São Paulo, quinta-feira, 08 de dezembro de 2005

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Ex-assessor de ministro foi conselheiro fiscal da Funcef

ROGÉRIO PAGNAN
DA FOLHA RIBEIRÃO

Ralf Barquete Santos, ex-assessor de Antonio Palocci Filho (atual ministro da Fazenda) em Ribeirão Preto, foi um dos conselheiros fiscais do Funcef, fundo de pensão dos funcionários da Caixa Econômica Federal.
A Funcef é um dos 14 fundos de pensão investigados pela CPI dos Correios por supostas operações irregulares no mercado financeiro que provocaram prejuízos, entre 2000 e 2005, de R$ 779 milhões. A suspeita é que esses recursos foram "desviados" com fins políticos. Só o fundo da CEF perdeu R$ 50 milhões, segundo relatório da CPI, a quarta maior perda entre os fundos.
Barquete foi nomeado como conselheiro do fundo em abril de 2003, indicado pela CEF, e permaneceu no cargo até junho de 2004, quando morreu de câncer. Ele era assessor especial da presidência da Caixa.
No total, segundo a Funcef, os quatro conselheiros fiscais (dois eleitos e dois indicados pela Caixa) têm a função, entre outras, de fiscalizar as operações lesivas aos cofres do fundo -atualmente com R$ 20 bilhões.
Barquete foi secretário da Fazenda durante a gestão de Palocci na Prefeitura de Ribeirão Preto.
No mesmo período em que foi indicado para a Funcef e para assessoria da presidência da CEF, Ralf foi condenado em primeira instância pela Justiça Estadual por suposto desvio de verbas do sistema previdenciário da Prefeitura de Matão. O desvio teria ocorrido na administração do petista Adauto Scardoelli (1997-2000).
Ainda em 2003, a Câmara, a Polícia Civil e o Ministério Público Estadual de Ribeirão iniciaram uma investigação de suposto desvio de verbas no pagamento de indenizações a ex-proprietários de linhas telefônicas da Ceterp (Centrais Telefônicas de Ribeirão Preto) na administração Palocci. A CPI da Câmara concluiu que desapareceram cerca de R$ 24 milhões destinados ao pagamento das indenizações.
Como secretário da Fazenda, era de Barquete a responsabilidade pelos pagamentos.
Nessa investigação também aparece Vladimir Poleto, que era assessor de Barquete na Fazenda. Poleto é o mesmo que foi apontado como responsável pelo transporte de dólares supostamente vindos de Cuba para o PT na campanha de 2002, segundo a denúncia da revista "Veja". Parte dessa história foi confirmada pelo advogado Rogério Tadeu Buratti, ex-secretário de Governo de Palocci em Ribeirão (1993-1994).
Mesmo trabalhando na CEF como assessor da Presidência e como conselheiro fiscal do fundo de pensão, o ex-secretário da Fazenda de Palocci ainda deu consultoria por dois meses ao banco Prosper. Outro consultor foi Poleto.
O Prosper teve aumento de 1.043% nos repasses de financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) entre 2001 e 2004. De R$ 1,471 milhão, em 2001, os repasses saltaram para R$ 16,822 milhões, no ano passado.
Barquete também seria, segundo Buratti disse à polícia e à CPI, o responsável pela captação de R$ 1 milhão dos bingos de São Paulo que teriam ido para a campanha presidencial do PT.
O diretor de Controladoria da Funcef, Carlos Alberto Caser, disse desconhecer eventuais prejuízos apontados pelo relatório da CPI, que considera "absurdo". Ele disse não dar, porém, um "cheque em branco" à conduta de Barquete quando permaneceu no órgão. A CEF não respondeu os questionamentos enviados pela Folha até o fechamento desta edição.


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