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Bird afirma que redução da pobreza no Brasil é medíocre
De 1985 a 2004, número de pobres no país cai de 33% para 29% da população
Apesar da importância do controle da inflação e a ampliação dos programas sociais, o estudo indica que os resultados são modestos
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Relatório publicado nesta semana pelo Banco Mundial qualifica de "medíocre" e "desapontador" o desempenho brasileiro na redução da pobreza
ao longo de um período que
coincide, embora não seja essa
a preocupação dos autores,
com a redemocratização do
país.
Apesar de ratificar a importância de medidas festejadas no
discurso político nacional, como o controle da inflação, a ampliação dos programas sociais
e, mais recentemente, o Bolsa
Família, o estudo do Bird indica
que, quando se observam prazos maiores, os resultados são
bem mais modestos do que parecem de imediato.
De 1985, quando acabou a ditadura militar, até 2004, o percentual de pobres na população
-aqueles que vivem em domicílios onde a renda é insuficiente para uma cesta básica por
pessoa- caiu "meros quatro
pontos percentuais", de 33%
para 29%.
Medida por outro critério, a
taxa média de pobreza nos países em desenvolvimento foi reduzida, no mesmo período, de
33% para 18%. Por essa metodologia, que contabiliza as pessoas com renda inferior a US$ 1
por dia, os pobres passaram de
8% para 7% dos brasileiros.
O que interessa, no caso, não
é o conceito estatístico adotado, mas a evidência de que a pobreza cai mais devagar no Brasil do que no resto do mundo
pobre e remediado. "É preciso
reconhecer que a redução da
pobreza no Brasil entre 1985 e
2004 é medíocre, no máximo",
escrevem os pesquisadores
Francisco Ferreira, Phillippe
Leite e Martin Ravallion.
O trabalho deixa a mera coleta de dados e ingressa, propositalmente ou não, em um debate
político ao buscar as causas dos
resultados insatisfatórios do
país, descrito como "grande, de
baixo crescimento econômico,
altamente desigual e de renda
média". Como se antevê, a acusada é a economia claudicante
-e o baixo proveito que os pobres conseguem tirar dela.
"Redução da Pobreza sem
Crescimento Econômico?",
pergunta o título do estudo,
que, é evidente, não aposta em
uma resposta afirmativa. A
provocação contrasta com o
discurso reeleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
segundo o qual o atual desempenho do Produto Interno Bruto, embora muito abaixo dos níveis dos anos 70, seria mais favorável aos pobres.
Não se trata, porém, de visões opostas. Uma das principais referências do pensamento econômico liberal, o Banco
Mundial é um entusiasta e financiador das políticas adotadas pelos governos tucano e petista, do Real ao Bolsa Família
-mas não acredita que elas sejam suficientes.
O texto divide o período analisado em duas partes. A primeira, que vai até 1993, "corresponde ao clássico estereótipo do populismo macroeconômico da América Latina, com
persistentes déficits orçamentários, alta inflação, distorções
comerciais por todos os lados,
extensiva presença de empresas estatais em setores produtivos e, ironicamente, um ineficiente e mal direcionado sistema de seguridade social que
não atingia os pobres".
A partir de 1994, ano de lançamento do Plano Real, começa
"o que os críticos caracterizam
como "reforma neoliberal'".
Mas, admitem os autores, com
um tempero latino: além de
controle da inflação, abertura
comercial, ajuste das contas do
governo e privatização, houve
aumentos dos gastos com previdência, saúde e assistência
social - "que não figuravam
entre as recomendações-padrão do assim chamado Consenso de Washington".
Na segunda etapa, houve
queda lenta da pobreza e da desigualdade social, mas a economia, como na primeira etapa,
seguiu abaixo do ritmo mundial. O estudo aponta a melhora
dos gastos sociais e estima, com
a cautela necessária em cálculos desse tipo, que sem eles a taxa de pobreza teria subido para
34% em 2004. Mas, conclui,
efeitos mais duradouros dependem do crescimento.
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