São Paulo, sexta-feira, 08 de dezembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Firmas suspeitas movimentaram R$ 200 mi

Procuradoria investiga duas empresas supostamente ligadas a Abel Pereira, acusado de integrar a máfia dos sanguessugas

Operações suspeitas foram descobertas pelo Coaf; documentos em poder do Ministério Público indicam lavagem de dinheiro em MG


HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CUIABÁ

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Apontadas pelo chefe da máfia dos sanguessugas, Luiz Antonio Vedoin, como empresas usadas no pagamento de propina ao empresário Abel Pereira, a Datamicro Informática e a Império Representações Turísticas, de Governador Valadares e Ipatinga, em Minas Gerais, movimentaram mais de R$ 200 milhões de agosto de 2001 a novembro de 2003.
As operações indicam lavagem de dinheiro, segundo documentos em poder do Ministério Público Federal em Minas Gerais. As movimentações suspeitas foram relatadas pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).
Vedoin diz que, em troca de propina, Abel Pereira conseguiu liberar em 2002 de R$ 3 milhões a R$ 3,5 milhões em verbas -destinadas ao esquema dos sanguessugas- durante a gestão do então ministro da Saúde, Barjas Negri (PSDB), atual prefeito de Piracicaba, interior de São Paulo.
Empresário de Piracicaba, Abel nega ter relação com a Datamicro e a Império. Afirma que pediu e obteve em 2002 a liberação de R$ 650 mil para a construção de um hospital em Jaciara (MT), mas nunca recebeu propina da máfia dos sanguessugas. As empresas receberam depósitos de Vedoin, respectivamente, nos valores de R$ 70 mil e R$ 60 mil em dezembro de 2002.
O chefe dos sanguessugas diz que depositou o dinheiro a pedido do empresário.

Operação suspeita
Pela conta da Datamicro passaram R$ 51,4 milhões, de 31 de agosto de 2001 a 27 de outubro de 2003. Do total, cerca de R$ 30 milhões foram movimentados em 2003.
O Coaf comunicou a operação suspeita ao Ministério Público Federal em Minas Gerais em março de 2004.
No endereço indicado como sendo o da Datamicro funciona outra empresa de informática em Governador Valadares.
Conforme o Coaf, a movimentação "atípica" de dinheiro na Império Representações foi realizada pelo empresário Genuíno Rocha Netto, de 19 de novembro de 2001 a 27 de novembro de 2003, e ultrapassa o valor de R$ 150 milhões.
A empresa foi aberta em nome de um laranja que aparece como dono de 95% das ações. Netto não aparece como sócio, mas movimentava dinheiro na Império, segundo o Coaf.
Movimentações dessa empresa ocorreram nas agências do Banco do Brasil em Ipatinga, Cacoal (RO), Cuiabá (MT), Goiânia (GO) e Morretes (PR), além da agência do ABN Amro e da Caixa Econômica Federal em Ipatinga.
A suposta participação de Abel Pereira no esquema dos sanguessugas é investigada pela PF. O delegado Diógenes Curado Filho disse que ainda espera documentos, a ser enviados por bancos, sobre a movimentação bancária de Abel e das empresas. Curado preside as investigações no inquérito sobre o dossiê contra tucanos.
Expedito Veloso, o ex-funcionário da campanha de reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva, que, segundo a PF, negociou a compra do dossiê, disse em depoimento que o material contra tucanos oferecido por Vedoin consistia justamente das acusações contra Abel.
Seria uma tentativa de afetar a campanha do ex-ministro da Saúde José Serra (PSDB) ao governo de São Paulo, sugerindo que o tucano teria beneficiado sanguessugas. Veloso disse à CPI dos Sanguessugas que a Datamicro e a Império foram usadas para saldar dívida de campanha de Serra. Em resposta, o governador eleito chamou Veloso de delinqüente.


Texto Anterior: Imprensa: Reportagem da Folha ganha o Prêmio Embratel
Próximo Texto: Outro lado: Empresário nega propina para liberar verbas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.