mas não foi eleito. No
início deste ano, democratas
viam o presidente da OAB-SP
como um futuro quadro, com
chances de disputar a Câmara
dos Deputados em 2010.
"Pretendo cumprir até o último dia meu mandato, se for
reeleito", promete D'Urso. Ele
esclarece que os estatutos não
vedam a reeleição. "Os opositores não querem impedir o terceiro mandato. Querem impedir a terceira derrota", diz.
O comentário é dirigido a Rui
Fragoso, que representa o grupo de advogados derrotado
duas vezes por D'Urso (em
2003 e 2006). O coordenador-geral e patrono da campanha de
Fragoso é Antonio Cláudio Mariz de Oliveira (ex-secretário da
Justiça e da Segurança Pública
no governo Orestes Quércia).
Mariz presidiu a OAB-SP em
1989 e foi reeleito em 1991.
"Ainda que a administração
fosse boa, e não é, não se justificaria uma permanência por
tanto tempo", diz Fragoso. Para
ele, D'Urso é mais político do
que advogado. "Eu sou só advogado, e a alternância do poder é
uma consequência de qualquer
processo democrático", diz.
Ele considera "um equívoco
histórico" a OAB-SP ter liderado o movimento "Cansei", em
2007. D'Urso vê a iniciativa como "um movimento apartidário que tentou traduzir o sentimento da população".
"A tentativa de reeleição nos
faz lembrar os piores momentos do presidente venezuelano
Hugo Chávez, que quer se perpetuar no poder", diz Hermes
Barbosa. "A reeleição deve ser
extirpada de nossa sociedade",
diz o candidato Leandro Pinto.
Para D'Urso, a oposição critica a reeleição por falta de discurso, pois as finanças estão em
ordem e uma pesquisa do Ibope
aponta sua gestão como ótima e
boa para 65% dos advogados.
D'Urso diz que, ao assumir em
2003, a OAB-SP acumulava dívidas: "Hoje temos superavit".
O uso da internet na campanha é visto como laboratório
para a eleição presidencial. Há
acusações de direcionamento
de pesquisas e de uso indevido
de listas de e-mail de advogados
para envio de propaganda.
A questão do financiamento
é cercada de sigilo. D'Urso não
revela o valor das doações. Fragoso diz que gastará entre R$
300 mil e R$ 400 mil. Em 2003,
a eleição teve oito candidatos e
foi estimado um gasto total de
R$ 2,8 milhões. A legislação
passou a vetar gastos com outdoor, carro de som e anúncios
de página inteira em jornais,
mas as projeções sugerem que
os dispêndios seguem elevados.
Questiona-se por que advogados gastam milhões disputando cargos não remunerados.
A polêmica sobre o terceiro
mandato e as visitas do presidente da OAB-SP ao interior
associam a campanha às inspeções do presidente Lula a obras
do PAC. "Os encontros regionais são encontros políticos",
diz Fragoso, que se queixa do
processo eleitoral desigual. Ele
defende uma mudança na lei,
para obrigar o candidato à reeleição a se desincompatibilizar.
D'Urso discorda de Leandro
Pinto, para quem a advocacia "é
uma profissão em franco processo de extinção". Para o presidente da OAB-SP, o mercado
está em expansão e o advogado
é um profissional prestigiado.
Fragoso vê um equívoco: "O
advogado está com a autoestima jogada no chão. É desrespeitado no fórum, em cartório,
em delegacia e, principalmente, é desrespeitado pela sociedade". "O advogado está sendo
desrespeitado e vilipendiado",
concorda Hermes Barbosa.
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