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Stephanes vê preconceito em plano de direitos humanos
Ministro da Agricultura afirma que decreto levará "insegurança jurídica" ao campo
Além de Stephanes, Jobim, comandantes do Exército e da Aeronáutica, entidade de ruralistas e bispos católicos já criticaram o programa
Elza Fiuza/ABr
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Reinhold Stephanes, ministro da Agricultura, durante evento |
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro da Agricultura,
Reinhold Stephanes, engrossou o coro das críticas surgidas
dentro do próprio governo ao
decreto que institui o Programa Nacional dos Direitos Humanos. De acordo com o ministro, o decreto vai trazer instabilidade jurídica para o campo e
revela preconceito.
A primeira crise no governo
devido ao programa surgiu durante o Natal, quando os comandantes do Exército, general Enzo Martins Peri, e da Aeronáutica, brigadeiro Juniti
Saito, ameaçaram pedir demissão. O objetivo era pressionar
para que o presidente Lula revogue trechos do texto que, entre outras coisas, cria uma comissão da verdade para apurar
torturas e desaparecimentos
no regime militar (1964-1985).
Em reunião à época com o
ministro da Defesa, Nelson Jobim, os dois classificaram o documento como "excessivamente insultuoso, agressivo e revanchista" às Forças Armadas.
Jobim alegou que não tinha sido consultado sobre os termos,
que não concordava com seu
teor e que iria falar com Lula.
O presidente enfrenta dois
polos distintos: os militares,
Jobim e Stephanes, que querem alterações e alegaram desconhecer o decreto, e o ministro da Justiça, Tarso Genro, e o
ministro de Direitos Humanos,
Paulo Vannuchi, que defendem
a iniciativa. Fora do governo, a
CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) e
bispos da Igreja Católica também criticam o texto.
Apesar de ter a expressão
"Direitos Humanos" no nome,
o decreto estabelece a elaboração de novas leis sobre diversos
assuntos, como: reformular a
lei de planos de saúde, taxar
grandes fortunas e até mudar
regras para se cumprir mandados de reintegração de posse.
"Sinto que a Agricultura não
esteja participando. Isso demonstra preconceito contra a
agricultura comercial. O decreto causa insegurança jurídica",
afirmou o ministro.
Ele criticou a ênfase dada à
agricultura familiar. "O que
existe são pequenos produtores, médios produtores e grandes produtores. Não se pode ignorar que existe uma classe
média crescendo no campo."
O secretário-executivo do
Ministério da Agricultura, José
Gerardo Fontelles, no entanto,
assina o decreto. Apesar disso,
o ministério informou que suas
propostas não foram ouvidas
nem levadas em consideração e
que o texto já chegou pronto e
assinado pelos outros ministros. Entre os 21 ministérios citados como membros do comitê de acompanhamento do plano, não consta o da Agricultura.
Após a divulgação das declarações de Stephanes, o ministro Guilherme Cassel (Desenvolvimento Agrário) criticou o
colega e defendeu o plano. Disse que as reclamações de Stephanes não fazem sentido. "Até
onde estou informado, todos os
ministérios participaram."
Anteontem a presidente da
CNA, senadora Kátia Abreu
(DEM-TO), já havia criticado o
programa, principalmente
quanto à exigência de audiência pública antes do processo
de desocupação de terras. "Vou
sentar e mediar com o crime?"
O decreto também recebeu
críticas de bispos, que reagiram
a artigos que propõem ações
para apoiar "projeto de lei que
descriminaliza o aborto", "mecanismos para impedir a ostentação de símbolos religiosos em
estabelecimentos públicos",
"união civil entre pessoas do
mesmo sexo" e "direito de adoção por casais homoafetivos".
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