São Paulo, quinta-feira, 08 de dezembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CONEXÃO RIBEIRÃO

Em novembro, assessoria do ministro havia negado viagens em aeronave de empresário

Dono de avião confirma à CPI carona de Palocci, já ministro

Alan Marques/Folha Imagem
O empresário Roberto Colnaghi, que cedeu avião a petistas, durante depoimento na CPI dos Bingos


SILVIO NAVARRO
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Dono do avião que supostamente transportou dólares de Cuba para caixa dois do PT, o empresário Roberto Colnaghi disse ontem à CPI dos Bingos que deu carona em uma de suas aeronaves, por duas vezes, para o já ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda), sendo uma delas na companhia do ex-presidente do PT José Genoino.
Uma terceira vez foi em 2002, quando Palocci trabalhava na campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em novembro, após reportagem da Folha, a assessoria de Palocci negou que ele tivesse viajado no avião de Colnaghi após ter assumido o ministério. Ontem, a assessoria não respondeu aos pedidos de informações feitos pela reportagem.
O depoimento de ontem colocou combustível na polêmica em torno da convocação do ministro para falar à CPI sobre denúncias de corrupção em Ribeirão Preto (leia texto na página A6). "O ministro tem uma explicação a dar sobre esse vôo", disse o presidente da CPI, Efraim Morais (PFL-PB).

Banco
Em outro momento do depoimento, Colnaghi, que exporta produtos para Angola, também disse ter atuado para aproximar dirigentes do Banco Regional do Keve, no país africano, a Ralf Barquete e Vladimir Poleto, ambos ex-assessores de Palocci em Ribeirão e na época consultores do banco Prosper. Segundo o advogado Rogério Buratti, outro ex-assessor de Palocci, Barquete e Poleto tentaram intermediar, em 2002, a venda de um banco brasileiro a empresários angolanos. A operação não foi concretizada.
Barquete, morto em 2004, e Poleto também foram citados no episódio do suposto carregamento de dólares cubanos para abastecer o caixa dois petista. O dinheiro teria chegado a Campinas no avião de Colnaghi escondido em caixas de bebida.
Colnaghi chegou a fazer ironia sobre o tema, dizendo que "foi esse o avião do problema", referindo-se ao Sêneca de sua propriedade, que, segundo a revista "Veja", teria carregado o dinheiro.
Ontem, Colnaghi negou saber do transporte do dinheiro e disse que cedeu a aeronave para Poleto a pedido de Barquete. "Eu não sabia dessa situação. O que foi solicitado era uma viagem de um passageiro de Brasília para São Paulo. Estava a mil quilômetros dessa situação. Apenas cedi por solicitação de um amigo."
Avião do empresário também transportou, segundo ele, outros petistas durante a campanha eleitoral de 2002, entre os quais o deputado cassado José Dirceu (SP). No total, conforme relato do empresário à CPI, seu avião foi usado "em cinco ou seis" viagens no decorrer da campanha, geralmente a pedido de Barquete.
Ao comentar as viagens de petistas, o presidente da comissão ironizou: "Quem viaja cinco ou seis vezes passa a ser freguês de vôo com empresário".
Colnaghi disse que conhecia Barquete de sua cidade natal, Penápolis (SP), e que foi ele quem o apresentou a Rogério Buratti, a Poleto e até a Palocci.

O vôo do ministro
Ao responder a uma pergunta do senador Eduardo Suplicy (PT-SP) sobre os vôos feitos por petistas em seu avião, Colnaghi relatou ter viajado de Brasília a Ribeirão com Palocci, quando já era ministro, e Genoino.
Segundo o empresário, Palocci e Genoino desceram em Ribeirão, "resolveram as coisas deles" e foram levados de volta a Brasília na aeronave de Colnaghi, que só depois disso seguiu para seu destino -Penápolis.
"Estive com o ministro Palocci em alguns vôos na campanha e quando ele foi ministro por duas vezes. Nos conhecemos por volta de outubro de 2002, ele já não era prefeito", disse Colnaghi.


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