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São Paulo, domingo, 09 de fevereiro de 2003

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INVESTIGAÇÃO

Operação Macuco apura lavagem de dinheiro em agência do Banestado

Polícia Federal vai aos EUA apurar caso de contas CC-5

CHICO SIQUEIRA
FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA

O governo brasileiro vai enviar uma força-tarefa aos EUA para investigar o esquema de lavagem de dinheiro por meio da agência de Nova York do Banestado (Banco do Estado do Paraná, privatizado em outubro de 2000).
Formada por dois delegados e dois peritos da Polícia Federal, a equipe embarca na sexta-feira, dia 14, para Nova York e não tem data de retorno. Junto com o FBI (polícia federal dos EUA), ela dará continuidade à Operação Macuco, investigação que apurou evasão ilícita de US$ 30 bilhões, entre 1996 e 1999, por meio das chamadas contas CC-5 (de pessoas não residentes no país).
Um dos delegados é José Francisco Castilho Neto, reconduzido às investigações, após ser afastado em maio de 2002. Castilho Neto iniciou a Operação Macuco em 2001, em Foz do Iguaçu.
Depois de passar um mês nos EUA, em março de 2002 montou um dossiê, que virou peça de inquérito policial que tramita em segredo de Justiça.

Caminho
O dossiê, com 1.200 páginas, contém documentos bancários de 20 mil operações e remessas que teriam movimentado US$ 30 bilhões por meio do Banestado de Nova York. O dinheiro chegou ao Banestado em nome de doleiros e laranjas por meio das chamadas contas CC-5 e de lá teria sido pulverizado para outros bancos dos EUA e paraísos fiscais na Europa e em ilhas do Caribe.
Dos US$ 30 bilhões, a investigação da PF e do FBI rastreou o destino de US$ 15 bilhões, remetidos ao Banestado entre 1996 e 1997.
A PF estima que outros US$ 15 bilhões também tenham sido remetidos pelo mesmo esquema de lavagem entre 98 e 99, ano em que a agência do Banestado de Nova York foi fechada. As investigações foram paralisadas pelo governo em maio de 2002.
A Agência Folha apurou que, na avaliação da PF, a divulgação do esquema pela imprensa e a consequente paralisação das investigações por oito meses nos EUA podem ter favorecido os responsáveis pela evasão porque, dificilmente, algum deles deixaria o dinheiro nas contas sabendo do risco de bloqueio pelo governo ou de rastreamento pela polícia.
No entanto, para a PF, a continuidade das investigações poderá fazer com que a polícia brasileira chegue aos responsáveis pelos desvios e possa incriminá-los.

Procuradores
A divulgação de partes do laudo feito pela Polícia Federal e guardado sob sigilo provocou reações de procuradores que não têm acesso aos documentos e só ficam sabendo dos envolvidos no esquema por meio da imprensa.
Dois procuradores da República de Foz do Iguaçu (PR), onde está guardado o laudo, Alexandre Porciúncula e Robson Martins, estariam colocando obstáculos para colaborar com procuradores de outros Estados, que têm pedido, formal e informalmente, a íntegra do relatório da PF. Ambos não comentam as críticas.
A intenção dos procuradores é saber se os brasileiros que remeteram o dinheiro para o exterior estão sendo acusados de corrupção, narcotráfico e outros crimes em seus Estados.
O procurador Pedro Taques, de Cuiabá, teve de recorrer à Justiça Federal para tentar obter uma cópia do relatório. Não havia obtido resposta até sexta à tarde.
Taques e o procurador de Brasília Guilherme Schelb querem investigar as remessas do empresário João Arcanjo Ribeiro, o "comendador", que está foragido da Justiça e é citado no laudo da Polícia Federal, mas até agora não conseguiram uma cópia do relatório que está em Foz.


Colaboraram a Agência Folha e a Reportagem Local


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